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quinta-feira, 26 de junho de 2014

Arquivo Fílmico e Sonoro Australiano

Dois trabalhos de Ray Edmondson 

por Luiz Antonio Santana da Silva
(mestre em CI e pesquisador do GPAF)

Copiado de Flickr: NFSA
Ray Edmondson defendeu, em dezembro de 2011, sua tese doutoral intitulada “National Film and Sound Archive: the quest for identity: factors shaping the uneven development of a cultural institution” na Universidade de Camberra, Austrália, na qual apresenta um panorama histórico da constituição do Arquivo Nacional Fílmico e Sonoro australiano. Edmondson expõe por mais de 400 páginas sua experiência envolvendo o universo dos arquivos sonoros e audiovisuais, além de discorrer sobre a prática, a teoria, a solução, o problema e inquietações do universo desse gênero documental, que tem sido frequentemente discutido por profissionais da informação. A abordagem aponta como nuances do tema as divergências existentes na discussão de documentos sonoros e audiovisuais como documentos de arquivo quanto: à busca por um lugar desses gêneros documentais como documentos de cunho arquivístico, nas instituições culturais já existentes no país no início do século XX; à modelagem dos profissionais para a nova instituição; ao próprio conceito desses documentos audiovisuais; além dos atritos inerentes que resultaram da criação do NFSA, como instituição independente, a partir de 1935. 

Fruto desse trabalho, que vai expandir e auxiliar os pesquisadores da área, foi o artigo recém-publicado, intitulado “FIAF and the antipodes: the long path to the National Film and Sound Archive of Australia (NFSA)”. Nele o autor aborda com mais profundidade como se deram as discussões para que o NFSA fosse criado e atritos pessoais que teve com diretores australianos de unidades de informação, por manter seu posicionamento inabalável, de criar um arquivo de som e filme, fiel aos preceitos arquivísticos. 

                                    Links:



sábado, 12 de abril de 2014

A importância do contexto...

Foto by Niro
A compreensão dessa imagem requer alguns dados de contexto, como, por exemplo, saber quem é Nícolas Behr, conhecer algo sobre Brasília, entender algumas transformações que ocorreram na avenida comercial W3 (sabendo o que significa/ou a W3 no imaginário brasiliense).

Tais informações contextuais são fundamentais para a compreensão da informação acima, porém insuficientes para entender o documento. Sem o documento estaríamos falando somente da poesia-mosaico de Behr. O documento é o registro fotográfico feito por Niraldo Nascimento, o Niro, que assim o contextualizou em depoimento no Facebook de sua pesquisa de doutorado:
O Ver e o Olhar na W3
Sempre fui apaixonado pela fotografia. Na faculdade, chegava uma hora antes para folhear livros e revistas. Nunca imaginei que todas aquelas imagens foram assimiladas e reorganizadas pelo meu inconsciente. Eu começava a aprender a olhar, mais do que ver. Formas, cores, cheiros, superfícies e tantas outras sensações foram classificadas em uma ordem desconhecida em meu inconsciente.
Revendo algumas fotos que fiz, observo signos não de um, mas um mosaico dessa autopoiese recompilada. Depois de minha viagem 5 minutos ao continente velho (durou 30 dias mas, foi uma viagem cartão-postal) percebi que minha imagética era linear. Fui fazer um curso, não de fotografia, mas de "olhar" com Fayga Ostrower. A técnica fotográfica linear eu dominei sozinho.
Ainda assim, meu racionalismo de então bloqueava o fluxo tentava escoar do meu inconsciente. Na maioria das minhas fotos está presente o VER e não o OLHAR. Então apareceu Ana K. e me apresentou a W3. O que deveria ser um corredor cultural em Brasília, ainda hoje é um corredor de oficinas, peças e acessórios para automóveis.
Ana K. me alertou sobre totens com mosaicos montados na W3. Eu os tinha visto várias vezes, mas nunca olhado. Prometi a ela um percurso fotográfico pela avenida, não cumprido. Artistas plásticos, como Ana K. ou minha amiga Andrea Rosenfeld parecem que têm o OLHAR no DNA. O tempo passou e o Governo do Distrito Federal (GDF) derrubou todos os totens. A princípio fiquei arrasado, não podia fazer mais nada.
Pouco tempo depois, vi que o GDF tinha razão. Os totens, com poesias em mosaico, atrapalhavam a mobilidade das pessoas, especialmente deficientes. Os poetas também compreenderam isso e refizeram e fizeram novos mosaicos no chão e nas paredes. Aguçado pelo desafio de Ana K., finalmente olhei e fotografei alguns dos mosaicos. A foto foi escrita em "brasilianês" e, possivelmente, não compreenderão. São poucas Suzanas na W3.
  Niraldo Nascimento, 30/03/2014

A importância do contexto é fundamental para entender o documento: não se trata do poema-moisaico de Behr e nem da foto dele feita por Niro. É tudo isso e mais um pouco. Esse "pouco", relatado no depoimento do fotógrafo é que dá significado pleno ao documento, que é, nesse caso, a reprodução fotográfica. Sem esse "pouco" perde-se completamente o significado global. 

Outro nível de contextualização necessária está ligado à compreensão dos signos locais de Brasília, mas isso vem em segundo lugar, para permitir entender a imagem, apenas (apenas?) ...

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Depoimento de Fernando Palácios


Esta é uma série de posts sobre Fotografia e Storytelling, fruto de conversas e discussões com Bruno Scartozzoni, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, que oferecem o curso sobre essa área na Escola Superior de Marketing de São Paulo - ESPM. 

  • Aceda ao primeiro post da série aqui;
  • Aceda ao segundo port da série aqui

O DIGIFOTOWEB agradece a Fernando Palácios por sua contribuição, e sua disponibilidade, em viagem (não poderia deixar de ser), ao nos conceder essas considerações e reflexões, gravado em vídeo em Singapura, em abril de 2013.

Conhecido como "W'onderer Writer e a Volta ao mundo", nas Redes Sociais, Palácios aponta e levanta questões muito pertinentes ao universo da fotografia e suas correlações com o Storytelling, que merecem ser discutidas!

Vídeo de 9 minutos, imperdível! Clique aqui para assistir, ou no link abaixo!


FERNANDO PALACIOS é um dos fundadores do primeiro escritório de Storytelling no Brasil, a Storytellers Brand 'n' Fiction que tem como principais cases: a peça de Teatro "Filhas do Dodô" para J. Macêdo e "O Mistério das Cidades Perdidas" para Mini-Schin que superou 2 milhões de leitores na internet. Criou o primeiro curso universitário de Transmídia Storytelling ministrado na ESPM. Responsável pelo storieswelike.blogspot.com, primeiro blog sobre o assunto. Como planner participou de projetos como Nokia Trends, Camarote da Brahma, Skol Beats e o lançamento do portfólio de cervejas premium da AMBEV. É formado na USP. Em seu próximo projeto irá narrar sua busca pelas Maravilhas da Humanidade enquanto escreve uma obra de ficção a partir de um aparelho celular.

