Mostrando postagens com marcador Recursos práticos e semi-bibliográficos. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Recursos práticos e semi-bibliográficos. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A representatividade dos acervos fotográficos na acadêmia brasileira


A tarefa de quantificar sistematicamente o que se vem produzindo cientificamente é algo complexo, sempre incompleto e passível de melhoras. Existem muitos sistemas, plataformas e bases de dados para esse tipo de atividade, nas mais diferentes esferas e áreas. Uma delas é a Base ABCDM (Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação e Museologia), produzida e mantida pela Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília (FCI/UnB), desde 2001, que contém referências bibliográficas de cerca de 10 mil registros de artigos de 35 revistas científicas brasileiras nas áreas de foco indicadas, cobrindo o período de 1963 a 2013. Inclui também os artigos de todas as edições do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação (ENANCIB), de 1994 a 2013. O acesso pode ser feito na FCI/UnB e/ou pela solicitação de pedidos de busca diretamente para o editor da ABCDM, Prof. Dr. Jayme Leiro (jleiro@unb.br).

A busca na base 2014 (dados até 2013) nos campos “Título” e “Palavras-chave” pelo termo “foto$” gerou 103 referências, indicando que no Brasil, no âmbito científico, ligado à Ciência da Informação e áreas afins, a discussão sobre fotografia está presente em apenas cerca de 1% das publicações periódicas. A consulta dos termos combinados “foto$” AND “arquiv$” retornou com 23 artigos somente, sendo apenas 03 anteriores a 2004 (o que significa uma produção recente de menos de dois artigos por ano), destes 09, (ou seja, cerca 40% da produção contemplada na base de dados) foram produzidos a por pesquisadores do Grupo de Pesquisa Acervos Fotográficos (aceda aqui ao relatório gerado pela base no dia 18/set/2014, com destaque à produção do GPAF). A revista Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro não está na base e se estivesse elevaria a participação do GPAF no cenário proporcional, com os 04 artigos que o grupo publicou naquele periódico em 2013 (acesso aqui).

Independentemente do critério de quantificação, os dados nos mostram uma preocupante ausência da temática da fotografia na discussão especializada nacional, apontando, não obstante, para um papel relevante do GPAF nesse cenário, sobretudo no que tange à discussão relacionada aos arquivos.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Depoimento de Fernando Palácios


Esta é uma série de posts sobre Fotografia e Storytelling, fruto de conversas e discussões com Bruno Scartozzoni, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, que oferecem o curso sobre essa área na Escola Superior de Marketing de São Paulo - ESPM. 

  • Aceda ao primeiro post da série aqui;
  • Aceda ao segundo port da série aqui

O DIGIFOTOWEB agradece a Fernando Palácios por sua contribuição, e sua disponibilidade, em viagem (não poderia deixar de ser), ao nos conceder essas considerações e reflexões, gravado em vídeo em Singapura, em abril de 2013.

Conhecido como "W'onderer Writer e a Volta ao mundo", nas Redes Sociais, Palácios aponta e levanta questões muito pertinentes ao universo da fotografia e suas correlações com o Storytelling, que merecem ser discutidas!

Vídeo de 9 minutos, imperdível! Clique aqui para assistir, ou no link abaixo!


FERNANDO PALACIOS é um dos fundadores do primeiro escritório de Storytelling no Brasil, a Storytellers Brand 'n' Fiction que tem como principais cases: a peça de Teatro "Filhas do Dodô" para J. Macêdo e "O Mistério das Cidades Perdidas" para Mini-Schin que superou 2 milhões de leitores na internet. Criou o primeiro curso universitário de Transmídia Storytelling ministrado na ESPM. Responsável pelo storieswelike.blogspot.com, primeiro blog sobre o assunto. Como planner participou de projetos como Nokia Trends, Camarote da Brahma, Skol Beats e o lançamento do portfólio de cervejas premium da AMBEV. É formado na USP. Em seu próximo projeto irá narrar sua busca pelas Maravilhas da Humanidade enquanto escreve uma obra de ficção a partir de um aparelho celular.

domingo, 9 de junho de 2013

Entrevista com Bruno Scartozzoni II

Foto: Xícara de porcelana japonesa finíssima, quase centenária. Quando o fundo é exposto a uma fonte de luz, "revela" diferentes fotografias. Coleção da designer de jóias e escultora Mara Nunes, fotografada pela arquiteta Silvana Andrade.
Esta é uma série de posts sobre Fotografia e Storytelling, fruto de conversas e discussões com Bruno Scartozzoni, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, que oferecem o curso sobre essa área na Escola Superior de Marketing de São Paulo - ESPM. 

