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sábado, 5 de abril de 2014

Possibilidades de Iniciação Científica


Os alunos da UnB (qualquer curso) que tenham interesse em desenvolver iniciação científica no âmbito do Grupo de Pesquisa Acervos Fotográficos (GPAF) devem entrar em contato com apalopez@gmail.com apresentando:

  • Nome completo e dados discentes (curso, semestre e IRA);
  • Endereço do Lattes, se houver;
  • Esboço de plano de trabalho a ser desenvolvido (apenas proposta preliminar, não precisa estar finalizado).
Não haverá solicitação de bolsas para alunos "calouros" em iniciação científica, que deverão atuar como voluntários. Somente na renovação do projeto, após um ano, é que haverá possibilidade de bolsas remuneradas.

O plano de trabalho deverá estar relacionado com um dos quatro projetos elencados abaixo (é importante navegar bastante pelas páginas de referência indicadas para melhor conhecer os projetos):

  1. REDE FOTOARQ Ambiente científico virtual sobre documentos fotográficos de arquivo
    Descrição: Em face do avanço que o ambiente em rede pode proporcionar para a construção científica colaborativa, e considerando o desenvolvimento do projeto DIGIFOTOWEB/CNPq até o momento, propomos a consolidação de uma rede científica virtual, destinada a amparar as ações de discussão, construção e divulgação de conhecimentos científicos sobre a temática dos documentos imagéticos em arquivo, sobretudo em relação à organicidade. A proposta pretende trabalhar na articulação de uma rede de produção colaborativa de conhecimentos sobre documentos fotográficos em arquivos que proporcione integração (nacional e internacional) de pesquisadores e possibilite incrementar a produção e disponibilização de textos de caráter científico (abrangendo desde estudos iniciais até artigos consolidados). Tal rede deverá incorporar um periódico eletrônico internacional (a ser criado), estudos relacionados ao tema produzidos no âmbito do Conselho Internacional de Arquivos e os trabalhos (atuais e futuros) do grupo de pesquisa Acervos Fotográficos, bem como os resultantes do atual projeto de produtividade. O projeto é feito conjunto com o Centro Nacional de Patrimonio Fotográfico (CENFOTO), Chile, Instituto Mora (México) e Conselho Internacional de Arquivos.
    Página de referência: http://gpaf.info/

  2. Blogues de Diplomática e Tipologia Documental.- fase III
    Descrição: O objetivo do plano de atividades é dar continuidade aos PAC anteriores, que aprimoraram a boa experiência com blogues discentes relativos aos principais temas da disciplina de graduação em Arquivologia Diplomática e Tipologia Documental (DTD) desenvolvidos desde 1/2009. A idéia geral é apoiar a atividade, ajudando na manutenção dos blogues que surgirão através das escolhas dos alunos por seus respectivos temas, com vistas a ampliar a construção de importante material de apoio didático. O objetivo do plano de atividades é dar continuidade à experiência da disciplina Diplomática e Tipologia Documental no que tange à criação, manutenção e disseminação dos blogues da disciplina desenvolvidos durante o semestre 02/2012 e 01/2013, assim como a orientação dos alunos no desempenho das atividades, construindo com importante material de apoio didático, amparado no blogue da disciplina. A atuação discente no presente PAC deverá auxiliar na sua formação, pondo-a em contato direto e sistemático com materiais complementares à disciplina, bem como diferentes visões sobre o tema.
    Página de referência: http://diplomaticaetipologia.blogspot.com.br/

  3. IMAGINANDO: Imagens-conceitos de termos arquivísticos
    Descrição: Imaginando é uma metodologia de ensino desenvolvida na Universidad Complutense de Madrid (UCM), em 2011, e aperfeiçoada no Brasil, no âmbito do Grupo de Pesquisa Acervos Fotográficos, em disciplinas da pós-graduação em Ciência da Informação ligadas aos acervos fotográficos.A metodologia Imaginando, que pode ser usada em qualquer área do conhecimento, compõe-se basicamente de cinco etapas: (i) discussão teórica com os alunos, embasada em bibliografia especializada, para atingir um nível comum de compreensão conceitual de termos específicos; (ii) produção de imagens inéditas e/ou reaproveitamento de imagens anteriores feitas pelos próprios participantes , representativas de tais ideias e/ou conceitos; (iii) consolidação dos conceitos mediante discussão das imagens realizadas por todos (alunos e professores) em sala de aula; (iv) ajustes nas imagens ou produção de novas em função de tal debate; (v) elaboração de ficha descritiva e texto explicativo sobre cada imagem final, com vistas à documentação, criando um banco de imagens de uso não-comercial. O ciclo pode, a partir daí, ser reiniciado com outras temáticas e conceitos.
    Página de referência: http://bgpaf.blogspot.com.br/p/imaginando-unb2013.html

  4. Blog Ibero-americano de Enseñanza Arquivistica Universitária
    Descrição: O Blog Iberoamericano de enseñanza archivística universitária (http://bieau.blogspot.com/) foi criado em junho de 2010, durante a I Reunião Brasileira de Ensino e Pesquisa em Arquivologia, como evento paralelo, não-oficial, com o objetivo de amparar as ações e comunicações da RIBEAU. Um grupo de professores de Arquivologia das universidades ibero-americanas, participantes do XIV Congresso Internacional de Arquivos, realizado em Sevilla, em 2000, concordaram ser necessário buscar soluções comuns aos problemas para conseguir direcionar os esforços para uma melhor formação de recursos humanos, adequada às novas tendências da sociedade da informação, com as quais, dia a dia, a educação arquivística se defronta. Essa inquietação se traduziu, na Assembléia Geral Extraordinária da Asociación Latinoamericana de Archivos, na criação da Red Iberoamericana de Enseñanza Archivística Universitaria (RIBEAU), que hoje conta com um poderoso instrumento das redes sociais para auxiliar na consecução de seus propósitos. O blog trabalha na formação de futuros arquivistas por se configurar como um veículo de comunicação, disseminação e acesso de informação arquivística relevante para alunos de graduação, pos-graduação e demais interessados. O blog, como ferramenta dinâmica e interativa, é plenamente adaptada à formação das novas gerações de arquivistas e já conta com alunos de graduação como colaboradores.
    Página de referência: http://bieau.blogspot.com.br/

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Espaços virtuais do GPAF

Desde o dia 23 de dezembro de 2013 o Grupo de Pesquisa Acervos Fotográficos  conta com dois novos espaços virtuais: a página do GPAF (abra aqui) e o blog do GPAF (acesso aqui). Trata-se de uma evolução do blog DigifotoWeb (acesso aqui), que foi criado prioritariamente para auxiliar no projeto de produtividade do líder do grupo junto ao CNPq, no período 2010-2013. À medida que o grupo foi sendo consolidado e ampliado, o espaço passou a incluir no seu escopo diversas questões relacionadas às atividades e inquietações do grupo, de seus pesquisadores e alunos a ponto de deixar o projeto DigifotoWeb em si como uma temática marginal no blog que leva o seu nome.

Doravante as questões gerais relacionadas ao grupo estarão concentradas em um novo blog: o "Blog do GPAF", que carrega na sua base todas as postagens do blog DigifotoWeb, em um layout mais atual, guardando elementos visuais do antigo espaço. No período de adaptação, por ora, as postagens ainda continuarão a ser replicadas nos dois blogs. Finda a fase de transição, esse novo espaço concentrará as reflexões gerais dos temas afetos ao grupo.

Paralelamente, algumas postagens específicas sobre o projeto DigifotoWeb, finalizado formalmente em abril de 2013 e ainda produzindo frutos acadêmicos (artigos, comunicações etc.) procurarão ajustar o foco do blog original para seu primeiro objetivo. Espera-se poder revisar e atualizar a informação de algumas de suas páginas. Ao final do processo de transição, o blog do DigifotoWeb estará semi-inativo, porém com muito conteúdo, recuperável pelo sistema de tags (ver post aqui).