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Arquivo Público digitaliza acervo de imagens do Interventor Federal João Punaro Bley

João Punaro Bley foi interventor federal do Espírito Santo dos anos de 1930 a 1943. Jória Motta Scolforo, do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, informa que um acervo de 93 imagens referentes ao seu governo foi digitalizado pela instituição. Maiores informações podem ser obtidas aqui.

Disponibilizamos abaixo algumas fotos do mencionado conjunto, obtidas diretamente com o Arquivo Público. Os materiais estão disponíveis para consulta na sede do APEES, localizada na Rua 7 de Setembro, no Centro de Vitória; home page: http://www.ape.es.gov.br/index2.htm.






domingo, 9 de junho de 2013

Entrevista com Bruno Scartozzoni II

Foto: Xícara de porcelana japonesa finíssima, quase centenária. Quando o fundo é exposto a uma fonte de luz, "revela" diferentes fotografias. Coleção da designer de jóias e escultora Mara Nunes, fotografada pela arquiteta Silvana Andrade.
Esta é uma série de posts sobre Fotografia e Storytelling, fruto de conversas e discussões com Bruno Scartozzoni, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, que oferecem o curso sobre essa área na Escola Superior de Marketing de São Paulo - ESPM. 

Veja quem é Bruno Scartozzoni no primeiro post da série clicando aqui.

Benvindos ao DigifotoWeb e grato pela significativa e importante contribuição para esse assunto!!!


1) Obrigado, Bruno, muito interessante a primeira parte da entrevista. O exemplo do conto do Hemingway é instigante. A primeira questão foi justamente para discutir esse elemento ficcional. Pelo que tenho observado, o storytelling vem sendo utilizado em várias áreas, inclusive nas organizações. Lendo o livro livro "Storytelling in Organizations : Why Storytelling Is Transforming 21st Century Organizations and Management" me surpreendeu ver, Laurence Prusak, um dos gurus da Gestão do Conhecimento, abordando o assunto.
Pois é, isso tem acontecido. Mas é preciso separar o joio do trigo. Há quem entenda o conceito e realmente tente aplicá-lo às suas respectivas áreas, como também há quem não entenda o conceito e entre nessa pelo modismo, porque "pega bem" usar uma buzz word. Não sei em qual caso está o livro que você citou, mas já li vários artigos por aí tentando dar uma "acochambrada" nas coisas para forçar com que elas caibam em algo que já é feito de um jeito, e nem se tem pretensão de mudar. Por exemplo, algumas pessoas dizem que no storytelling para marcas, o personagem é o produto. Isso não faz o menor sentido, a menos que o produto pense, haja e sinta como um ser humano, como o Variguinho (bom exemplo dos anos 90) ou o Dollynho (péssimo exemplo atual). Mas obviamente não é disso que esses artigos estão falando. Eles só querem validar algo que já existe com um conceito da moda.
2) Pruzak escreveu uma frase que me chamou a atenção: "Stories about our history". A rigor, a diferença que você estabelece entre "story" e "history" é perfeita, mas se pensarmos na frase de Prusak, o que temos realmente são histórias sobre a nossa história e essas possuem uma dinamicidade à luz de novos fatos. A Guerra do Paraguai, por exemplo, vem sendo recontada em vários livros, à medida que os autores e pesquisadores têm acesso a novos documentos.
Então, aí a gente começa a entrar em um terreno bastante conceitual. Mas OK, peguemos a Guerra do Paraguai como exemplo. A "history" seria a sequência de fatos, e essa eu sei que tem sofrido muitas contestações. Por acaso conheci alguns paraguaios recentemente e conversamos bastante sobre isso. A visão brasileira diz que o Brasil sofreu uma pressão da Inglaterra para atacar. A visão paraguaia diz, em resumo, que o Solano era expansionista mesmo e que, considerando a época e o contexto, a guerra foi um resultado de conflito de forças da região, nada tendo a ver com a Inglaterra.
Me parece que de uns tempos para cá vários autores brasileiros estão apontando essa segunda visão como mais correta, historicamente falando, e a primeira teria um forte componente político dentro de uma crença de que nossas mazelas são resultado das ações imperialistas etc. Mas, até aqui, estamos falando de "history".
"History" vira "story" quando esses fatos são vistos pelo ponto de vista de um ou mais personagens, e quando se toma distância da frieza dos fatos e se adiciona emoção. Se for possível recontar a Guerra do Paraguai com esse tipo de enquadramento, aí estamos falando de storytelling.
Pegando a 2ª Guerra Mundial para fechar o raciocínio, podemos contá-la de dois jeitos:
- No ano tal a Alemanha elegeu um novo presidente, Adolf Hitler, que tinha um projeto expansionista para o país. Pouco tempo depois a Alemanha começou a invadir e anexar países vizinhos. etc.
- Era uma vez um cara chamado Adolf Hitler. Um artista de não muito sucesso que se envolveu em política e, depois de ser preso, acabou seduzindo o povo alemão com seu discurso radical. Pouco tempos depois ele torna presidente da Alemanha e começa a construir um aparato militar que, mais para frente, daria início a anexações e conquistas dos países vizinhos. etc.
A primeira é HISTORY, a segunda é STORY.
3) Em termos de imagem, sabemos muito bem que o "Grito do Ipiranga" não foi nada parecido com o que Pedro Américo retratou em sua pintura de 1888; de como Stalin eliminou Trotsky das fotografias; até manipulações mais recentes, como da British Petroleum, tema de um post no nosso blog.
São ótimos exemplos de manipulação da informação. Mas o que essas fotos mudam são os fatos históricos (history). A história (story) está em quem ordenou a mudança, porque ordenou a mudança, qual era o objetivo da pessoa, quais foram as consequências, o que foi transformado por causa disso, e como o conflito se resolveu.
4) O que me deixou em dúvida, perante à linha acadêmica do post, é a conclusão de que storytelling se refere a "... ficção, conto, literatura etc.". Vou dar um exemplo pessoal, partindo do princípio de que narrativa e storytelling têm o mesmo significado para alguns autores. Em minha tese pretendo trabalhar com imagens e narrativas de ferroviários, familiares e descendentes. Nesse caso, estaria cometendo um erro ao utilizar o termo "storytelling" ou poderíamos ampliá-lo de modo que pudesse abarcar essas narrativas como história, no sentido de depoimentos reais?
Depoimentos reais sobre histórias de vida são "story". Depoimentos reais sobre fatos são "history". Então depende do tipo de depoimento que você vai tomar.
"A estação de trem foi construída em 1967" - history
"Eu cheguei aqui em 1967, quando a estação de trem tinha acabado de inaugurar, e lembro que era bonita sabe? Fiquei de boca aberta ao vê-la pela primeira vez" - story
O primeiro geralmente é o depoimento técnico. O press release que a empresa manda. Sem emoção. Sem envolvimento.
O segundo é um depoimento que parte de um ponto de vista. Emocional. Potencialmente envolvente. Portanto, com maiores chances de conquistar a atenção das pessoas.
Essa pergunta vale também para a nova timeline do Facebook. Na época do lançamento o Mark disse que o Facebook agora tinha storytelling. E eu digo que depende. O espaço está lá, mas o que você vai escrever nesse espaço? Isso muda tudo.