Veja quem é Bruno Scartozzoni no primeiro post da série clicando aqui.

Benvindos ao DigifotoWeb e grato pela significativa e importante contribuição para esse assunto!!!


1) Obrigado, Bruno, muito interessante a primeira parte da entrevista. O exemplo do conto do Hemingway é instigante. A primeira questão foi justamente para discutir esse elemento ficcional. Pelo que tenho observado, o storytelling vem sendo utilizado em várias áreas, inclusive nas organizações. Lendo o livro livro "Storytelling in Organizations : Why Storytelling Is Transforming 21st Century Organizations and Management" me surpreendeu ver, Laurence Prusak, um dos gurus da Gestão do Conhecimento, abordando o assunto.
Pois é, isso tem acontecido. Mas é preciso separar o joio do trigo. Há quem entenda o conceito e realmente tente aplicá-lo às suas respectivas áreas, como também há quem não entenda o conceito e entre nessa pelo modismo, porque "pega bem" usar uma buzz word. Não sei em qual caso está o livro que você citou, mas já li vários artigos por aí tentando dar uma "acochambrada" nas coisas para forçar com que elas caibam em algo que já é feito de um jeito, e nem se tem pretensão de mudar. Por exemplo, algumas pessoas dizem que no storytelling para marcas, o personagem é o produto. Isso não faz o menor sentido, a menos que o produto pense, haja e sinta como um ser humano, como o Variguinho (bom exemplo dos anos 90) ou o Dollynho (péssimo exemplo atual). Mas obviamente não é disso que esses artigos estão falando. Eles só querem validar algo que já existe com um conceito da moda.
2) Pruzak escreveu uma frase que me chamou a atenção: "Stories about our history". A rigor, a diferença que você estabelece entre "story" e "history" é perfeita, mas se pensarmos na frase de Prusak, o que temos realmente são histórias sobre a nossa história e essas possuem uma dinamicidade à luz de novos fatos. A Guerra do Paraguai, por exemplo, vem sendo recontada em vários livros, à medida que os autores e pesquisadores têm acesso a novos documentos.
Então, aí a gente começa a entrar em um terreno bastante conceitual. Mas OK, peguemos a Guerra do Paraguai como exemplo. A "history" seria a sequência de fatos, e essa eu sei que tem sofrido muitas contestações. Por acaso conheci alguns paraguaios recentemente e conversamos bastante sobre isso. A visão brasileira diz que o Brasil sofreu uma pressão da Inglaterra para atacar. A visão paraguaia diz, em resumo, que o Solano era expansionista mesmo e que, considerando a época e o contexto, a guerra foi um resultado de conflito de forças da região, nada tendo a ver com a Inglaterra.
Me parece que de uns tempos para cá vários autores brasileiros estão apontando essa segunda visão como mais correta, historicamente falando, e a primeira teria um forte componente político dentro de uma crença de que nossas mazelas são resultado das ações imperialistas etc. Mas, até aqui, estamos falando de "history".
"History" vira "story" quando esses fatos são vistos pelo ponto de vista de um ou mais personagens, e quando se toma distância da frieza dos fatos e se adiciona emoção. Se for possível recontar a Guerra do Paraguai com esse tipo de enquadramento, aí estamos falando de storytelling.
Pegando a 2ª Guerra Mundial para fechar o raciocínio, podemos contá-la de dois jeitos:
- No ano tal a Alemanha elegeu um novo presidente, Adolf Hitler, que tinha um projeto expansionista para o país. Pouco tempo depois a Alemanha começou a invadir e anexar países vizinhos. etc.
- Era uma vez um cara chamado Adolf Hitler. Um artista de não muito sucesso que se envolveu em política e, depois de ser preso, acabou seduzindo o povo alemão com seu discurso radical. Pouco tempos depois ele torna presidente da Alemanha e começa a construir um aparato militar que, mais para frente, daria início a anexações e conquistas dos países vizinhos. etc.
A primeira é HISTORY, a segunda é STORY.
3) Em termos de imagem, sabemos muito bem que o "Grito do Ipiranga" não foi nada parecido com o que Pedro Américo retratou em sua pintura de 1888; de como Stalin eliminou Trotsky das fotografias; até manipulações mais recentes, como da British Petroleum, tema de um post no nosso blog.
São ótimos exemplos de manipulação da informação. Mas o que essas fotos mudam são os fatos históricos (history). A história (story) está em quem ordenou a mudança, porque ordenou a mudança, qual era o objetivo da pessoa, quais foram as consequências, o que foi transformado por causa disso, e como o conflito se resolveu.
4) O que me deixou em dúvida, perante à linha acadêmica do post, é a conclusão de que storytelling se refere a "... ficção, conto, literatura etc.". Vou dar um exemplo pessoal, partindo do princípio de que narrativa e storytelling têm o mesmo significado para alguns autores. Em minha tese pretendo trabalhar com imagens e narrativas de ferroviários, familiares e descendentes. Nesse caso, estaria cometendo um erro ao utilizar o termo "storytelling" ou poderíamos ampliá-lo de modo que pudesse abarcar essas narrativas como história, no sentido de depoimentos reais?
Depoimentos reais sobre histórias de vida são "story". Depoimentos reais sobre fatos são "history". Então depende do tipo de depoimento que você vai tomar.
"A estação de trem foi construída em 1967" - history
"Eu cheguei aqui em 1967, quando a estação de trem tinha acabado de inaugurar, e lembro que era bonita sabe? Fiquei de boca aberta ao vê-la pela primeira vez" - story
O primeiro geralmente é o depoimento técnico. O press release que a empresa manda. Sem emoção. Sem envolvimento.
O segundo é um depoimento que parte de um ponto de vista. Emocional. Potencialmente envolvente. Portanto, com maiores chances de conquistar a atenção das pessoas.
Essa pergunta vale também para a nova timeline do Facebook. Na época do lançamento o Mark disse que o Facebook agora tinha storytelling. E eu digo que depende. O espaço está lá, mas o que você vai escrever nesse espaço? Isso muda tudo.