A mesma separação de enfoque será efetivada na páginas do grupo no Facebook: a original DigifotoWeb (acesso aqui), será paulatinamente desativada em prol da mais atual, GPAF (acesso aqui). Nesse caso, porém, devido às limitações do Facebook, não haverá recuperação de informação na comunidade do DigifotoWeb.

A forma encontrada para articular todos esse links, além de outros espaços e materiais on-line relativos ao grupo de pesquisa e seus participantes, foi a criação de uma página web, em domínio próprio, que funcione como um ponto de partida. A pagina do GPAF (acesso aqui) é um micro portal, no qual o leitor interessado poderá pesquisar os textos que apresentam o grupo e nossas ações, projetos institucionais e demais ambientes virtuais, bem como links para as instituições diretamente relacionadas.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Novas tags para melhor recuperar a informação do blog


A indexação de postagens visa facilitar e orientar a busca do usuário por informações ou temas. Por meio de indexadores (tags), os usuários podem selecionar os elementos e serem direcionados para um conjunto de posts. A organização das postagens do blog foi feita a partir de sete categorias: “Autores dos posts”, “Grandes áreas”, “Conceitos (envolvidos e/ou discutidos)”, “Temas (filtrados pelo interesse do blog)”, “Tipo de enfoque (e/ou nível acadêmico)”, “Institucionalização (organizações, grupos e/ou pessoas envolvidos)” e “País ou região”. Cada categoria contempla várias tags, usadas para identificar as informações contidas nos posts. É feito um controle paralelo das tags e das categorias, sempre com o cuidado de evitar o uso excessivo de marcadores em mais de uma categoria. 

Trata-se do início de um controle de vocabulário, que, nesta etapa, exige revisões contínuas. O sistema está em constante elaboração, posto que o progressivo aumento da quantidade de postagens passa a demandar refinamentos nos recursos de busca e indexação. Por exemplo, uma anterior da tag “novos pesquisadores” era considerada suficiente para localizar posts relacionados ou escritos por alunos do GPAF. Com o passar do tempo, com a apliação da equipe e com a finalização de trabalhos de alunos e início de outros, essa tag se monstrou insuficiente e já foi desdobrada desdobrada por autoria e nível da pesquisa. As categorias referentes ao local e à instituição ou grupo complementam a autoria, quanto às informações mais obejtivas de cada post. Para o local, optamos por anotar não somente os páises, como também algumas regiões mais específicas (por exemplo, “Catalunha”) e mais amplas (como “Iberoamérica”, “Websphere”, ou mesmo “Indeterminada”). O relação institucional refere-se à principal instituição (ou grupo, ou até mesmo pessoa) contemplada no post.

A informação mais relacionada ao conteúdo em si da postagem foi organizada em três níveis, que visam ir das características mais abrangentes às mais específicas. No nível mais amplo encontram-se as principais grandes áreas trabalhadas, tais como “Arquivologia em geral”, “Ciência da Informação”, “Comunicação” etc. Como uma espécie de detalhamento temos um nível intermediário, composto pelos conceitos relaconados, como, por exemplo, “documentos imagéticos”, “descrição arquivística”, “memória” etc. Na base do detalhamento optamos por anotar os principais temas, ou assuntos, remetidos pelos posts, como, por exemplo, “Acervo fotográfico” “Redes sociais”, “Arte” e outros. É importante mencionar que a eleição dos indexadores responde à demanda dos pesquisadores do GPAF e ao principal foco do blog. Isso significa que a indexação não é exaustiva e não visa atribuir para cada postagem o maior número de possibilidades de recuperação por indexadores; pelo contrário: a ideia é evitar a proliferação de termos, buscando trabalhar com categorias razoavelmente anplas, porém capazes de permitir uma primeira qualificação dos aspectos principais. 

A categoria “Tipo de enfoque” tenta definir tanto o nível acadêmico relacionado à postagem (como, por exemplo, pesquisa de mestrado, doutorado etc.) como o tipo de informação (como, por exemplo, publicação, evento, discussão conceitual e outras)

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Depoimento de Fernando Palácios


Esta é uma série de posts sobre Fotografia e Storytelling, fruto de conversas e discussões com Bruno Scartozzoni, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, que oferecem o curso sobre essa área na Escola Superior de Marketing de São Paulo - ESPM. 

  • Aceda ao primeiro post da série aqui;
  • Aceda ao segundo port da série aqui

O DIGIFOTOWEB agradece a Fernando Palácios por sua contribuição, e sua disponibilidade, em viagem (não poderia deixar de ser), ao nos conceder essas considerações e reflexões, gravado em vídeo em Singapura, em abril de 2013.

Conhecido como "W'onderer Writer e a Volta ao mundo", nas Redes Sociais, Palácios aponta e levanta questões muito pertinentes ao universo da fotografia e suas correlações com o Storytelling, que merecem ser discutidas!

Vídeo de 9 minutos, imperdível! Clique aqui para assistir, ou no link abaixo!


FERNANDO PALACIOS é um dos fundadores do primeiro escritório de Storytelling no Brasil, a Storytellers Brand 'n' Fiction que tem como principais cases: a peça de Teatro "Filhas do Dodô" para J. Macêdo e "O Mistério das Cidades Perdidas" para Mini-Schin que superou 2 milhões de leitores na internet. Criou o primeiro curso universitário de Transmídia Storytelling ministrado na ESPM. Responsável pelo storieswelike.blogspot.com, primeiro blog sobre o assunto. Como planner participou de projetos como Nokia Trends, Camarote da Brahma, Skol Beats e o lançamento do portfólio de cervejas premium da AMBEV. É formado na USP. Em seu próximo projeto irá narrar sua busca pelas Maravilhas da Humanidade enquanto escreve uma obra de ficção a partir de um aparelho celular.

sábado, 18 de maio de 2013

Pequeno balanço das V Jornadas Fotodoc



Na semana passada tive a oportunidade de participar das V Jornadas de Fotografía y Documentación (Fotodoc), evento organizado conjuntamente com as Jornadas do Seminario Español de Recuperación de Información (SERI). O nome do evento foi extraído de um poema da pesquisadora e poeta Alicia Arias Coello: “Vertidos urgentes” (ver blog do evento aqui). 

Dois aspectos mais marcantes saltam á vista do visitante estrangeiro. O primeiro é a confluência dos eventos, obtendo (como diria Claúdio Duque) maior sinergia. Tenho assistido, ultimamente, no Brasil, uma proliferação de pequenos eventos. Cada vez mais restrito às particularidades dos pequenos grupos de trabalho e pesquisa. Quando, eventualmente os grupos brasileiros conseguem estar juntos em algo maior costuma ocorrer a separação física das atividades de cada núcleo, com raríssimos momentos, formais, de troca de ideias; como se diz no Brasil:“cada um no seu quadrado”. O segundo aspecto interessante é a “tipologia” jornada. O termo está em desuso no Brasil, onde se prefere denominações menos modestas e, supostamente, mais atrativas como Workshop, Congresso e outras tantas e, de preferência, com um qualificativo “internacional” em algum lugar do título (acabei de ver, por casualidade, a chamada para “congresso internacional”, em uma cidade o interior do país que exige que para a inscrição de trabalhos, via sistema, seja imprescindível indicar o CPF; ou seja, internacional apenas para quem registro na Recita Federal...). As jornadas daqui foram precisamente o que a palavra significa: um dia de atividades. 

A mesa de abertura, com a presença do decano da faculdade (equivaleria a um diretor) foi extremamente rápida, direta e sem longos discursos, tão frequentes na universidade brasileira. Não se chamou reitor, vice-reitor e nem ninguém das altas esferas da administração universitária. Tiveram a palavra o decano e depois cada um dos coordenadores dos eventos simultâneos: Juan Miguel Sanchez Vigil pela FOTODOC e Juan Antonio Comeche pelo SERI. O principal objetivo declarado foi o de proporcionar uma miscelânea de estudos e abordagens relacionados aos temas explicitados nas denominações dos dois eventos. A vontade de ampliar as discussões, ao invés de concentrar em tópicos cada vez mais específicos, costuma ser muito útil para que haja oxigenação das ideias, para que novos debates possam aflorar e, sobretudo, para que não sejam sempre as mesmas pessoas a apresentar trabalhos. 