No próximo post, depoimento inédito em vídeo de Fernando Palácios, o reconhecido "W'nderer Writer e a Volta ao Mundo", gravado em Singapura, exclusivo para o DIGIFOTOWEB. Acesso aqui.

sábado, 8 de junho de 2013

Entrevista com Bruno Scartozzoni I


Esta é uma série de posts sobre Fotografia e Storytelling, fruto de conversas e discussões com Bruno Scartozzoni, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, que oferecem o curso sobre essa área na Escola Superior de Marketing de São Paulo - ESPM.

Bruno Scartozzoni é um profissional multi-disciplinar de planejamento e estratégia de comunicação com mais de 10 anos de experiência, atendendo clientes como Nokia, Nestlé, Sony, AmBev e Sebrae, em passagens pelo Banco de Eventos, Aktuell e Talk Interactive. Graduado e pós-graduado em Administração Pública e Administração de Empresas, em ambos os casos pela FGV. Foi um dos fundadores da Storytellers, primeira agência brasileira especializada em criar histórias para marcas. Hoje é sócio e diretor de planejamento da Ativa Esporte, professor de storytelling e transmídia da ESPM SP e da ECA-USP, colaborador do Update or Die e editor do blog Caldinas.

Benvindos ao DigifotoWeb e grato pela significativa e importante contribuição para esse assunto!!!

1)  No ambiente acadêmico, em geral (com exceções para a área de Comunicação) costuma-se utilizar mais o termo “narrativa” do que “storytelling”. Há diferença entre os termos? Pode-se afirmar que a narrativa é um tipo de storytelling?
Essa pode ser uma pergunta bastante capciosa, então tentarei responder da forma mais honesta possível. Palavras como "narrativa", "storytelling" e "história" vem sendo utilizadas à exaustão nos últimos tempos, independentemente da área. Inevitavelmente isso faz com que seus significados comecem a se perder e, na prática, as pessoas começam a utilizá-la para qualquer coisa. Sendo assim, essa resposta depende muito do se entende desses conceitos.
Storytelling, traduzido para português, seria contar histórias, ou contação de histórias. Mas, dentro da língua inglesa, é preciso entender que Story e History são coisas diferentes. "Story" é basicamente um padrão de estrutura narrativa, na essência um personagem superando obstáculos para alcançar um objetivo. Essa estrutura geralmente está ligada à ficção, mas nem sempre, afinal existem documentários e "stories" baseados em fatos reais. Já "History" corresponde aos fatos como realmente aconteceram, o mais próximo possível da realidade. "History" de Roma. "History" da vida privada etc. Em português uma palavra só, "história", abraça esses dois significados. Mas quando estamos falando de storytelling, o significado é o que corresponde à "story".
Continuando o raciocínio, quando se busca por narrativa nos dicionários da língua portuguesa um dos significados é justamente essa história do storytelling, no sentido de ficção, conto, literatura etc. Então, por esse ponto de vista, eu diria que narrativa e storytelling são basicamente a mesma coisa.
 2) Sua orientação é do uso do storytelling para a publicidade. Contudo, como você vê a utilização do storytelling em outras áreas de pesquisa, como por exemplo, a chamada “história oficial” a partir de imagens?
Certa vez Ernest Hemingway escreveu um conto usando apenas 6 palavras. For sale: Baby shoes, never worn. Em uma tradução livre para português seria "Vende-se: sapatos de bebê, sem uso". Mas onde está o personagem? E o conflito? E cadê o climax? O ponto é que as vezes você não precisa explicitar todos esses elementos. Um conto como esse faz com que o leitor imagine toda a história. Tudo que aconteceu antes e depois. Os personagens envolvidos. As emoções que cercaram aqueles fatos. Na prática, a história está na cabeça de quem lê. Aliás, mesmo em um livro de 1.000 páginas ou em um filmes de 4 horas há lacunas que serão preenchidas por quem lê ou assiste, não é mesmo?
Então, se é possível escrever um conto com 6 palavras e deixar que o leitor imagine o resto, também é perfeitamente possível contar uma história por meio de uma ou mais imagens. Mas acho que isso só responde metade da pregunta.
Como eu disse lá atrás, as histórias (stories) geralmente estão ligadas à ficção, mas não necessariamente. O desafio é, a partir da coleta de fatos reais, estruturar uma narrativa que tenha ao menos um personagem superando obstáculos para alcançar um objetivo. Esse é o trabalho, por exemplo, de um documentarista. Ainda que o documentário seja, por exemplo, sobre um período histórico, é bastante usual que o diretor tente transmitir aqueles fatos por meio de um ou mais pontos de vistas de pessoas que estavam lá. E isso é essencial, afinal, o storytelling nada mais é do que uma técnica de transmissão de conhecimento por meio da emoção. E para gerar emoção é preciso de um ponto de vista humano.
Fechando a longa resposta, quando penso em "histórias oficiais" contadas a partir de imagens lembro imediatamente de duas fotos famosas. Uma é a daquele estudante chinês tentando parar um tanque sozinho, de forma pacífica, na Praça da Paz Celestial, e a outra é da menina nua, fugindo da bomba de napalm no Vietnã. São duas imagens tão ricas de significados e histórias que eu até posso deixar com que elas concluam a minha resposta. Mas isso só é possível porque elas trazem personagens, conflitos e muitas emoções.

