terça-feira, 17 de setembro de 2019

isad g

Uses & Misuses of ISAD(G) by Documentary Custody Institutions André Porto Ancona Lopez

The International Standard Archival Description, é a Descrição Padrão de Arquivo Internacional, mais comumente conhecida por sua sigla, ISAD (G) é o resultado da tentativa do Conselho Internacional de Arquivos (ICA) de estabelecer um parâmetro mundial de descrição de arquivo. Desde o anúncio de sua versão preliminar em 1988, em Ottawa, até sua popularização atual, a diretriz tem sido usada de maneira cada vez mais flexível. Também foi utilizado por gerentes e especialistas em diferentes tipos de instituições de custódia de documentos, indo além dos limites dos arquivos. Na primeira década, o ISAD (G) foi pouco divulgado, pouco conhecido pela comunidade de arquivos não especializados e pouco utilizado pelos países fora dos do grupo de trabalho inicial.

Um movimento mais significativo em direção à expansão do alcance da ISAD (G) pode ser esquematicamente situado a partir de 2003, com discussões mais sistemáticas sobre a adoção de diretrizes específicas em diferentes países e a respectiva elaboração de documentos de natureza nacional e regional. A discussão dos limites práticos e teóricos de um padrão que pretende ser internacional quase coincidiu com a publicação da segunda edição da diretriz. Esse movimento, cujos principais atores estavam na Espanha, praticamente inviabiliza a ideia de redigir uma terceira edição do documento. O que foi criado como Padrão Internacional começou a ser nacionalizado.
Em 2006, o Brasil aprova e publica sua diretriz específica, a Norma Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE) (BRASIL, 2006). No final do mesmo ano, a Catalunha publica seus padrões regionais: a Norma de Descrição Arquivística da Catalunha - NODAC (BERNAL, 2006) - apesar de não ter incluído uma versão catalã do ISAD (G) na ICA; O NODAC é traduzido para espanhol e inglês no ano seguinte. Não são diretrizes concorrentes ou contraditórias, mas complementares à ISAD (G), com o objetivo de melhorar a descrição de acordo com as tradições, práticas e especificidades nacionais e regionais de arquivo. A existência de um padrão internacional que descreva documentos de arquivo é convertida em uma ferramenta de potencial interesse para museus, centros de documentação e até bibliotecas, responsáveis por lidar com documentos de natureza não arquivos.

A tentativa de usar o ISAD (G) em materiais sem vínculo arquivístico pode resolver alguns problemas específicos. No entanto, representará um grande esforço que, necessariamente, não se beneficiará da principal qualidade da diretriz; que será subutilizado e certamente não atenderá totalmente às demandas informacionais dos custodiantes de documentos não arquivístico.
As atividades de arquivo são apresentadas como uma rede diversificada, na qual cada atividade tem características específicas e está interconectada com as demais. Miller (1990) reafirma a dimensão que as atividades de descrição têm no processo de arquivamento, com sua ação restrita à parte final de um sistema complexo. Não se trata aqui de discutir se esse esquema é pertinente ou não para melhor entender as operações de arquivamento. Também não vale a pena mencionar a diferença clássica entre registros e arquivos. É importante perceber que o escopo da ISAD (G) é bastante específico e está vinculado a uma série de atividades anteriores, também específicas aos arquivos.
Descrição é a atividade que tem maior visibilidade, pois representa o principal ponto de contato de não especialistas com arquivos. Isso leva a comparações com outras áreas, responsáveis pela custódia de documentos semelhantes, nas quais ele ocupa locus sistêmico semelhante, mas não equivalente ao dos arquivos. O fato de a parte inferior do esquema de Miller - do item "armazenamento / preservação" - ser vista como representativa equivalente por outros tipos de instituições custodiantes de documentos não pode implicar uma transposição direta de instrumentos e procedimentos.

ISAD (G) está focado em atividades de descrição; além de representar um escopo de ação limitado e específico, não abrange:
Organização física e lógica de coleções e / ou instrumento de gestão para documentos atuais e intermediários: por se concentrar na descrição, o ISAD (G) não deve ser entendido como uma ferramenta para classificação e/ou arquivo de atividades de controle, apesar de referenciar tais dados (LOPEZ 2005); para essas atividades, existem ferramentas muito mais eficazes e apropriadas (que também podem ser desenvolvidas); a natureza dos dados necessários para as atividades de gerenciamento é totalmente diferente daquela exigida para descrição e para arquivos permanentes.