Tive o privilégio de ser o primeiro a apresentar, exageradamente anunciado por Sánchez Vigil como conferência magistral, em uma mesa conjunta com meu colega Juan Antonio Comeche, lider do grupo de pesquisa sobre gestão de recuperação de informação digital na web (GRIWEB). Eu falei a respeito da finalização do projeto DigifotoWeb, com destaque à algumas questões contundentes relacionadas às imagens (ver página sobre minha apresentação aqui). Comeche analisou algumas das possibilidades e tentativas atuais relacionadas à recuperação de informações imagéticas. A divisão de metodologias para tal tarefa em função da priorização de enfoques intrínsecos (cor, textura, formas e/ou relações espaciais) ou extrínsecos (autor, título etc.) me fez pensar mais seriamente na validade de uma diplomática imagética, menos voltada ao contexto documental. 

Não sei se a proximidade de abordagem entre o trabalho de Juan Antonio e o meu foi algo compartilhado pela audiência, mas o fato é que a segunda mesa pareceu-me bem mais adequada ao conceito de miscelânea proposto. A primeira apresentação esteve a cargo de Raquel de León, do Museu Ferroviário que buscou dar um extenso e detalhado panorama das coleções ali custodiadas. Infelizmente o tempo foi curto nos deixando com aquele gostinho de quero-mais. Felizmente, parte das informações está disponível na página da fototeca do museu. Ao olhar com mais cuidado esse ambiente virtual é possível perceber uma interessante separação das coleções, do material de arquivo e do material de natureza biblioteconômica. De imediato pensei na tese de doutoramento que Niraldo José Nascimento, em seu afã, queria realizar sozinho o que o museu ferroviário de Madrid fez com uma equipe profissional. 

A segunda fala deste bloco esteve a cargo do advogado Alberto Cabello, que conseguiu abordar o sempre delicado tema dos direitos de imagem (os direitos das pessoas fotografadas) fugindo do óbvio, com exemplos muito contundentes e corajosos, envolvendo, sem temor, ícones contemporâneos da fotografia espanhola. A questão por ele colocada não se resume ao plano legal; indo mais além, com peso às questões éticas e morais. Por exemplo, começou, em tom crítico, denunciando a tradição de fotógrafos reconhecidos que se aproveitam de situações extremas em países do terceiro mundo, sem a anuência das pessoas fotografadas (e/ou sem o real conhecimento do uso, inclusive comercial, que será feito das imagens) para ganharem muito dinheiro com a comercialização das imagens. A primeira coisa que me veio à mente foi que no Brasil não é preciso ir longe para entender esse tipo de problema... 

A apresentação seguinte da segunda mesa versou sobre um projeto internacional relacionado a uma, até recentemente desconhecida, coleção que congrega fotografias fundamentais para a história visual de Portugal, Brasil, México e outros países iberoamericanos. A apresentação esteve a cargo do erudito coordenador, Wifredo Rincón García que já houvera anteriormente realizado uma exposição sobre parte daquela coleção (ver folder explicativo aqui). Sua apresentação também serviu para convidar pesquisadores interessados, sobretudo os internacionais, a integrarem uma comitiva que fará parte de uma reunião conjunta com representantes diplomáticos dos países afetos à coleção. 
A última apresentação da manhã (que em Espanha vai até as 14:00hs) esteve relacionada ao trabalho de edição gráfica na grande imprensa. Em um formato similar a um talk show (guardadas as devidas proporções e sem nenhum demérito) o professor de documentação da Universidad Complutense de Madrid, Federico Ayala apresentou e mediou um bate-papo muito agradável com o fotografo e editor gráfico Matias Nieto König. Ambos trabalham para um jornal de altíssima tiragem, o ABC, que apresenta um projeto gráfico diferenciado e único em relação aos demais jornais diários daqui. Matias Nieto expôs vários aspectos relacionados à opção do ABC em trabalhar com o conceito de capa na imprensa diária, buscando atrair ao público para uma imagem bastante chamativa, que ocupa pelo menos metade da página, ao invés de já adiantar reportagens e notícias, como é mais usual. Na falta de algum dos exemplos apresentados por Matias Nieto, encontrei um post bastante explicativo, que analisa uma capa polêmica do ABC (ver post aqui). O projeto, na verdade, troca informação textual (mais precisa, porém mais exigente quanto ao tempo de leitura, exigindo proximidade física e atenção do possível leitor) por informação visual (de assimilação mais rápida, sem requerer tanta proximidade). O sempre instigante debate sobre a articulação comunicativa entre imagem e texto, teve, nessa apresentação, um ótimo espaço para reflexão. 

Na parte da tarde tivemos, logo ao reinício, uma apresentação bastante interessante de Antonio Cabello, professor da Complutense, que deveria ser sobre os gêneros fotográficos e acabou sendo, na minha compreensão, sobre possibilidades de classificação e/ou organização de imagens por conteúdo. O mais relevante é que a apresentação, explicitamente, optou por não mostrar nenhuma solução (ou sugestão de solução). Os exemplos mostrados iam cada vez mais sugerindo que, à medida de cada necessidade, deve-se criar esquemas de classificação que funcionem em cada caso. A exposição começou e acabou com uma estante vazia, nos instigando a refletir e propor modelos, com cuidado para não cair em armadilhas universalizantes, lembrando que, em última instância, tais esquemas refletem, principalmente, as necessidades práticas de quem os elaborou. 

Na sequência, a professora Alicia Arias Coello, nos brindou com sua face artística ao apresentar uma pequena introdução de sua experiência poética nas redes sociais. Além da beleza que foi ter um espaço dedicado à emoção em uma jornada acadêmica, ela permitiu melhor entender, na prática, as relações existentes entre a criação intelectual e os atuais meios de difusão, compartilhamento, recriação, que contam, hoje, com diversos elementos daquilo que Claudio Duque estuda no campo denominado multimodalidade, com a articulação de texto, design, imagem (estática e em movimento) e sons. O ápice da recriação ficou a cargo de referencias à poeta argentina Alfonsina Storni, cuja música em homenagem à sua morte (Alfosina y el mar) é bem conhecida na voz de Mercedes Sosa, que já fora objeto de recriação artística de Sánchez Vigil (muitos acadêmicos-artistas presentes). Deixo aqui a dica para ouvir um versão mais “rústica” da música, que está em cd caseiro de uma cantora de rua em Santiago de Chile (ouça aqui Alfosina y el mar na gravação de Claudia Álvarez). O encerramento deu-se com um rearranjo de alguns versos de Sánchez Vigil feito por Alicia Arias com “Sonata ao luar” ao fundo. 

A penúltima apresentação coube à professora Maria Oliveira Zaldua, que expôs resultados de sua recente pesquisa, derivada de seu doutoramento, sobre a produção de teses relacionadas à fotografia na Espanha, em qualquer área do conhecimento. Os dados são bastante interessantes a apontam para um crescimento do tema nas áreas relacionadas à Ciência da Informação. Acredito que a ampliação desse tipo de pesquisa para o Brasil poderia redundar em um ótimo projeto de doutorado, sobretudo para mapear a ocorrência de trabalhos em áreas não diretamente ligadas à fotografias, tais como história e arquivos. 

Para finalizar Francisco José Valentín, aluno de doutorado em fase final, fez um excelente painel sobre os metadados, com destaque aos mais usuais no universo da fotografia, com alguns exemplos muito interessantes de aplicação. Um dos exemplos mostrava como pode haver diferenças significativas entre a adoção de um modelo de descritivo e a utilização correta e eficiente. Muitas vezes instituições indicam adotar esta ou aquela diretriz para a descrição e recuperação da informação, mas, na prática, a aplicação é mal feita e/ou incompleta, fazendo com que os objetivos não sejam plenamente atingidos. O exemplo dado por Francisco mostrava uma coleção de fotografias, supostamente, descritas com base no MOREQ, mas que apresentava quase todos os campos em branco e/ou com informações demasiadamente genéricas. 