 3) Você poderia nos dar um exemplo de como, a partir de uma imagem, criar um storytelling? E a partir desse exemplo, como pode ser utilizado em termos de transmídia?
Acho que eu já acabei falando um pouco sobre isso na resposta anterior, mas nunca é demais lembrar. Para contar uma história faz-se necessário um personagem, que geralmente é uma pessoa mesmo, mas pode ser qualquer que pense, aja e sinta como uma pessoa. Um exemplo é o filme Wall-e. O personagem é um robô, mas um robô com sentimentos. Esse personagem precisa ter um objetivo, ou seja, um motivo para que as pessoas o acompanhem em sua jornada. Esse objetivo pode ser conquistar uma menina, derrotar um inimigo, sobreviver a uma tragédia. Em outras palavras, alguma tensão é necessária para que as pessoas se preocupem com aquele personagem. É aquela famosa sensação de "Meu Deus! E agora, será que ele vai conseguir?".
Contar uma história a partir de uma imagem é mais ou menos como fazer um mini-conto, ou seja, esses elementos não necessariamente precisam estar explícitos, mas devem estar lá de alguma forma, ou seja, a imagem deve dar os insumos para a imaginação de quem está olhando para ela.
Para falar de transmídia é necessário, antes de tudo, entender o conceito. Transmídia é basicamente uma nova forma de contar uma história, em que mídias diferentes mostram pedaços complementares e, idealmente, independentes dessa narrativa. Isso é diferente de, por exemplo, adaptar a história de um livro para o cinema. Em uma proposta transmídia as histórias do livro e do filme são diferentes, porém complementares, ou seja, fazem parte do mesmo universo e deixam a experiência mais rica para quem consome ambas.
Esse tipo de raciocínio tem sido usado principalmente para a indústria do entretenimento, mas, mais recentemente, começou a ser adotado também por outras áreas, como o jornalismo. Nesse sentido é fácil imaginar a aplicabilidade do conceito em uma reportagem que utiliza texto, áudio, vídeo e imagens.
A entrevista com Bruno Scartozzoni segue em um próximo post com debate!!! Acesso aqui.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Documentos fotográficos do AGMV - II


O acervo fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória – parte 2
Figura 1: Antigo Prédio da Prefeitura Municipal de Vitória
Sem data, sem identificação de autoria
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória - 001797
A fotografia acima mostra o Prédio, na Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória, onde inicialmente funcionou a Prefeitura Municipal e conseqüentemente o Arquivo Geral do Município de Vitória, também conhecido informalmente por "Arquivo Público".  Ainda hoje esse Arquivo não possui uma sede própria, que permita abrigar seu rico acervo, constituído por textos, mapas, plantas, projetos, jornais, leis, decretos, resoluções, filmes, negativos de vidro e fotografias, produzidos e/ou recebidos pela administração pública a partir do século XIX.

Seu acervo fotográfico contém, atualmente, mais de 8000 fotografias, entre os quais há negativos em vidro. Abrange fotografias referentes aos anos de 1902 a 1993. As fotos após esse período se encontram na Secretaria de Cultura e ainda não foram encaminhadas para o Arquivo. Os primeiros registros apontam para a primeira metade do século XX (1902 a 1950), sendo do período de 1920 a 1950 cerca de um terço dessas fotografias. Esse acervo é “composto por aproximadamente 6.300 originais positivos de 18 x 24 cm, 1.700 originais 6 x 6 cm e 800 negativos de vidro,” além de aproximadamente 400 reproduções. (PERINI, 2005, p. 17). 

Infelizmente a organização desse acervo fotográfico pelo seu modo de constituição (doação sem registros de quem os doou em sua maioria, de como e/ou porque foram produzidas), não preconiza o que diz a teoria arquivística, pois, de acordo com Lopez (1999, p. 59) em relação ao arranjo arquivístico este “deve sempre procurar retratar as atividades reais das instituições e, na medida do possível, ser delas um espelho fiel para que haja uma contextualização da produção documental, conforme os moldes definidos pela teoria arquivística”.

Para a identificação das fotos pelo Arquivo Geral do Município de Vitória, o poder público municipal desenvolveu uma estratégia baseada na história oral. Para tal, foi criado o projeto Campanha de Identificação do Acervo Fotográfico, realizado no período de 1995-1997, com os moradores mais antigos da capital, que por meio de relatos orais ajudaram na identificação de parte do acervo. Esse processo de identificação corresponde ao método filológico, inicialmente utilizado pelas pesquisas em História da Arte para atribuição de elementos de identificação das obras, visando sua organização e tabulação inicial. Assim, fotos foram identificadas por voluntários, sendo que a cada três “identificações” iguais por foto, a descrição era aceita pelo grupo que desenvolvia o trabalho. Não se pode dizer que esse método não determine erros de classificação, porém, foi um modo de organizar inicialmente o material que vem sendo estudado e redefinido quando necessário.

Dentro dessa política do Arquivo Geral do Município de Vitória,  de taxonomia das imagens, ainda hoje, o arquivo conta com pessoas como o Sr. José Tatagiba que auxiliam na identificação das fotografias. Essa solução encontrada pela instituição é um paliativo, pois de acordo com Lopez (1999, p. 63):
[...] contextualizar os documentos arquivísticos significa que cada um deverá ser agrupado somente com aqueles que foram originados pela mesma atividade, podendo constituir séries documentais tipológicas se cada espécie documental específica for inserida nas respectivas funções geradoras.

Mas, entende-se que na fase atual do acervo fotográfico, essa atitude é um esforço coletivo para que a informação não se perca, embora não tenha fundamentos técnicos e científicos que assegurem a confiabilidade da informação. Uma taxonomia e classificação sistêmica desse acervo ainda exigirão muitos esforços. 

São organizadas por ordem numérica de chegada ao arquivo, e há um índice e sete ‘catálogos’, nos quais constam além do número das fotografias, as informações acerca da fotografia, tais como data, autoria, identificação do local e/ou personalidade(s). Porém, nem todas as fotografias possuem número de arquivo, algumas informações são incorretas e os registros feitos nos catálogos encontram-se a lápis. 

De modo geral, esse acervo é composto por vários conjuntos de fotografias: há imagens referentes a diversos períodos administrativos, fotos relativas a obras públicas e serviços urbanos, registros feitos de vários ângulos das paisagens da capital; fotografias de vários monumentos e casarios, de diversas personalidades, de eventos diversos, tais como solenidades, carnaval, desfiles cívicos e manifestações populares além de algumas fotos de outros Municípios, como por exemplo, Vila Velha e Cariacica, além dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.


Referências: 
Antigo Prédio da Prefeitura Municipal de Vitória venida Beira Mar antes do aterroVitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm; AGMV, 0012797
LOPEZ, André Porto Ancona. Tipologia documental de partidos e associações políticas brasileiras. São Paulo: História Social USP/Loyola, 1999. Disponível em:  aqui. Acesso em: 25 jul. 2011.
PERINI, Giselli Maria. Acervo Fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória: “Arquivo Morto” ou Memória Viva? 2005. 56 f. Monografia (Graduação em Arquivologia). UFES, Vitória, 2005.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Documentos fotográficos do AGMV - I

O acervo fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória – parte 1

O acervo fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória é uma coleção composta por imagens produzidas pela administração e imagens doadas por moradores da cidade, registradas numericamente por ordem de chegada. Algumas indexadas e identificadas, outras de artistas ou fotógrafos anônimos, sem registro do fato e/ou acontecimento que a originou. Porém, de acordo com Lopez (1999, p. 68, 69), essa forma de organização não é a ideal, pois o arranjo deve
[...] garantir a devida contextualização dos documentos arquivísticos, resgatando as funções e atividades geradoras dos documentos e respeitando o princípio da proveniência. Para tanto, usam-se duas modalidades de arranjo: o estrutural e o funcional. Algumas instituições chegam a propor outros tipos de arranjo, fundados em assuntos, localização geográfica, cronologia, etc. A meu ver essas soluções “alternativas” desviam-se da definição conceitual de arquivo ao descartar as funções originais dos documentos como critério basal da organização arquivística e não garantem uma contextualização documental correta.