No próximo post, depoimento inédito em vídeo de Fernando Palácios, o reconhecido "W'nderer Writer e a Volta ao Mundo", gravado em Singapura, exclusivo para o DIGIFOTOWEB. Acesso aqui.

sábado, 8 de junho de 2013

Entrevista com Bruno Scartozzoni I


Esta é uma série de posts sobre Fotografia e Storytelling, fruto de conversas e discussões com Bruno Scartozzoni, Fernando Palacios e Martha Terenzzo, que oferecem o curso sobre essa área na Escola Superior de Marketing de São Paulo - ESPM.

Bruno Scartozzoni é um profissional multi-disciplinar de planejamento e estratégia de comunicação com mais de 10 anos de experiência, atendendo clientes como Nokia, Nestlé, Sony, AmBev e Sebrae, em passagens pelo Banco de Eventos, Aktuell e Talk Interactive. Graduado e pós-graduado em Administração Pública e Administração de Empresas, em ambos os casos pela FGV. Foi um dos fundadores da Storytellers, primeira agência brasileira especializada em criar histórias para marcas. Hoje é sócio e diretor de planejamento da Ativa Esporte, professor de storytelling e transmídia da ESPM SP e da ECA-USP, colaborador do Update or Die e editor do blog Caldinas.

Benvindos ao DigifotoWeb e grato pela significativa e importante contribuição para esse assunto!!!