Após a rápida e objetiva mesa de encerramento, restou a satisfação de ter podido fazer parte de um evento interessante (cujo formato objetivo e eficiente poderia ser inspirador no Brasil) e, principalmente, ter tido contato com outras dimensões relativas aos documentos fotográficos que, usualmente, por acabar dedicando-me muito ao foco especializado do que pesquiso, acabo por não conhecer mais profundamente. 

Espera-se que brevemente, no blog do evento, as apresentações todas estejam disponíveis, ao lado de nossas fotos, tiradas por Maria Oliveira. É questão de aguardar e conferir... 

Links mencionados: 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

V JORNADAS FOTODOC


Las V Jornadas Fotodoc "Vertidos urgentes" se celebrarán el próximo martes 7 de mayo, en horario de 9.30 a 18h, en la Facultad de Ciencias de la Documentación de la Universidad Complutense de Madrid.  Entrada libre hasta completar el aforo. Se expedirá certificado de asistencia

Pulse aquí para hacer download del prospecto de divulgación en alta calidad (2.13MB).

quarta-feira, 13 de março de 2013

Our Story in 2 Minutes

Recentemente foi divulgado na Internet um vídeo de 2 minutos, de autoria de Joe Bush, que buscou recontar a história do mundo e da humanidade.

Assista o vídeo aqui, direto do You Tube e leia mais sobre ele na coluna do Ricardo Setti

terça-feira, 12 de março de 2013

Retratos de prisioneiros no Brasil

Reproduzo aqui texto assinado por Talita Lopes Cavalcante, sobre Imagens Históricas, publicado em comunidade do Facebook de mesmo nome.

Um dos primeiros retratos de prisioneiros no Brasil, 1872.

As fotografias, desde seu advento, garantem o processo de formação da memória histórica e da identidade nacional e pessoal. Contudo, após anos de cartazes descrevendo apenas as características de fugitivos e presos, a fotografia foi introduzida como controle de Estado na Casa de Correção pelo estudioso em craneologia, Almeida Valle.

Finalmente em 1872, Valle dera conta de fotografar todos os prisioneiros da Casa de Correção, unindo os trezentos e vinte e quatro retratos em um álbum que ficou conhecido como "Galeria dos Condenados" ( exposto ao público na Exposição Universal da Philadelphia, de 1876, sob os auspícios de Pedro II, amante da fotografia), o primeiro registro prisional no país.

- Curiosidade acerca da imagem:

Na Galeria dos Condenados encontra-se o registro de Isabel Jacintha da Silva, escrava altiva e bela.

Condenada em 1846 por matar seu senhor (Jacintho José da Silva) envenenado, Isabel iniciou uma busca por seus direitos, alegando inocência. O envenenamento dos senhores pelos escravos era prática relativamente comum, uma vez que a liberdade lhes era dada por testamento. Dessa forma, após a morte do senhor, os escravos estariam livres. Assim, a prática de envenenamento acabou recebendo um artigo próprio no Código Criminal do Império, “ter o delinqüente cometido o crime com veneno, incêndio ou inundação” (Código Criminal, art. 16, 1830).

No caso de Isabel, ao que tudo indica, mantinha relações cordiais com seu senhor, pois portava seu sobrenome e faria jus à liberdade, como se livre tivesse sido desde o nascimento, tão logo seu proprietário viesse a falecer, fato que constituiu argumento decisivo para a formação de sua culpa. Em sua defesa, entretanto, alegou:
"que meu irmão me catucara que eu dissesse que tinha sido eu; eu fui e caí na asneira, na patetice de dizer que era eu; mas não fiz nada do que disse. Depois caí em mim, pus-me a imaginar. Eu não saía de casa, como é que havia de fazer isso?"
Isabel não foi condenada à pena de morte, mas sua pena foi de prisão perpétua com trabalho. O mesmo crime de homicídio, supostamente por ela cometido, com auxílio de seu irmão, era punido com pena de 12 anos de prisão e multa proporcional, para os demais criminosos, ou seja, os homens e mulheres livres. A Galeria dos Condenados expõe inúmeros casos como esse. 

Ainda que condenada, Isabel foi notável em suas tentativas de graça, alegando inocência em todos os tribunais, se utilizando de argumentos e provas de que era, de fato, inocente.

- Curiosidade [2]:
No mencionado álbum, encontramos apenas duas mulheres, entre as 324 fotografias: Isabel Jacintha e Generosa Maria de Jesus. A primeira, escrava, a segunda, livre. O álbum, em duas versões, pertence ao acervo da Divisão de Manuscritos da Biblioteca Nacional, Coleção Dona Theresa Cristina.

Referências:
THIESEN, Icléia. A Casa de Correção da Corte e a fotografia identificatória (1859-1876). R. IHGB, Rio de Janeiro, 167 (430): 179-198, jan./mar. 2006.
KOSSOY, Boris. Um olhar sobre o Brasil: A fotografia na construção da imagem da nação (1833 - 2003). 1° edição. São Paulo: Fundación Mapfre e Editora Objetiva, 2012. p. 81.
THIESEN, Icléia. Informação identificatória, memória institucional e conhecimento - Isabel Jacintha da Silva, de cativa à prisioneira na Casa de Correção da Corte. LERASS – Laboratoire d’Études et de Recherches Appliquées en Sciences Sociales.

terça-feira, 17 de julho de 2012

BLOG SALAS DE CINEMA DO ES É NOTÍCIA


O blog http://salasdecinemadoes.blogspot.com.br/ foi matéria do Jornal A Gazeta e já renderam contribuições de imagens e depoimentos. Até o momento já foram 760 acessos e 7 países (Alemanha, EUA, Portugal, Angola, India, Rússia e Argentina).
Além disso, o projeto de pesquisa foi contemplado pelo edital 32/2012 do Fundo de Cultura do Estado do Espírito Santo – FUNCULTURA, referente a Projetos Culturais e Concessão de Prêmio para Inventário, Conservação e Reprodução de Acervos no Estado do Espírito Santo, isso será muito importante no tratamento da informação e a ampliação das fontes disponíveis no acervo que será depositado após o tratamento no Arquivo Público Estadual do ES e disponibilizado pela Internet.

A proposta é organizar um inventário analítico do acervo que é 100% digital e compreende fotografias, entrevistas registradas em audiovisual, notícias de jornais e revistas, além de documentos de arquivos público e privados. O objetivo é que o arquivo custodiado no APEES e disponibilizado pelo Blog possibilite ampliarmos o acervo e encontrarmos mais registros das 200 salas (aproximadamente) de exibição cinematográfica que funcionaram no estado do ES.

Esse projeto de pesquisa é um trabalho do Doutorado Interinstitucional Unb-UFES, na linha de pesquisa Organização da Informação, Grupo Acervos Fotográficos e conta com a orientação do Prof. André Porto Ancona Lopez.

sábado, 7 de julho de 2012

Blog Salas de Cinema Capixaba


Boa tarde,

Quem conheceu ou quer conhecer as salas de cinema que formaram a cinelândia capixaba podem visitar o blog http://salasdecinemadoes.blogspot.com.br/.

Todos ainda tem a oportunidade de colaborarem com novas fontes, comentários e na identificação das imagens e bibliografia.

...
Um grande abraço.

André Malverdes

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Semelhanças de estilo e organização da informação

 
              foto 1: copiada de Library of Congress;                          foto 2: copiada de Digifotoweb

Ao olhar atentamente para as imagens acima é possível notar alguma equivalência na composição: um elemento no primeiro plano que tem a orla do mar e o horizonte como pano de fundo, criando uma certa ambiguidade quanto ao tema principal que pode ser tanto o mar como a canoa ou o cão. Águas calmas e céu enevoado com luminosidade difusa também são elementos comuns em ambas imagens. 

Não é necessário ser especialista em história da fotografia - e nem ter acesso aos documentos físicos originais - para compreender que as semelhanças param por aí e que há uma distância de cerca de 100 anos entre os dois registros fotográficos. O hábito de retratar orlas marinhas, no entanto, é anterior à própria invenção da fotografia e cria um estilo pictórico que sobrevive ainda hoje. Panofsky, entre outros estudiosos trabalharam com muito mais profundidade essa questão e ela não está no foco da análise atual. 