Infelizmente, os acervos fotográficos, estando ou não em Instituições Arquivísticas, são vistos como coleções, ou seja, ficam descontextualizados em relação à função que o originou, e muitas vezes, perdem o seu significado. Lopez (1999, p. 39), diz que “ao analisar o desenvolvimento da arquivística, nota-se, já em meados do século XIX, um embrião daquilo que a historiografia chamaria, quase um século depois, de história serial”. Esse autor reporta-se a Natalis de Wailly, que em 1841, “criou" o conceito de respect des fonds, hoje conhecido como princípio da proveniência ou respeito aos fundos, que propunha, na realidade, o trabalho com longas séries documentais”, o que reforça a necessidade do documento arquivístico estar inserido no contexto da produção e da função que o gerou, ou seja, receber um adequado tratamento arquivístico.

A partir do conceito de coleção de Camargo e Bellotto no  Dicionário de terminologia arquivística (1996, p. 17), como “reunião artificial de documentos que, não mantendo relação orgânica entre si, apresentam alguma característica comum”, podemos pensar: o que permeia as fotografias que compõem o acervo do Arquivo Geral do Município de Vitória? 

Fruto da imagem mental que se constrói no processo de gênese da identidade da cidade, a ser percebido por um olhar sensível, Giselli Maria Perini (2005, p. 22) afirma que as inúmeras informações contidas nos conjuntos fotográficos do acervo do AGMV são comprovadas pela historiografia do Espírito Santo. Muitas dessas fotografias foram feitas por fotógrafos contratados pelos administradores públicos, para registrar fatos administrativos, tais como aterros, construções de pontes, praças, pavimentação de ruas, etc., nasceram, pois, de uma necessidade administrativa, havendo inclusive documentos (Figuras 1 e 2), que comprovam a compra de material para o Serviço Fotográfico.

Figura 1: Crédito para compra de material para o serviço Fotográfico.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória

Figura 2: Designação de despesa para pagamento de fotógrafo e compra de material fotográfico.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória.
E o valor de testemunho dessas fotografias as torna de guarda permanente, pois contam a história da cidade registrada em sais de prata.

Referências:
DICIONÁRIO de terminologia arquivística. São Paulo: AAB-SP; Secretaria de Estado da Cultura, 1996 
LOPEZ, André Porto Ancona. Tipologia documental de partidos e associações políticas brasileiras. São Paulo: História Social USP/Loyola, 1999. Disponível em:  aqui. Acesso em: 25 jul. 2011.
PERINI, Giselli Maria. Acervo Fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória: “Arquivo Morto” ou Memória Viva? 2005. 56 f. Monografia (Graduação em Arquivologia). UFES, Vitória, 2005.
VITÓRIA (ES). Projeto n° 35 de Decreto-Lei. Abre crédito especial. Vitória, s.d. Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Paisagem e memórias


A Ilha de Vitória em fotografias do AGMV


Carvalho (1999) afirma que as cidades e suas edificações sempre foram um tema constante para os fotógrafos. Em relação ao uso feito por essas fotografias, ela afirma que:
[...] pode ser uma forma comprobatória da construção de monumentos arquitetônicos, construídos por governantes ou personalidades beneméritas do patrimônio público; ser utilizada para inventariar bens e manifestações culturais a fim de ‘preservá-los’ e difundi-los nacional e internacionalmente; ser uma ‘apropriação de locais nobres da cidade por uma parcela significativa da população, despossuída, no seu cotidiano, deste contato; para se construir, através da divulgação maciça de imagens, os símbolos a serem perpetuados; enfim, para se eternizar a cidade, através dos ‘cartões-postais’ consagrados, para as populações futuras. (CARVALHO, 1999, p. 63).

Por serem objetos de estudo de profissionais de diversos campos do saber as cidades são “analisadas de forma peculiar por cada um deles, [...]” e o significado atribuído “à cidade é sempre em consonância com sua inserção e entendimento do viver em cidade.” (CARVALHO, 1999, p. 64). A Fotografia 1 é do início do século XX e mostra o Centro da capital capixaba.

Fotografia 1:  Vista do Centro de Vitoria 02.
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria
Obs: de acordo com Willis Faria ("Histórico da Baía de Vitória") é  de 1915.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória.
As imagens fotográficas do Arquivo Geral do Município de Vitória, ao longo do tempo, foram constituindo-se como um acervo imagético no qual estão registradas importantes transformações ocorridas na capital capixaba e mostram as intervenções na paisagem da cidade. 

Klug (2009, p. 18-19) afirma que o relevo, o mar e as áreas de mangue tiveram uma grande importância na configuração da paisagem urbana e desenvolvimento da cidade de Vitória, funcionando ora como limites para o crescimento – o que circunscreveu uma cidade colonial que não mais se continha em si. Daí a necessidade de intervenções para a expansão da sua mancha urbana e conseqüentes alterações na sua paisagem, tomando do mar o que poderiam ser esses novos logradouros.

Embora não tenham a data definida, as Fotografias 2, 3 e 4 ilustram bem a intervenção feita na paisagem natural da Capital para a construção da Avenida Beira Mar. Não só áreas alagadas de mangue são tomadas, mas também áreas de mar.
Fotografia 2: Avenida Beira Mar antes do aterro.
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória

Fotografia 3: Vista do Penedo; Avenida Beira Mar durante o Aterro; Curva do 
Saldanha
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória

Fotografia 4 Avenida Beira Mar após o aterro. Curva do Saldanha, ao fundo, Porto 
de Vitória.
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória
Ainda de acordo com Klug (2009, p. 14), a adição da paisagem construída à paisagem natural está relacionada com a identidade local, com a memória coletiva e a imagem da cidade, pois o homem cria suas referências, constrói a memória coletiva a partir da percepção dos elementos naturais e construídos da paisagem da cidade, com suas particularidades e especificidades.