1)  No ambiente acadêmico, em geral (com exceções para a área de Comunicação) costuma-se utilizar mais o termo “narrativa” do que “storytelling”. Há diferença entre os termos? Pode-se afirmar que a narrativa é um tipo de storytelling?
Essa pode ser uma pergunta bastante capciosa, então tentarei responder da forma mais honesta possível. Palavras como "narrativa", "storytelling" e "história" vem sendo utilizadas à exaustão nos últimos tempos, independentemente da área. Inevitavelmente isso faz com que seus significados comecem a se perder e, na prática, as pessoas começam a utilizá-la para qualquer coisa. Sendo assim, essa resposta depende muito do se entende desses conceitos.
Storytelling, traduzido para português, seria contar histórias, ou contação de histórias. Mas, dentro da língua inglesa, é preciso entender que Story e History são coisas diferentes. "Story" é basicamente um padrão de estrutura narrativa, na essência um personagem superando obstáculos para alcançar um objetivo. Essa estrutura geralmente está ligada à ficção, mas nem sempre, afinal existem documentários e "stories" baseados em fatos reais. Já "History" corresponde aos fatos como realmente aconteceram, o mais próximo possível da realidade. "History" de Roma. "History" da vida privada etc. Em português uma palavra só, "história", abraça esses dois significados. Mas quando estamos falando de storytelling, o significado é o que corresponde à "story".
Continuando o raciocínio, quando se busca por narrativa nos dicionários da língua portuguesa um dos significados é justamente essa história do storytelling, no sentido de ficção, conto, literatura etc. Então, por esse ponto de vista, eu diria que narrativa e storytelling são basicamente a mesma coisa.
 2) Sua orientação é do uso do storytelling para a publicidade. Contudo, como você vê a utilização do storytelling em outras áreas de pesquisa, como por exemplo, a chamada “história oficial” a partir de imagens?
Certa vez Ernest Hemingway escreveu um conto usando apenas 6 palavras. For sale: Baby shoes, never worn. Em uma tradução livre para português seria "Vende-se: sapatos de bebê, sem uso". Mas onde está o personagem? E o conflito? E cadê o climax? O ponto é que as vezes você não precisa explicitar todos esses elementos. Um conto como esse faz com que o leitor imagine toda a história. Tudo que aconteceu antes e depois. Os personagens envolvidos. As emoções que cercaram aqueles fatos. Na prática, a história está na cabeça de quem lê. Aliás, mesmo em um livro de 1.000 páginas ou em um filmes de 4 horas há lacunas que serão preenchidas por quem lê ou assiste, não é mesmo?
Então, se é possível escrever um conto com 6 palavras e deixar que o leitor imagine o resto, também é perfeitamente possível contar uma história por meio de uma ou mais imagens. Mas acho que isso só responde metade da pregunta.
Como eu disse lá atrás, as histórias (stories) geralmente estão ligadas à ficção, mas não necessariamente. O desafio é, a partir da coleta de fatos reais, estruturar uma narrativa que tenha ao menos um personagem superando obstáculos para alcançar um objetivo. Esse é o trabalho, por exemplo, de um documentarista. Ainda que o documentário seja, por exemplo, sobre um período histórico, é bastante usual que o diretor tente transmitir aqueles fatos por meio de um ou mais pontos de vistas de pessoas que estavam lá. E isso é essencial, afinal, o storytelling nada mais é do que uma técnica de transmissão de conhecimento por meio da emoção. E para gerar emoção é preciso de um ponto de vista humano.
Fechando a longa resposta, quando penso em "histórias oficiais" contadas a partir de imagens lembro imediatamente de duas fotos famosas. Uma é a daquele estudante chinês tentando parar um tanque sozinho, de forma pacífica, na Praça da Paz Celestial, e a outra é da menina nua, fugindo da bomba de napalm no Vietnã. São duas imagens tão ricas de significados e histórias que eu até posso deixar com que elas concluam a minha resposta. Mas isso só é possível porque elas trazem personagens, conflitos e muitas emoções.