A organização de coleções fotográficas, como é tradicional - e até mesmo esperado - buscará dar a ambas as fotos o mesmo tratamento informacional; isto é: criar pontos de acesso à informação por autoria (fotógrafo), data, assunto, técnica e coleção. No primeiro caso, como se trata de instituição bem estruturada e com recursos, além dos mencionados pontos de acesso a informação está sistematizada em uma ficha no formato MARC. O segundo caso, com recursos adequados, também poderia ter o mesmo tratamento. 

Somente quem tiver uma perspectiva arquivística saberá que essas outras equivalências também param por aí e que o conhecimento detalhado e preciso de todas as informações mencionadas acima é insuficiente para a compreensão de tais registros como resultantes de atividades de um titular e preservados como provas desse mesmo titular. 

No primeiro caso, a ficha catalográfica da Library of Congress é incapaz de indicar os objetivos que levaram Arnold Genthe a fotografar aquela cena e tampouco os motivos que o fizeram querer guardar documento(s) resultante(s) de tal ato. Assumimos que sempre se tratou de uma tomada estética e que sua preservação relaciona-se à preservação de um objeto de arte. 

No segundo caso há, como conheço pessoalmente o fotógrafo pode-se imaginar que tais informações estão mais bem sistematizadas; ledo engano: apenas posso supor que Niraldo Nascimento produziu a imagem em uma atividade de lazer e a preservou (do ponto de vista arquivístico) como registro de um passeio a Marataízes, mas não posso afirmar isso com certeza e tampouco sei se é plausível entender que o documento original seja realmente arquivístico.

A diferença fundamental não está no conteúdo, no histórico e nem no tratamento dado ao documento original. O exemplo em questão traz ainda outra particularidade, que é a reciclagem de uma mesma informação, produzindo outro documento. A foto 2, nessa acepção, não deve ser entendida como uma foto da coleção/arquivo de Niraldo Nascimento, porém como parte da informação do próprio Digifotoweb, posto que ela é integrante de um texto publicado neste blog (e agora é integrante de dois textos). Essa perspectiva muda absolutamente tudo: não se trata mais da foto de Nascimento, o documento a ser organizado e descrito é o post. Arquivisticamente ele é parte do projeto Digifotoweb e está relacionado à função de promoção de esforços para consolidação de redes de pesquisa relacionadas aos acervos fotográficos. A autoria da informação imagética e os direitos quanto à imagem permanecem inalienáveis com  Niraldo Nascimento, mas o post, ainda que escrito também, pelo mesmo autor da fotografia, é produto do Digifotoweb. Ele é também, sob a ótica de quem o escreveu, ao mesmo tempo, produção intelectual e registros dessa mesma produção (pode até ser elencado no Lattes). 

Esse post atual, que traz a reprodução das fotos de Genthe e de Nascimento, mesmo sem ter os direitos autorais delas, deve ser entendido como resultado do projeto Digifotoweb, não sendo arquivisticamente adequado desmembrar partes de um documento (o post) em função dos elementos imagéticos constituintes.

Fica ainda repassada a dica do Prof. Murilo Bastos, que impulsionou essa reflexão: a Library of Congress mantém disponível a maior parte da coleção fotográfica de Arnold Genthe. São cerca de 16.000 imagens, de um total de 20.000, sendo que muitas delas podem ser baixadas gratuitamente: http://www.loc.gov/pictures/
collection/agc

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Livro sobre fotografias de salas de cinema tem versão eletrônica gratuíta

Está disponível versão eletrônica gratuita do livro "Memórias fotográficas: a história das salas de cinema de Vitória", de autoria do Arquivista e Historiador André Malverdes. A obra conta com 102 imagens dos cinemas de rua do Espírito Santo, nas quais se busca recuperar os detalhes das salas, inaugurações, suas fachadas, telas e momentos que marcaram os seus freqüentadores e proprietários. 

O objetivo do trabalho foi possibilitar um passeio, através das imagens, pelos cinemas que marcaram a cidade, os bairros e o interior no seu espaço físico e no cotidiano, como formas de lazer que fizeram a  então Cinelândia Capixaba. Na época a caminhada pelos “cinemas de calçada” era a grande diversão da população.

O trabalho é resultado do projeto de pesquisa "Cine Memória: A história das Salas de Cinema do Espírito Santo" realizado pelo Departamento de Arquivologia do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da UFES, patrocinado pela Lei Rubem Braga e pela Arcelor Mittal. 

Para conhecer mais essa publicação, veja post anterior neste blog e/ou solicite o livro diretamente para o autor através do e.mail malverdes@gmail.com com nome, instituição, estado e explicando o interesse pela obra.

Público na fila para a sessão de inauguração do Cine São Luiz, com o filme "Aviso aos
Navegantes", na rua 23 de maio, 100, Centro, Vitória, ES, com capacidade de 586 lugares.
De frente de terno José Haddad Filho e sua namorada Mitzi. 1951.
Acervo Família Rocha. - Projeto "Cine memória: a história das salas de cinema do Espírito Santo"

VOCÊ TEM MAIS ALGUMA INFORMAÇÃO SOBRE ESSA IMAGEM?

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Faça amor não faça guerra

Copiado de G1-Mundo
A foto acima foi tirada após um quebra-quebra digno do esteriótipo do 3º mundo, após a derrota do time local na final do campeonato. O contexto da cena é inusitado para nós Brasileiros. Não se trata da depredação da Av. Paulista feita torcida do São Paulo Futebol Clube em 2005,  nem da depredação do estádio do Pacaembu pela torcida do Palmeiras, após derrota para o Cortinthians em 2010. Mas, surpreendente foi o fato de o evento ter ocorrido em uma das cidades com maior qualidade de vida do planeta: Vancouver, no Canadá, após uma final de hóquei. 

A foto em si mesma não apresenta nada de mais e apenas se remete aos fatos, ilustrando a reportagem jornalística, tendo sido difundida ao redor do mundo por inúmeros veículos de comunicação e informação. O valor arquivístico dela está parcialmente dissociado do episódio e liga-se às suas reproduções por tais mass medias, seja como registro de notícia veiculada, seja como referência à aquisição dos direitos de divulgação. De modo similar, os detentores dos direitos de autor, publicação e difusão também a guardarão como prova dos mesmos, em paralelo ao seu valor informativo.

O mesmo episódio, no entanto, foi responsável pela produção de outra imagem, muito mais relevante, do ponto de vista de nossa cultura e nossa história, que chegou a ser categorizada como "foto do ano", e retrata um casal em cenas românticas "calientes", no meio do asfalto durante o tumulto. A despeito do altíssimo valor histórico e cultural a reprodução dessa imagem guardará as mesmas relações arquivísticas de sua predecessora (reproduzida no início deste post); isto é: prova de execução de atividades (pela publicação/reprodução) para os mais diversos titulares (jornais, agências de notícias, este blog etc.) e/ou prova de direitos. A diferença está na atribuição de valor dada por nossa sociedade e cultura que, sem dúvida, atribuirá a ela importância imensamente superior aos outros cliques do evento, permitindo que ela quase supere os fatos jornalísticos retratados (o tumulto e a depredação) e se converta em ícone da não violência.

É nessa última acepção que este blog reproduz a candidata a "foto do ano 2011", desejando aos nossos internautas (leitores e colaboradores) um ano novo maravilhoso, com a apropriação de um velho bordão dos anos 1960-70:
Copiado de G1-Mundo

EM 2012 FAÇA AMOR, 

NÃO FAÇA guerra!!!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Recursos para trabalhar com imagens via Web

Pong. Hands and filmstrips - Copíado de Free Digital Photos.net
Muitas vezes para que se possa fazer uma reflexão sobre documentos imagéticos de arquivo a exemplificação e a ilustração podem facilitar o entendimento e a recepção do texto. O uso indiscriminado do "recorta-e-cola", além de gerar problemas quanto à organicidade documental (ver aqui) além de infringir direitos de autor e de divulgação (ver post sobre o tema aqui). O coleg@ Juan Chileno Milla, que é peruano, nos dá uma útil dica de 16 ferramentas gratuitas para a edição de imagens (clique aqui), além dos links para 15 bancos de imagens de uso gratuito para fins não comercias (veja aqui). Agora além da dica aos colaboradores deste blog para a correta referenciação do material utilizado fica divulgada a informação sobre recursos facilitadores.