Referências:
Avenida Beira Mar antes do aterro, Vitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.
Avenida Beira Mar após o aterro. Curva do Saldanha, ao fundo, Porto de Vitória, Vitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.
CARVALHO, Telma Campanha de. Fotografia e cidade:São Paulo na década de 1930. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Programa de Estudos Pós-Graduados em História Social, PUC-SP, 1999.
KLUG, Letícia Beccalli. Vitória: sítio físico e paisagem. Vitória: EDUFES, 2009.
Vista do Centro de Vitória 02, Vitória, ES, 1915? 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.
Vista do Penedo; Avenida Beira Mar durante o Aterro; Curva do Saldanha, Vitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Our Story in 2 Minutes

Recentemente foi divulgado na Internet um vídeo de 2 minutos, de autoria de Joe Bush, que buscou recontar a história do mundo e da humanidade.

Assista o vídeo aqui, direto do You Tube e leia mais sobre ele na coluna do Ricardo Setti

terça-feira, 12 de março de 2013

Retratos de prisioneiros no Brasil

Reproduzo aqui texto assinado por Talita Lopes Cavalcante, sobre Imagens Históricas, publicado em comunidade do Facebook de mesmo nome.

Um dos primeiros retratos de prisioneiros no Brasil, 1872.

As fotografias, desde seu advento, garantem o processo de formação da memória histórica e da identidade nacional e pessoal. Contudo, após anos de cartazes descrevendo apenas as características de fugitivos e presos, a fotografia foi introduzida como controle de Estado na Casa de Correção pelo estudioso em craneologia, Almeida Valle.

Finalmente em 1872, Valle dera conta de fotografar todos os prisioneiros da Casa de Correção, unindo os trezentos e vinte e quatro retratos em um álbum que ficou conhecido como "Galeria dos Condenados" ( exposto ao público na Exposição Universal da Philadelphia, de 1876, sob os auspícios de Pedro II, amante da fotografia), o primeiro registro prisional no país.

- Curiosidade acerca da imagem:

Na Galeria dos Condenados encontra-se o registro de Isabel Jacintha da Silva, escrava altiva e bela.

Condenada em 1846 por matar seu senhor (Jacintho José da Silva) envenenado, Isabel iniciou uma busca por seus direitos, alegando inocência. O envenenamento dos senhores pelos escravos era prática relativamente comum, uma vez que a liberdade lhes era dada por testamento. Dessa forma, após a morte do senhor, os escravos estariam livres. Assim, a prática de envenenamento acabou recebendo um artigo próprio no Código Criminal do Império, “ter o delinqüente cometido o crime com veneno, incêndio ou inundação” (Código Criminal, art. 16, 1830).

No caso de Isabel, ao que tudo indica, mantinha relações cordiais com seu senhor, pois portava seu sobrenome e faria jus à liberdade, como se livre tivesse sido desde o nascimento, tão logo seu proprietário viesse a falecer, fato que constituiu argumento decisivo para a formação de sua culpa. Em sua defesa, entretanto, alegou:
"que meu irmão me catucara que eu dissesse que tinha sido eu; eu fui e caí na asneira, na patetice de dizer que era eu; mas não fiz nada do que disse. Depois caí em mim, pus-me a imaginar. Eu não saía de casa, como é que havia de fazer isso?"
Isabel não foi condenada à pena de morte, mas sua pena foi de prisão perpétua com trabalho. O mesmo crime de homicídio, supostamente por ela cometido, com auxílio de seu irmão, era punido com pena de 12 anos de prisão e multa proporcional, para os demais criminosos, ou seja, os homens e mulheres livres. A Galeria dos Condenados expõe inúmeros casos como esse. 

Ainda que condenada, Isabel foi notável em suas tentativas de graça, alegando inocência em todos os tribunais, se utilizando de argumentos e provas de que era, de fato, inocente.

- Curiosidade [2]:
No mencionado álbum, encontramos apenas duas mulheres, entre as 324 fotografias: Isabel Jacintha e Generosa Maria de Jesus. A primeira, escrava, a segunda, livre. O álbum, em duas versões, pertence ao acervo da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, Coleção Dona Theresa Cristina.

Referências:
THIESEN, Icléia. A Casa de Correção da Corte e a fotografia identificatória (1859-1876). R. IHGB, Rio de Janeiro, 167 (430): 179-198, jan./mar. 2006.
KOSSOY, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 - 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012. p. 81.
THIESEN, Icléia. Informação identificatória, memória institucional e conhecimento - Isabel Jacintha da Silva, de cativa à prisioneira na Casa de Correção da Corte. LERASS – Laboratoire d’Études et de Recherches Appliquées en Sciences Sociales.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Arquivo Público e Ufes digitalizam fotografias da DOPS/ES


Jória Motta Scolforo, do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo divulga extensa nota sobre a digitalização de fotografias da Delegacia Especial de Segurança Política e Social (Desps/ES) e da sua sucessora Delegacia de Ordem Política e Social do Estado do Espírito Santo (Dops/ES). Projeto concebido em parceria com a Universidade Estadual do Espírito Santo (UFES). Leia mais sobre essa importantíssima ação em: http://www.ape.es.gov.br/noticias%5C46.html

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Bem na Foto

Em entrevista à Revista de História, o fotógrafo e pesquisador Pedro Karp Vasquez fala sobre a chegada da fotografia no Brasil, no século XIX, e sobre o mercado editorial a respeito do tema