 3) Você poderia nos dar um exemplo de como, a partir de uma imagem, criar um storytelling? E a partir desse exemplo, como pode ser utilizado em termos de transmídia?
Acho que eu já acabei falando um pouco sobre isso na resposta anterior, mas nunca é demais lembrar. Para contar uma história faz-se necessário um personagem, que geralmente é uma pessoa mesmo, mas pode ser qualquer que pense, aja e sinta como uma pessoa. Um exemplo é o filme Wall-e. O personagem é um robô, mas um robô com sentimentos. Esse personagem precisa ter um objetivo, ou seja, um motivo para que as pessoas o acompanhem em sua jornada. Esse objetivo pode ser conquistar uma menina, derrotar um inimigo, sobreviver a uma tragédia. Em outras palavras, alguma tensão é necessária para que as pessoas se preocupem com aquele personagem. É aquela famosa sensação de "Meu Deus! E agora, será que ele vai conseguir?".
Contar uma história a partir de uma imagem é mais ou menos como fazer um mini-conto, ou seja, esses elementos não necessariamente precisam estar explícitos, mas devem estar lá de alguma forma, ou seja, a imagem deve dar os insumos para a imaginação de quem está olhando para ela.
Para falar de transmídia é necessário, antes de tudo, entender o conceito. Transmídia é basicamente uma nova forma de contar uma história, em que mídias diferentes mostram pedaços complementares e, idealmente, independentes dessa narrativa. Isso é diferente de, por exemplo, adaptar a história de um livro para o cinema. Em uma proposta transmídia as histórias do livro e do filme são diferentes, porém complementares, ou seja, fazem parte do mesmo universo e deixam a experiência mais rica para quem consome ambas.
Esse tipo de raciocínio tem sido usado principalmente para a indústria do entretenimento, mas, mais recentemente, começou a ser adotado também por outras áreas, como o jornalismo. Nesse sentido é fácil imaginar a aplicabilidade do conceito em uma reportagem que utiliza texto, áudio, vídeo e imagens.
A entrevista com Bruno Scartozzoni segue em um próximo post com debate!!! Acesso aqui.

sábado, 18 de maio de 2013

Pequeno balanço das V Jornadas Fotodoc



Na semana passada tive a oportunidade de participar das V Jornadas de Fotografía y Documentación (Fotodoc), evento organizado conjuntamente com as Jornadas do Seminario Español de Recuperación de Información (SERI). O nome do evento foi extraído de um poema da pesquisadora e poeta Alicia Arias Coello: “Vertidos urgentes” (ver blog do evento aqui). 

Dois aspectos mais marcantes saltam á vista do visitante estrangeiro. O primeiro é a confluência dos eventos, obtendo (como diria Claúdio Duque) maior sinergia. Tenho assistido, ultimamente, no Brasil, uma proliferação de pequenos eventos. Cada vez mais restrito às particularidades dos pequenos grupos de trabalho e pesquisa. Quando, eventualmente os grupos brasileiros conseguem estar juntos em algo maior costuma ocorrer a separação física das atividades de cada núcleo, com raríssimos momentos, formais, de troca de ideias; como se diz no Brasil:“cada um no seu quadrado”. O segundo aspecto interessante é a “tipologia” jornada. O termo está em desuso no Brasil, onde se prefere denominações menos modestas e, supostamente, mais atrativas como Workshop, Congresso e outras tantas e, de preferência, com um qualificativo “internacional” em algum lugar do título (acabei de ver, por casualidade, a chamada para “congresso internacional”, em uma cidade o interior do país que exige que para a inscrição de trabalhos, via sistema, seja imprescindível indicar o CPF; ou seja, internacional apenas para quem registro na Recita Federal...). As jornadas daqui foram precisamente o que a palavra significa: um dia de atividades. 

A mesa de abertura, com a presença do decano da faculdade (equivaleria a um diretor) foi extremamente rápida, direta e sem longos discursos, tão frequentes na universidade brasileira. Não se chamou reitor, vice-reitor e nem ninguém das altas esferas da administração universitária. Tiveram a palavra o decano e depois cada um dos coordenadores dos eventos simultâneos: Juan Miguel Sanchez Vigil pela FOTODOC e Juan Antonio Comeche pelo SERI. O principal objetivo declarado foi o de proporcionar uma miscelânea de estudos e abordagens relacionados aos temas explicitados nas denominações dos dois eventos. A vontade de ampliar as discussões, ao invés de concentrar em tópicos cada vez mais específicos, costuma ser muito útil para que haja oxigenação das ideias, para que novos debates possam aflorar e, sobretudo, para que não sejam sempre as mesmas pessoas a apresentar trabalhos. 

Tive o privilégio de ser o primeiro a apresentar, exageradamente anunciado por Sánchez Vigil como conferência magistral, em uma mesa conjunta com meu colega Juan Antonio Comeche, lider do grupo de pesquisa sobre gestão de recuperação de informação digital na web (GRIWEB). Eu falei a respeito da finalização do projeto DigifotoWeb, com destaque à algumas questões contundentes relacionadas às imagens (ver página sobre minha apresentação aqui). Comeche analisou algumas das possibilidades e tentativas atuais relacionadas à recuperação de informações imagéticas. A divisão de metodologias para tal tarefa em função da priorização de enfoques intrínsecos (cor, textura, formas e/ou relações espaciais) ou extrínsecos (autor, título etc.) me fez pensar mais seriamente na validade de uma diplomática imagética, menos voltada ao contexto documental. 