Veja aqui o post original de Juan Chileno e aproveite para conhecer interessantíssima comunidade docente virtual.

Publicado originalmente em Diplomática e Tipologia Documental

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Folksonomia e indexação de fotos

Copiado de Netnografando

Considerações sobre o uso da folksonomia como recurso para indexar fotografias postadas em ambiente web

Alessandra dos Santos Araújo *

O termo folksonomia foi utilizado pela primeira vez por Thomas Vander Wal numa lista de discussão sobre Arquitetura da Informação, em 2004. À época, os profissionais da área estavam atentos e curiosos sobre a estratégia de classificação inovadora que websites como Del.icio.us e Flickr adotavam. Os usuários destes websites enviavam suas contribuições de conteúdo juntamente com qualquer palavra-chave descritora que entendessem pertinentes. Estas tags ou etiquetas eram usadas para posterior recuperação da informação, sem qualquer controle por parte do website. 

Na lista de discussão, Eric Scheid propôs o termo “folk classification” e Thomas Vander Wal complementou sugerindo “folksonomy”, aglutinando o termo “folk”, do germânico, que significa “povo”, e “taxonomy”, do grego, “regra de divisão”. A folksonomia se tornou popular a partir do momento em que foi lançado pelo Del.icio.us, um serviço de bookmarking online centralizado no indivíduo. Este serviço nasceu a partir de necessidades bem pessoais, onde as pessoas indexavam suas fotos, de acordo com seu interesse e necessidade, sem seguir normas, ou regras de vocabulários controlados. 

Quando falamos em indexação de imagem podemos citar Panofsky (1979), que propõe que a análise da imagem seja dividida em três níveis: pré-iconográfico, iconográfico e iconológico. Podemos resumir da seguinte forma os três níveis de Panofsky: o nível pré-iconográfico, como uma descrição; o iconográfico, como uma análise; e o iconológico, como uma interpretação. Jongersen (1996), afirma que o maior problema intelectual envolvendo a indexação de imagens é como indexá-la. Segundo a autora, isso acontece por falta de estudos sobre a percepção humana de imagens pictóricas. Não é possível realizar uma boa indexação de imagens sem compreender como o ser humano “lê”, e compreende a imagem. Com o surgimento dos sites onde “depositamos” as fotografias, geralmente de cunho pessoal, a folksonomia ou a forma descontrolada de indexar, foi aumentando. Para Catarino e Baptista (2007), um dos problemas causados pela folksonomia é a polissemia, a sinonímia e a ambiguidade, que ocorre porque a folksonomia não trabalha com padrões ou critérios pré-definidos, nem mesmo com objetivos. Cada um atribui a etiqueta que lhe é mais conveniente. Muitos projetos de acervos de fotografias estão sendo disponibilizados na internet, com o objetivo de divulgar suas imagens, que contam com a colaboração livre dos usuários para tagear as fotografias. 

Um projeto inédito onde os usuários colaboram para esse processo acontece nos Estados Unidos, na Biblioteca do Congresso. As fotografias ficam disponíveis para os usuários do Flick, através do blog da biblioteca (http://blogs.loc.gov/loc/2008/01/my-friend-flickr-a-match-made-in-photo-heaven/). 

A Biblioteca do Congresso já publicou duas coleções no Flickr: a American Memory: Color photographs from The Great Depression, com 1615 fotos dos anos 1930 e 40, período de grande crise nos EUA; e a The George Grantham Bain Collection, com 1500 fotos P&B de trabalhadores e da cidade de Nova York dos anos 1910. Um exemplo da aplicação da folksonomia no projeto da Biblioteca do Congresso é a imagem abaixo:

Na fotografia acima selecionamos algumas tags utilizadas pelos usuários para indexar: 
O que observamos no caso acima apresentado é, a rigor, a indicação daquilo que a imagem, por meio de tags, representa para o usuário, o que se dá sem a utilização de regras, sem normas, sem referência a maiores detalhes que possam ser considerados na recuperação. Vale dizer que a folksonomia não substitui um vocabulário controlado, nem uma análise mais elaborada de uma fotografia, assim como seu conteúdo e seu significado. Trata-se de um novo recurso, que com o advento da web 2.0, representa o modo como as pessoas se comportam, se identificam e se relacionam com o fato fotográfico.

É portanto, uma forma nova de fazer uma leitura pessoal dos acervos fotográficos disponibilizadas na internet. Por outro lado, a folksonomia não deve ser vista apenas como mais uma forma de classificar, mas deve ser entendida também como uma estratégia cultural, particularmente apropriada pelas redes sociais, ou para sites de compartilhamento, mediando a relação do individuo com a esfera pública e particular da sua vida. Não podemos considerar descontrolado o vocabulário criado por um usuário, por meio da folksonomia, para identificar suas fotografias. O controle não é forçado, não obedece regras, apenas considera ou representa uma primeira percepção do indivíduo sobre a imagem.

* Mestranda Pós Graduação em Ciência da Informação – UNB. 
Aluna da disciplina Seminário em Acervos Fotográficos.


REFERENCIAS

BIBLIOTECA DO CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS. http://www.flickr.com/photos/library_of_congress/2163450764/in/set-72157623212811048/ (Blog). Washington, 2011. Acesso em: 2 de julho de 2011. 

CATARINO, Maria Elisabete; Baptista, Ana A. Folksonomia: um novo conceito para a organização dos recursos digitais na web. In: Revista DataGramaZero, v.8, n.3, jun. 2007.

JONGERSEN, Corrinne. Indexing imagens. Testing na image descption template. In: ASIS 1996 (Annual Conference Proceedings). October, p. 19-24.

PANOFSKY, E. Significado nas artes visuais. 2.ed. São Paulo: Perspectiva, 1979. (Debate, 99).

SMIT. Johhanna W. A representação da imagem. In: Informare – Caderno do Programa de Pós Graduação em Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v.2, n.2, p 28-36, jul./dez. 1996.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Quem sou? À que motivos estou aqui e qual será o meu fim?

Fonte: http://olharsecular.blogspot.com/2011/02/quem-sou-eu.html
Imagens/fotografias na internet sem informação de conteúdo, de contexto administrativo ou de origem deslocadas no tempo e espaço.

Na internet há uma grande quantidade de imagens e/ou fotografias disponibilizada ao público, no entanto o que podemos observar, é que estas imagens passam a ser de uso geral, como não constam as informações de conteúdo, de contexto administrativo ou de origem, podendo ser descritas, contextualizadas e re-contextualizadas de acordo com interesse de cada usuário.  Esta é uma visão de acordo com autores sobre o entendimento da imagem pictória/fotografia (BAXANDALL,1991;  GOMBRICHI, 2007,2008; KOSSOY, 2009a, 2009b, 2007; PANOFSKY, 1995, 2001).

O que vemos, é uma série de documentos imagéticos sem descrição, de acordo com Lopez (2011)[1], “o documento imagético sem descrição, será somente considerado fotografia”. Porém, o usuário na tentativa de fazer uma descrição vai estruturá-la pelo  seu ponto de vista de conteúdo sem uma análise crítica do contexto administrativo. Assim, cada uma das descrições criadas (feitas) vai trazer a tona uma série de informações, estas dependendo de quem estará fazendo a descrição e essas informações vão acabar sendo influenciada pela bagagem cultural e do conhecimento do descritor em relação à imagem/fotografia. Hoje, com a disponibilidade dos arquivos de imagens e fotografias na rede, podemos observar que os sistemas descritivos são fraco, inclusive para própria busca de uma imagem/fotografia, o que vemos é sempre uma imagem sem o contexto do conteúdo e sem o contexto que motivou a própria imagem/fotografia. Isso se justifica por serem imagens disponibilizadas sem vínculos institucionais, pois de acordo com Parinet (apud LOPEZ, 2000, p. 173) o documento imagético, sem dúvida, está sujeito a uma autonomia maior em ralação ao seu contexto de produção do que seus limites textuais. Essa autonomia, é  basicamente resultado  da falta de dados contextuais potenciais e de outras características não administrativas, como a influência do fotógrafo, do equipamento, do valor estético conforme posíção de Kossoy (2009a, 2009b.2007).