D. Pedro II foi o primeiro brasileiro a comprar um daguerreótipo, o precursor da máquina fotográfica, em 1840. Ele incentivou o trabalho de fotógrafos e reuniu uma coleção de 25 mil imagens, hoje pertencentes à Biblioteca Nacional. É, em grande parte, graças ao imperador, que hoje o Brasil tem um dos principais acervos de fotografias antigas da América Latina e se destaca na produção de livros na área. Um dos últimos lançamentos de 2012 é Fotografia Escrita - nove ensaios sobre a produção fotográfica no Brasil (Senac), escrito pelo fotógrafo e pesquisador Pedro Karp Vasquez, um dos responsáveis pela criação do Instituto Nacional de Fotografia da Fundação Nacional de Arte, em 1982. Em entrevista à Revista de História, Vasquez, que também é autor do livro D. Pedro II e a Fotografia no Brasil (Index, 1985), fala sobre a chegada e popularização da fotografia no Brasil.
Revista de História: Por que a produção de fotografias no Brasil foi tão forte no século XIX?
Pedro Karp Vasquez: O acervo brasileiro desse período é o mais importante da América Latina, em grande parte por incentivo de D. Pedro II (1825-1891). Naquela época, os únicos colecionadores particulares no mundo eram ele, a rainha Vitória (1819-1901) e o Príncipe Albert (1819-1861), do Reino Unido. Mas no Brasil, naquela época, não havia um mercado para retrato como em Viena, Londres ou Paris, já que o regime aqui era escravocrata e a burguesia emergente era muito pequena. Sem o imperador a fotografia não teria se desenvolvido tanto. Ele atuava como mecenas e chamava atenção para a fotografia, chegando até a criar o título de Fotógrafo da Casa Imperial.
RH: E como era a relação da academia com a fotografia no século XIX?
PKV: As exposições anuais da Academia de Belas Artes acolheram a fotografia desde a década de 1840. Na mesma época, na Europa e nos Estados Unidos, esse ambiente acadêmico ainda não aceitava a fotografia. Nós tivemos esse lado precursor. Também houve três Exposições Nacionais do período imperial, por volta de 1860, que incluíram a fotografia em várias categorias, como anúncios de produtos e retratos de paisagens, por exemplo.
RH: Qual é o tamanho do acervo brasileiro no período?
PKV: Não temos um levantamento nacional, mas acredito que deva estar entre 300 mil e meio milhão de imagens. Só D. Pedro II levou para a Biblioteca Nacional uma coleção com mais de 25 mil imagens. Gilberto Ferrez, neto do fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), constituiu outra coleção enorme, com cerca de 30 mil fotos, que estão hoje no Instituto Moreira Salles. Fora isso tem outras fotos na Biblioteca Nacional, no Museu Histórico Nacional, no Arquivo Nacional, no Museu Imperial, no Museu Paulista... É muita coisa.
RH: Quando a produção fotográfica começou a ser estudada no Brasil?
PKV: O primeiro livro sobre o tema foiA fotografia no Brasil, de Gilberto Ferrez, lançado em 1953. Na década de 1970 Ferrez fez outros livros, sobre o avô dele, sobre fotografia em Pernambuco, na Bahia... E surgiu também Boris Kossoy (saiba mais em “Nova pátria, novo olhar”). São precursores isolados. A coisa começou a deslanchar mesmo em meados da década de 1980... Talvez porque tenha surgido a Lei Sarney, que depois virou Lei Rouanet, permitindo que esses livros fossem financiados por empresas. Alguns eram muito caros para serem produzidos por uma editora normal.
RH: E dos anos 1990 até hoje, como está o mercado editorial?
PKV: Nos anos 1990 até os próprios fotógrafos, independentes, começaram a fazer livros mais sofisticados. Passamos a ter um movimento constante de edição de livros, tanto de ensaios históricos, quanto de livros autorais. Hoje, acho que a parte teórica ainda é carente, mesmo em traduções. Entre os livros de referência, só temos algo de Roland Barthes e Susan Sontag. De qualquer forma, acho que atingimos um ponto de maturidade e estamos cada vez melhor.
RH: Onde seu livro se encaixa na produção atual?
PKV: A importância dele é que é feito para o grande público. Não é uma tese, não é um trabalho de professor universitário. Normalmente, esse tipo de publicação é uma tese... Ou uma versão simplificada da tese, o que já melhora, porque a pessoa tira a parte mais árida de justificativas. Mas Fotografia Escrita é o livro de uma pessoa que sempre se preocupou em fazer uma difusão ampla da fotografia para a sociedade em geral.

terça-feira, 17 de julho de 2012

BLOG SALAS DE CINEMA DO ES É NOTÍCIA


O blog http://salasdecinemadoes.blogspot.com.br/ foi matéria do Jornal A Gazeta e já renderam contribuições de imagens e depoimentos. Até o momento já foram 760 acessos e 7 países (Alemanha, EUA, Portugal, Angola, India, Rússia e Argentina).
Além disso, o projeto de pesquisa foi contemplado pelo edital 32/2012 do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo – FUNCULTURA, referente a Projetos Culturais e Concessão de Prêmio para Inventário, Conservação e Reprodução de Acervos no Estado do Espírito Santo, isso será muito importante no tratamento da informação e a ampliação das fontes disponíveis no acervo que será depositado após o tratamento no Arquivo Público Estadual do ES e disponibilizado pela Internet.

A proposta é organizar um inventário analítico do acervo que é 100% digital e compreende fotografias, entrevistas registradas em audiovisual, notícias de jornais e revistas, além de documentos de arquivos público e privados. O objetivo é que o arquivo custodiado no APEES e disponibilizado pelo Blog possibilite ampliarmos o acervo e encontrarmos mais registros das 200 salas (aproximadamente) de exibição cinematográfica que funcionaram no estado do ES.

Esse projeto de pesquisa é um trabalho do Doutorado Interinstitucional Unb-UFES, na linha de pesquisa Organização da Informação, Grupo Acervos Fotográficos e conta com a orientação do Prof. André Porto Ancona Lopez.

sábado, 7 de julho de 2012

Blog Salas de Cinema Capixaba


Boa tarde,

Quem conheceu ou quer conhecer as salas de cinema que formaram a cinelândia capixaba podem visitar o blog http://salasdecinemadoes.blogspot.com.br/.

Todos ainda tem a oportunidade de colaborarem com novas fontes, comentários e na identificação das imagens e bibliografia.

...
Um grande abraço.

André Malverdes

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Coleção de documentos imagéticos de Formiga (MG): iniciando com uma charada

Foto: coleção de Cleber Antônio Oliveira. Formiga (MG). s.d.

Através de minha amiga Aldina Soares (a quem agradeço), que postou uma foto antiga sobre Formiga (MG), conheci, no Facebook, o Cleber Antônio Oliveira, detentor de uma enorme coleção de cerca de seis mil fotos antigas*, algumas delas, muito significativas, da Rede Mineira de Viação, tema de meu projeto de doutorado. Vide aqui.


Isso provocou um redirecionamento em minha pesquisa de campo. Há que se compreender que meu projeto não se restringe a fotografias de locomotivas e estações de trem, importantes sem dúvida, mas busca sua organicidade no período econômico, social, político e cultural no qual esse meio de transporte era um dos mais importantes, principalmente para o deslocamento de passageiros e, diferentes recursos materiais em longa distância.



Assim, o acervo de Cleber, contempla um primeiro desafio de classificação desse vasto material dentro das normas que permitam sua preservação digital e fácil recuperação e um segundo, que é o de estabelecer ligações entre os documentos imagéticos da ferrovia e os que se relacionam a ele e seus vieses já citados. Em resumo, se encaixa perfeitamente dentro das propostas do DIGIFOTOWEB e poderá constituir-se em valioso patrimônio futuro.



Porém, antes de adentrar em conceitos metodológicos mais profundos, gostaria de propor uma pequena “charada” a partir de uma foto um tanto curiosa, postada por ele e debatida com também meu recente amigo, Isaac Ribeiro, mestre em história pela Universidade Federal de São João del Rey. Ambos se propuseram a fazer uma pesquisa sobre uma curiosidade presente na imagem e já indicaram o caminho correto. Certamente, irão encontrar, assim espero, os elementos reveladores dessa “charada” e mais do isso, poderão contextualizar o documento em termos de sua organicidade arquivística (iconológica), embora a curiosidade pertença ao campo da iconografia (conteúdo da imagem).