Não sei se a proximidade de abordagem entre o trabalho de Juan Antonio e o meu foi algo compartilhado pela audiência, mas o fato é que a segunda mesa pareceu-me bem mais adequada ao conceito de miscelânea proposto. A primeira apresentação esteve a cargo de Raquel de León, do Museu Ferroviário que buscou dar um extenso e detalhado panorama das coleções ali custodiadas. Infelizmente o tempo foi curto nos deixando com aquele gostinho de quero-mais. Felizmente, parte das informações está disponível na página da fototeca do museu. Ao olhar com mais cuidado esse ambiente virtual é possível perceber uma interessante separação das coleções, do material de arquivo e do material de natureza biblioteconômica. De imediato pensei na tese de doutoramento que Niraldo José Nascimento, em seu afã, queria realizar sozinho o que o museu ferroviário de Madrid fez com uma equipe profissional. 

A segunda fala deste bloco esteve a cargo do advogado Alberto Cabello, que conseguiu abordar o sempre delicado tema dos direitos de imagem (os direitos das pessoas fotografadas) fugindo do óbvio, com exemplos muito contundentes e corajosos, envolvendo, sem temor, ícones contemporâneos da fotografia espanhola. A questão por ele colocada não se resume ao plano legal; indo mais além, com peso às questões éticas e morais. Por exemplo, começou, em tom crítico, denunciando a tradição de fotógrafos reconhecidos que se aproveitam de situações extremas em países do terceiro mundo, sem a anuência das pessoas fotografadas (e/ou sem o real conhecimento do uso, inclusive comercial, que será feito das imagens) para ganharem muito dinheiro com a comercialização das imagens. A primeira coisa que me veio à mente foi que no Brasil não é preciso ir longe para entender esse tipo de problema... 

A apresentação seguinte da segunda mesa versou sobre um projeto internacional relacionado a uma, até recentemente desconhecida, coleção que congrega fotografias fundamentais para a história visual de Portugal, Brasil, México e outros países iberoamericanos. A apresentação esteve a cargo do erudito coordenador, Wifredo Rincón García que já houvera anteriormente realizado uma exposição sobre parte daquela coleção (ver folder explicativo aqui). Sua apresentação também serviu para convidar pesquisadores interessados, sobretudo os internacionais, a integrarem uma comitiva que fará parte de uma reunião conjunta com representantes diplomáticos dos países afetos à coleção. 
A última apresentação da manhã (que em Espanha vai até as 14:00hs) esteve relacionada ao trabalho de edição gráfica na grande imprensa. Em um formato similar a um talk show (guardadas as devidas proporções e sem nenhum demérito) o professor de documentação da Universidad Complutense de Madrid, Federico Ayala apresentou e mediou um bate-papo muito agradável com o fotografo e editor gráfico Matias Nieto König. Ambos trabalham para um jornal de altíssima tiragem, o ABC, que apresenta um projeto gráfico diferenciado e único em relação aos demais jornais diários daqui. Matias Nieto expôs vários aspectos relacionados à opção do ABC em trabalhar com o conceito de capa na imprensa diária, buscando atrair ao público para uma imagem bastante chamativa, que ocupa pelo menos metade da página, ao invés de já adiantar reportagens e notícias, como é mais usual. Na falta de algum dos exemplos apresentados por Matias Nieto, encontrei um post bastante explicativo, que analisa uma capa polêmica do ABC (ver post aqui). O projeto, na verdade, troca informação textual (mais precisa, porém mais exigente quanto ao tempo de leitura, exigindo proximidade física e atenção do possível leitor) por informação visual (de assimilação mais rápida, sem requerer tanta proximidade). O sempre instigante debate sobre a articulação comunicativa entre imagem e texto, teve, nessa apresentação, um ótimo espaço para reflexão. 