Fonte: http://toforatodentro.blogspot.com/2010/04/quem-sou-eu.html
Então, o que poderíamos dizer é que na internet temos “bancos de imagens/fotografias” no qual poderá ser descrita á nível de conteúdo ou de contexto administrativo conforme o interesse, do uso e da re-utilização da imagem. Desta forma, a imagem/fotografia poderá ser utilizada para outra finalidade diferente da finalidade de origem, transformando-se em outra informação diferentemente da informação de sua origem e fazendo parte de outro contexto conforme o interesse de quem estará fazendo uso de mesma. Nas duas imagens utilizadas neste post, poderão ser acessadas as fontes e visualizar uma reflexão sobre o tema de forma ampla, do "eu como ser" e do "eu fazendo parte de um contexto documental" e assim fazendo uma comparação com a "fotografia ou imagens" na internet deslocadas no tempo e no espaço. Imagem/fotografia, afinal quem sou eu? Antes, um quadro podendo ser uma paisagem ou um retrato pintado a mão, hoje uma fotografia no papel ou numa moldura, ainda dados (bits ou bytes) de uma imagem digital, com que descrição, a que contexto pertenço e a que motivos foram ou são os da minha existência em que tempo e que espaço? Então minha vida e meu fim a quem pertence? Assim, estas questões são levantadas em virtude desse vasto conteúdo imagético na rede. 

[1] Aula do dia 08 de Julho de 2011 no CEDOC-UNB da Disciplina Acervos Fotográficos do Prof. André Porto Ancona Lopez.

 Referências:
BAXANDALL, Michael. O OLHAR RENASCENTE: Pintura e a experiência social na Itália da Recnascença. 1 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1991.
GOMBRICH, E. H. ARTE E ILUSÃO: Um estudo da psicologia da representação pictórica. Trad. Raul de Sá Barbosa, 4 ed. São Paulo:  WMF Martins Fontes, 2007.
__________, HISTÓRIA DA ARTE. Trad. Álvaro Cabral. 16 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
KOSSOY, Boris. FOTOGRAFIA  HISTÓRIA, 3ed. rev. amp.São Paulo: Ateliê Editorial, 2009a._______, REALIDADE E FICÇÕES NA TRAMA FOTOGRÁFICA, 4 ed. rev. São Paulo,: Ateliê Editorial, 2009b._______,  OS TEMPOS DA FOTOGRAFIA. 2 ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2007.LOPEZ, André Porto Ancona. AS RAZÕES E OS SENTIDOS.  São Paulo: USP, 2000. Tese de Doutorado em História Sociais, Faculade de Filosófia, Letras e Ciências Humanas da USP, 2000.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Narrativa da Foto Invisível


Niraldo J. Nascimento
Doutorando em Ciência da Informação - UnB

Muitas pessoas tiveram a experiência de ouvir histórias, na infância, contadas por pais, avós e outros parentes e algumas delas ficam internalizadas, às vezes por medo, às vezes por beleza, ou outros motivos. Também pode ter sido um conto ou uma novela que lemos ou leram para nós. Chamemos isso de narrativas, embora o termo em voga seja Storytelling, que Palacios (2007, p.15) define como "[...] um termo em inglês utilizado para definir a arte ou a técnica do emprego de histórias como forma de contextualização de um conjunto de informações".

Na década de 70, Robert Pirsig reintroduz o termo "chautauqua" em seu famoso livro "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas". As chautauquas foi um movimento de educação de adultos que alcançou ampla repercussão nos Estados Unidos, em especial o Movimento Lyceum, que ganhou popularidade e era indissociavelmente ligado ao Transcendentalistas: Ralph Waldo Emerson, um dos primeiros palestrantes (deu cerca de 100 palestras no Concord Lyceum) e Henry David Thoreau, que leu sua publicação - "Desobediência Civil" -  publicamente e pela primeira vez, no mesmo lugar em 1848.

No Brasil, temos a Ação Griô que procura preservar a tradição oral das tribos indígenas brasileiras, como patrimônio nacional.

Ontem me deparei com um conto (uma narrativa), chamado "A Fotografia". Foi postado no blog Caminhar, de minha amiga Laura Diz e escrito por sua mãe, Léa Muniz, ganhador do concurso de contos do Banco Real há alguns anos.

O que me chamou a atenção foi a beleza da narrativa e um aspecto peculiar: as condições da produção estão detalhadamente descritas mas a fotografia não existe. Reproduzo o conto abaixo, com autorização da Laura, no intuito de provocar uma discussão: mesmo sendo uma narrativa, se o contexto de produção existe, a fotografia também existe? Ela pode ser considerada real, não como documento de arquivo, mas como uma criação mental? Ficam abertas as questões.