Descrição de coleções (mesmo que por arquivos) e / ou outros conjuntos de documentos não arquivados: uma das características essenciais dos documentos arquivados é o vínculo arquivístico, que será traduzido no esquema hierárquico de classificação. Também se reflete na estrutura multinível da diretriz, em materiais de arquivo - incluindo coleções - não possuem vínculo de arquivo, apesar de serem subdivididos. Eles não podem ser alocados nos níveis mais altos da diretriz (fonds, subfonds, séries e subséries); o uso da diretriz nesses casos desativa os campos para vínculo arquivístico e maximiza a descrição do conteúdo apenas dos itens documentais. No Brasil, a descrição exaustiva dos itens tem sido frequente onde quer que haja uma abundância de práticas de biblioteconomia nos arquivos. Aqui, as práticas de biblioteconomia da descrição por conteúdo são muito fortes, portanto problemáticas para o universo dos arquivos. Os documentos que não são contextualizados ou organizados - em séries, classes, subconjuntos (grupos) e documentos - 5 são, no entanto, frequentemente descritos, não compatíveis com a diretriz ou os princípios teóricos da Ciência do Arquivo.

Outro problema é que a diretriz carece de atualização e envelhece naturalmente. Criado no final dos anos 80 e concluído há mais de 10 anos, o ISAD (G) está desatualizado, por exemplo, no que diz respeito a documentos digitais, com base em um modelo de descrição de referência bem abaixo das capacidades atuais das tecnologias de informação e comunicação (TICs). Portanto, existe uma lacuna entre a proposta conceitual da diretriz e sua implantação, que é cada vez mais flexível, tanto para atender às próprias demandas de algumas tradições de arquivo, quanto para que outros tipos de documentos possam ser descritos com o ISAD (G). A adoção de uma maior flexibilidade para atrair mais usuários, em última análise, permite a descrição de grupos não arquivados, como as coleções contempladas pela NOBRADE. Ao flexibilizar o conceito de série, entendido como uma simples subdivisão por tópico, portanto, sem vínculo arquivístico, a Diretriz Brasileira (BRASIL, 2006, p. 16) possibilita a simplificação do produto final. Na prática, torna-se um mero cartão de descrição de itens documentais por tópico. Essa possibilidade leva à percepção incorreta de que certos tratamentos baseados em conteúdo seriam práticas comuns e comuns para arquivos, transformando a exceção em ocorrência hegemônica. Os limites da descrição e muitas vezes os próprios arquivos são assim extrapolados.

Uma das principais diferenças entre a descrição arquivística e a dos itens é o aspecto do vínculo arquivístico. Com as novas TICs, os detalhes do conteúdo documental são cada vez menos necessários, pois é possível fornecer acesso a cópias completas dos documentos. A descrição do arquivo deve ser primeiramente orientada a descrever o plano de classificação, tornando o vínculo de arquivo do fond inteligível para fornecer acesso aos documentos. É importante perceber que, no universo dos arquivos, é possível encontrar informações idênticas do ponto de vista do conteúdo com diferentes vínculos de propriedade e arquivo. Podem ser novos documentos gerados a partir de reproduções de conteúdo, como no caso das fotografias (LOPEZ, 2003, p. 78-79; LOPEZ2009, p. 264-265); bem como um novo significado atribuído e consequente mudança de uso, como no caso de algumas obras de arte (LOPEZ, 2000, p. 146 e ss.).
A agenda é vasta, complexa e improvável de ter uma conclusão consensual entre as mais diferentes entidades e instituições dedicadas à guarda de documentos. O fato concreto é que a crescente demanda por modelos prontos para serem aplicados hoje está impulsionando a influência da ISAD (G) além do mundo dos arquivos. Além do fato de que os documentos e a atividade de descrição estão sendo drasticamente alterados pelas novas TICs, a uma velocidade muito mais rápida do que a capacidade da ICA de revisar e expandir o escopo dessa forma de descrição de documentos que existe há um quarto de século.
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Um comentário:

  1. A partir das reflexões do autor sobre a ISAD(G) – General International Standard Archival Description, quando o autor menciona que a "crescente demanda por modelos prontos para serem aplicados hoje está impulsionando a influência da ISAD (G) além do mundo dos arquivos", como podemos pensar em melhorar e potencializar essa expansão de maneira consolidada?

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