Na parte da tarde tivemos, logo ao reinício, uma apresentação bastante interessante de Antonio Cabello, professor da Complutense, que deveria ser sobre os gêneros fotográficos e acabou sendo, na minha compreensão, sobre possibilidades de classificação e/ou organização de imagens por conteúdo. O mais relevante é que a apresentação, explicitamente, optou por não mostrar nenhuma solução (ou sugestão de solução). Os exemplos mostrados iam cada vez mais sugerindo que, à medida de cada necessidade, deve-se criar esquemas de classificação que funcionem em cada caso. A exposição começou e acabou com uma estante vazia, nos instigando a refletir e propor modelos, com cuidado para não cair em armadilhas universalizantes, lembrando que, em última instância, tais esquemas refletem, principalmente, as necessidades práticas de quem os elaborou. 

Na sequência, a professora Alicia Arias Coello, nos brindou com sua face artística ao apresentar uma pequena introdução de sua experiência poética nas redes sociais. Além da beleza que foi ter um espaço dedicado à emoção em uma jornada acadêmica, ela permitiu melhor entender, na prática, as relações existentes entre a criação intelectual e os atuais meios de difusão, compartilhamento, recriação, que contam, hoje, com diversos elementos daquilo que Claudio Duque estuda no campo denominado multimodalidade, com a articulação de texto, design, imagem (estática e em movimento) e sons. O ápice da recriação ficou a cargo de referencias à poeta argentina Alfonsina Storni, cuja música em homenagem à sua morte (Alfosina y el mar) é bem conhecida na voz de Mercedes Sosa, que já fora objeto de recriação artística de Sánchez Vigil (muitos acadêmicos-artistas presentes). Deixo aqui a dica para ouvir um versão mais “rústica” da música, que está em cd caseiro de uma cantora de rua em Santiago de Chile (ouça aqui Alfosina y el mar na gravação de Claudia Álvarez). O encerramento deu-se com um rearranjo de alguns versos de Sánchez Vigil feito por Alicia Arias com “Sonata ao luar” ao fundo. 

A penúltima apresentação coube à professora Maria Oliveira Zaldua, que expôs resultados de sua recente pesquisa, derivada de seu doutoramento, sobre a produção de teses relacionadas à fotografia na Espanha, em qualquer área do conhecimento. Os dados são bastante interessantes a apontam para um crescimento do tema nas áreas relacionadas à Ciência da Informação. Acredito que a ampliação desse tipo de pesquisa para o Brasil poderia redundar em um ótimo projeto de doutorado, sobretudo para mapear a ocorrência de trabalhos em áreas não diretamente ligadas à fotografias, tais como história e arquivos. 

Para finalizar Francisco José Valentín, aluno de doutorado em fase final, fez um excelente painel sobre os metadados, com destaque aos mais usuais no universo da fotografia, com alguns exemplos muito interessantes de aplicação. Um dos exemplos mostrava como pode haver diferenças significativas entre a adoção de um modelo de descritivo e a utilização correta e eficiente. Muitas vezes instituições indicam adotar esta ou aquela diretriz para a descrição e recuperação da informação, mas, na prática, a aplicação é mal feita e/ou incompleta, fazendo com que os objetivos não sejam plenamente atingidos. O exemplo dado por Francisco mostrava uma coleção de fotografias, supostamente, descritas com base no MOREQ, mas que apresentava quase todos os campos em branco e/ou com informações demasiadamente genéricas. 

Após a rápida e objetiva mesa de encerramento, restou a satisfação de ter podido fazer parte de um evento interessante (cujo formato objetivo e eficiente poderia ser inspirador no Brasil) e, principalmente, ter tido contato com outras dimensões relativas aos documentos fotográficos que, usualmente, por acabar dedicando-me muito ao foco especializado do que pesquiso, acabo por não conhecer mais profundamente. 

Espera-se que brevemente, no blog do evento, as apresentações todas estejam disponíveis, ao lado de nossas fotos, tiradas por Maria Oliveira. É questão de aguardar e conferir... 

Links mencionados: 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Material do curso da Profa. Antonia


O blog do DigifotoWeb disponibiliza o material utilizado pelo curso da profa. Antonia Salvador, ministrado no CEDOC/UnB durante os dias 19 e 20 de novembro de 2012. Trata-se de um "kit" em arquivo zipado composto pelo PDF das 4 apresentações exibidas durante as aulas e uma série de anexos em Word para elaboração de documentos de referência, de docação etc.