A fotografia
Lea Muniz Diz

Chovia uma triste chuva de desolação. Meus pés feriam-se nos seixos da rua sem calçamento tentando acompanhar os apressados passos de minha mãe. O guarda-chuva de meu pai, bastante grande para nós duas, na sua precipitação, só servia para me molhar, tanta a chuva que descia pelos meus cabelos e ombros. Atravessamos o portão escancarado e seguimos por uma alameda ladeada por dois renques de ciprestes. Os galhos entrelaçavam-se e, arriados quase até o chão, fustigavam-me o rosto. Lembro que floresciam azaléas vermelhas. Nos fundos a casa simples de madeira. Minha mãe empurrou a porta entreaberta. Alguém, com um sinal de cabeça, apontou a porta à direita e ela me deixou dizendo para que a esperasse. Sentei junto de uma velha negra que desfiava um rosário, intercalando uma vez que outra: Que barbaridade! Outras pessoas chegavam ansiosas. Entravam e desapareciam atrás da porta cerrada para voltarem minutos depois com ar compungido. No fogão crepitavam as chamas da lenha. E junto da parede, perto da chaminé, em uma frigideira enegrecida, um braseiro queimava galhos de alecrim e de arruda de onde subia uma fumaça aromatizada. D. Nercinda, a negra velha, levantou e, com um graveto, revolveu as brasas da defumação. Despejou água quente no bule de café. A chaleira voltou para a chapa que provocava estalidos que se misturavam aos murmúrios no quarto. Houve um gemido alto. Tenha calma, D. Rosa. Tenha calma.. Alguém pegou a bandeja com as xícaras de cafezinho e percorreu a sala. Na minha vez passou adiante. Criança não toma café. Não sabia bem que estava acontecendo. Houve o chamado urgente para minha mãe que saiu quase correndo, arrastando-me pela mão. Na pressa nem calçou meus sapatos.  
O tempo escoava nas mãos quietas da mulheres e nas contas do rosário que se esgueiravam pelos dedos negros. A sala tornava-se pequena à medida que mais gente chegava. A mulher do cafezinho veio até a mim para dizer para eu levantar e dar o lugar para D. Isabel. Fiquei de pé. Minha mãe não vinha. Examinava eu as pessoas a minha volta. Em algum momento caia sobre mim um olhar distante e impessoal. Ninguém me via. Incomodavam-me as roupas ensopadas e tremia sem saber se era de frio ou de nervosismo. D. Nercinda persignou-se, beijou o crucifixo, guardou o rosário em uma bolsa de verniz e finalmente me notou.
- Cruzes, como esta coitadinha está molhada. Vamos lá dentro tirar essa roupa pra secar e tomar uma coisa quente.
Pendurou meu casaco no barbante estendido em cima do fogão e trouxe para mim uma xícara de leite bem quente. Só então me animei a fazer a pergunta guardada:
- Virgínia...Virgínia vai morrer?
Ela suspirou fundo.
- Não sei, minha filha, não sei. Essas coisas a gente nunca sabe. Só Deus. Engoli o leite, agora salgado pelas lágrimas que eu não conseguia conter e que desciam para dentro da xícara.
Quando o médico chegou, D. Rosa deixou-o a sós e veio para a cozinha. Atirou o corpo magro no banquinho de lenha. Vestia-se de preto com um xale verde nos ombros.
- Por quê? Por que ela fez isso, vocês sabem? Me pergunto, me pergunto e não encontro a resposta. 
Pergunto para ela e só me olha. Me olha e sorri. Juro que quando ela sorri tenho vontade de voar em cima dela e dar uma bofetada na cara desavergonhada. Parece que alguém me segura. Deve ser o espírito do falecido. Semicerrou os olhos. Há um mistério. Ela esconde alguma coisa de muito grave. Pensa que me engana. Nunca pôde me enganar. Eu conhecia Virgínia com uma simples mirada.
Uma voz tímida interferiu:
- Não diga conhecia, D. Rosa.
Ela pareceu não escutar e continuou falando como se fizesse para si mesma.
- Era olhar para ela e eu já adivinhava se tinha feito ou não boa prova. Ai, quem havia de pensar. Uma mãe tão boa receber da única filha um golpe como esse. Sei que fui dura algumas vezes. É preciso. Ninguém educa com moleza. ( O símbolo da sua energia pendia de um prego na parede. Não fazia muito Virgínia correu para nossa casa, o rosto marcado pelo rebenque).
Pensei que seria agradecida. Ingrata. Ingrata. (ofegava) Não teve pena da mãe que sacrificou a vida por ela. Recusei muitos homens para não lhe dar um padrasto. (Fez uma pausa). Mas não vai morrer sem contar porque fez isso. Algum namorado? (Seus olhos arregalaram-se e ela se ergueu do banco. Alta, magra de preto, ali, no meio da cozinha se me afigura hoje, uma visão apocalíptica). Deve ter feito alguma coisa vergonhosa. Sentou de novo e deixou-se ficar muda embalando o corpo para frente e para trás, os olhos no chão apertando o xale de encontro ao peito. Ergueu o rosto e pareceu notar as pessoas que a cercavam. Ela devia ter algum namorado. Quem? Foi quando me viu. Estendeu a mão e com os dedos longos e magros lançou o braço na minha direção. Recuei assustada, encostando-me na negra. Ela defendeu-me:
- Ora, D. Rosa, que pode saber uma criança? Se Virgínia tivesse um namorado teria trazido para a senhora conhecer. Tão boa filha.
- Boa filha, boa filha. Isso é o que pensavam. Aí está a bondade dela. Na hora em que ia dar aulas e ajudar nas despesas da casa me deixa sozinha. Vocês não sabem. Era brasa escondida.
A mesma voz que verifiquei era de D. Marica, voltou a observar que ela não devia falar como se fosse passado.
- Afinal ainda vive e talvez não morra.
Voltou, rápida a cabeça em direção à D. Marica:
- Será que vão me dizer até como devo falar? Repito : brasa escondida. Como o pai. Fechada como ele. Dava mais atenção para essa menina do que para mim. Pra mim era: benção, mãe, ou té logo, mãe... e quando eu me queixava dizia: nasci assim. Não temos nada pra conversar. Ai, que vida a minha. (Passou o lenço pelos olhos secos) Por que Deus tinha que me dar uma filha pra criar sem pai, e ainda ingrata? 
O médico chamou-a e ela foi para o quarto. Já devia ser a hora do almoço quando minha mãe apareceu. Um arco-íris desenhava-se no céu quando deixamos a sombria alameda de ciprestes. Caminhamos algum tempo caladas. Em dado momento me veio a pergunta:
- Ela vai morrer?
- Acho que vai.
- Não queria que morresse. Gosto tanto dela. Não vou ver ela nunca mais. Para onde vão os mortos?
- Não sei. A vida é assim. Nascemos para morrer. É, todos morremos, um dia.
- Eu pensava que as pessoas morriam quando ficassem velhas ou doentes. Virgínia não estava doente. Ainda ontem fomos à confeitaria tomar sorvete.
(Não contei que, depois do sorvete fomos até a casa de Dr. Cláudio para entregar um bilhete para o Paulo, seu namorado. Ele ficou muito branco quando leu o bilhete e, na janela mesmo, começou a escrever uma resposta. Mastigava o cigarro que não acendeu. Depois, ele amarrotou o papel e mandou o recado de que iria vê-la logo à noite).
Minha mãe voltou ao assunto:
- Não não estava doente.
- Ela quis morrer, mamãe?
- Quis.
- Como é que se faz quando se quer morrer?
- Por que quer saber? Crianças de oito anos têm outras preocupações. Pensam em brincadeiras, em coisas alegres.
- D. Marica disse que foi veneno. Para formigas?
- Não queira saber.
- É bom saber, mamãe. A gente, um dia pode querer morrer também.
Minha mãe estacou estupefata. Abaixou-se e me abraçou.
- Não repita nunca mais isso. É pecado, é errado. Ninguém pode tirar a vida de ninguém e nem a sua própria.
No fim-de-tarde desse mesmo dia voltamos à casa de D. Rosa. O movimento havia diminuído. Virgínia estava sentada na sala com o seu melhor vestido, um vestido branco com listras azuis.(Notei a boca queimada). Meus lábios tremeram e., a custo, contive as lágrimas. Acenou para que eu fosse até ela. Abraçou-me com força e me encostou junto a ela. Com o dorso da mão direita fez-me uma carícia na face. Minha mãe não se conteve:
- De quem foi essa idéia de tirá-la da cama? Ela não está em condições de ficar aqui.
- Foi minha idéia. Eu é que decido o que é bom pra minha filha. Estamos esperando o fotógrafo.
Virgínia pousou o olhar na mãe, um olhar demorado e avaliador. Ia me afastar e ela me reteve, apertando de leve minha mão. O silêncio era imenso. Escutava-se apenas a algazarra dos pardais que se recolhiam nos ciprestes.
O fotógrafo chegou e seu sorriso se desvaneceu.
- Pensei que era um aniversário.
D. Rosa apontou Virgínia:
- É ela que vai tirar fotografias.
Falou o fotógrafo:
- Não seria melhor deixar para um outro dia. Quando ela estiver bem?
A voz fria e áspera de D. Rosa fez-se ouvir:
- Ela não vai ficar boa. Se não quiser tirar eu chamo outro.
- Não seja por isso. Vou tirar. É uma opinião.
- Ninguém lhe pediu opinião.
O rapaz preparou a máquina dirigindo-se à Virgínia:
- Como é que você quer? Só o rosto?
Do canto onde estava respondeu D. Rosa:
- Corpo inteiro. De frente e de perfil e quero que fique embaixo do retrato do pai dela para ele aparecer também.
Assim que o rapaz se foi, minha mãe, com delicadeza deitou Virgínia no divã. D. Rosa atirou-se em cima dela, sacudindo-a com violência pelos ombros:
- Diga, diga por que fez isso, sua infeliz. Diga. Não pode morrer sem me dizer.
Ao ter certeza de que jamais teria resposta, permitiu que a arrastassem para o quarto. Desvairada, cabelos defeitos, fazia-se escutar longe:
- A fotografia. A fotografia. A fotografia me dirá.


Referências:
MUNIZ, Léa. A Fotografia. Reproduzido por DIZ, Laura. Blog Caminhar. Disponível em <http://lauravive.blogspot.com/2007/02/conto-fotografia.html>. Acesso em 25 de julho de 2011.
PALACIOS, Fernando R. A contextualização criativa de histórias como fator de sucesso no planejamento de campanhas de comunicação. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade de São Paulo. Escola de Comunicações e Artes: Departamento de Relações Públicas,Publicidade e Turismo. Curso de Relações Públicas. São Paulo, 2007.