Lançado o desafio, aguardarei comentários, primeiro daqueles que conseguirem identificar a “curiosidade” expressa no documento. Segundo, e já agradecendo, quem tenha conhecimento de tal fenômeno e possa contribuir para sua elucidação, especialmente com outros exemplos, ou tendências da época.



* Apenas uma pequena parcela das fotos está presente nos álbuns de Cleber no Facebook.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

As construções etéreas de Brasília nas fotos de Marcel Gautherot

Fonte: copiado de http://bit.ly/aFfGEP

Marcel Gautherot me foi apresentado por Flávia Portela, arquiteta e amiga de Brasília, em uma única foto no Facebook e que ilustra o título desse post. Se for mais popular do que imaginava, vou logo confessando minha ignorância, mas a foto me chamou a atenção por ser diferente de todas as outras sobre essa tema, que já havia visto de outros fotógrafos.

Essa foto de Gautherot é instigante porque, em um primeiro momento, confere aos prédios em construção da Esplanada dos Ministérios uma sensação de etéreo, utilizando para isso a farta poeira que abundava nos canteiros de obras, fato que comentarei mais adiante.

Como é peculiar, ou melhor, recomendado pelos estudos iconológicos, fui a busca do autor com as famosas questões: a) Quem ou qual instituição solicitou essas imagens?; b) Quando e com que objetivo?; c) Por que foram preservadas e catalogadas pelo  Instituo Moreira Sales - IMS? É importante ressaltar que esse post se atém a não mais que duas  fotografias de Guautherot e, propositalmente, de uma questão muito específica, já citada no título: o etéreo.

Marcel Gautherot, nasceu em Paris, em 1910 e faleceu no Rio de Janeiro em 1996. Filho de pais pobres, mãe operária e pai pedreiro, em 1936 participa do grupo que seria responsável pela instalação do Musée de l”Homme onde é encarregado de catalogar as peças do museu, começando aí a se dedicar à fotografia. Chegou ao Brasil em 1939, supostamente influenciado pela leitura do romance Jubiabá de Jorge Amado, configurando um "convite" para conhecer um país de terras tropicais e afastado do ambiente do pós-guerra.
Tendo fixado residência no Rio de Janeiro, entra em contato com parte da elite intelectual brasileira (Carlos Drummond, Mário de Andrade, Lúcio Costa, Burle Marx, entre outros). 

Começa a fazer trabalhos de fotografia para o SPHAN, o Museu do Folclore e trabalha para a revista "O Cruzeiro". Durante sua existência, viajou por 18 estados brasileiros, constituindo um acervo de cerca de 25.000 negativos, fotografando não apenas a arquitetura mais a cultura e diversidade do povo brasileiro, acervo hoje pertencentes ao IMS.

Sobre sua experiência em Brasília, relatam Andréa Cristina Silva e Leila Beatriz Ribeiro:
"Em meados dos anos 50, a convite de Niemeyer e contratado pela NOVACAP (Companhia Urbanizadora da Nova Capital), Gautherot passa a documentar a construção de Brasília. Momento alto de sua trajetória e de sua criação como fotógrafo, as imagens de Brasília atestam o nascimento de uma nova cidade, desde o começo, até sua inauguração. Com a Rolleiflex em punho e um olhar fotográfico extremamente refinado e elegante, o francês registrou o nascimento das obras monumentais de Niemeyer e a execução paulatina do plano piloto de Lúcio Costa como num imenso making off da construção. No conjunto das imagens de Brasília podemos perceber como a arquitetura surge do vasto chão para se tornar o belo, o diferente, o monumental".

A frase final das autoras é o mote para iniciar a discussão das fotos de Gautherot: "a arquitetura surge do vasto chão". Tomado em essência, não deixa de ser uma realidade, mas o que o fotógrafo realiza, intencionalmente (ou não) é justamente essa ruptura com a engenharia, que já galgava graus de modernidade. Para tanto, utiliza a já citada farta poeira presente na construção da nova capital para "encobrir" essa sensação lógica e linear, conferindo à imagem uma perturbadora e bela sensação de do etério, do impermanente, da incerteza.

Ao examinar a imagem, a sensação que tenho é justamente da ausência de sustentabilidade, algo que confere dúvida: o que transmite vigor e segurança em construções (ou até mesmo em um trabalho acadêmico) são suas bases. Sem elas, ou se tem uma obra com a impressão de de que não será concluída ou de que a o peso dos andares superiores rechaçarão os andares inferiores, transformando tudo em ruínas.

Há outra foto que parece confirmar a "intencionalidade" de Gautherot em utilizar a poeira para "minar" as bases das construções, reproduzida a seguir. Nela, fica quase evidente que o fotógrafo aguardou a passagem de um veículo, no caso uma caminhonete, para levantar a "poeira" necessária para captar a imagem no seu momento oportuno.



Fonte: copiado de http://bit.ly/aFfGEP

Se falarmos de acervo, acredito que  essas duas imagens estejam corretamente classificadas dentro do acervo da construção Brasília, de Marcel Gautherot, pelo IMS. O que questiono é, se presentes em tantas que ilustram livros das obras da capital, principalmente de Niemeyer, apresentadas no Brasil e exterior, passaram pelo "crivo" do mesmo e seus assessores.

De profundo valor estético, em minha opinião, contradizem, ou mo mínimo, provocam certo "mal estar", não apenas na concepção arquitetônica desafiadora e quase "violenta" dos traços de Niemeyer imposta aos engenheiros da época, como na campanha nacionalista formada em torno da construção da nova capital.

Há muito que se comentar sobre Marcel Gautherot. Incógnitos e crassos erros fotográficos que poderiam ter sido eliminados (ex.: na foto da caminhonete há uma placa cortada pela metade), e não vou citar todos agora para não estender a polêmica. Há, também, curiosas similaridades que encontrei com fotos de Sebastião Salgado, futuros questionamentos a serem dirigidos a esse último, em outra ocasião.

*Niraldo Nascimento é Doutorando em Ciência da Informação (UnB) 
na linha de Pesquisa de Acervos Fotográficos

Referências: 
SILVA, Andréa C, RIBEIRO, Leila B. Ribeiro. Imagens do silêncio, imagens silenciadas – Marcel Gautherot e a construção de Brasília XXII Encontro de História - Anpuh/RJ. Disponível em <http://www.encontro2008.rj.anpuh.org/resources/content/anais/1213108979_ARQUIVO_ANDREALEILA.pdf> Acesso em 21/02/2012.
Brasília por Gautherot. Olhar sobre o mundo. Disponível em <http://blogs.estadao.com.br/olhar-sobre-o-mundo/brasilia-por-gautherot/> Acesso em fevereiro de 2012.