Baixe o arquivo zip aqui.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Reflexão sobre características da Diplomática em documentos audiovisuais


A Diplomática identifica nos documentos as características formais que os definem. As análises de materiais não convencionais, hoje realizadas muitas vezes não permitem identificar dados típicos da Diplomática tradicional, tais como protocolos iniciais e finais. O desafio a ser enfrentado pela Diplomática especial perpassa a adaptação dos elementos tradicionais na análise dos documentos contemporâneos. Nossa preocupação relaciona-se aos registros imagéticos e audiovisuais. O material audiovisual pode ser armazenado de diversas formas, em vários formatos e diferentes suportes. A facilidade que temos hoje de manipular uma imagem de vídeo, permite que a mesma imagem em movimento seja parte integrante de diferentes arquivos ou bibliotecas. 

A análise e organização de informação de tais documentos carece de maiores definições conceituais quanto aos seus elementos constitutivos. Por exemplo: em um documento textual a identificação do protocolo e escatocolo não costuma ser problemática, mas como é que fica essa questão em um programa de telejornal? Quais seriam o protocolo e escatocolo do telejornal? Se uma empresa de telecomunicação armazena sua produção jornalística na íntegra, ou seja, com todas as partes que identificam o programa jornalístico que veiculou aquelas notícias (abertura do programa e créditos), é possível facilmente detectar características de protocolo inicial e final. Quando são armazenadas as mesmas imagens em seu formato "bruto", o seja, sem as edições finais do programa, tais características não são encontradas.

Para uma visão mais geral dessa questão veja vídeo sobre pesquisa de graduação realizada por Laila Di Pietro aqui e/ou baixe o trabalho completo a partir daqui.

______________
Laila Di Pietro e André Lopez

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Contribuições do Chile "Los Fotógrafos del Sur"

Copiado de: CAROZZI ACUÑA, Romina. Los Fotógrafos del Sur.
Titulo: Mapuche. Formato: Carte de Visite.
Autor: Juan de Dios Carvajal y Fernando Valck Wiegand. Año : 1890/1900.
Foi com grande prazer que o GPAF recebeu dois artigos científicos da pesquisadora Romina Carozzi Acuña. Um deles trata do tema "Fotografía, Hongos y Bacterias: Daño Biológico en Material Fotográfico", que será objeto de um segundo post. Do outro, intitulado "Los Fotógrafos del Sur", realizamos alguns excertos no sentido de mostrar a importância do trabalho desenvolvido por essa pesquisadora sobre as raízes dos primeros fotógrafos do Chile e uma amostra de suas respectivas fotografias.
Sem dúvida, trata-se de uma maravilhosa contribuição para os estudos e pesquisas do GPAF, bem como, marca novamente a interação de nosso grupo e seus pesquisadores com a comunidade internacional.
Portanto, Rominia, receba as boas-vindas de todos os membros do GPAF, continue contribuindo e intercambiando suas experiências e pesquisas conosco.
Muito obrigado!


Los Fotógrafos del Sur**
Romina Carozzi Acuña*
Excertos**
"El presente trabajo investigativo tiene como eje central a los fotógrafos conocidos como “Los Fundadores”, quienes forman parte importante de la historia de la actividad fotográfica en el territorio llamado Chile, como también sus imágenes, las cuales, son forjadoras de memoria e identidad.
La razón de elegir como tema central a “Los Fundadores” es el hecho de que la historia de la fotografía chilena es aún un tanto difusa, si bien ya son casi 180 años de trabajo fotográfico, el hecho de crear un sustento teórico es una necesidad, la creación de una historia en el plano teórico se hace imperante, ya que no basta con la cronología que existe o con una agrupación de nombre conocidos, sino que realmente un hacer historia, una profundización en cada etapa de la fotografía, de la evolución de los materiales, y de las diferentes disciplinas que en ella se han desarrollado, como el fotoperiodismo o la fotografía artística.
Es por ello que me motiva el investigar sobre el pasado fotográfico, para contribuir a la formación de la historia de nuestra fotografía.
Específicamente para este trabajo, he recopilado información, en primera instancia, de textos encontrados en la Biblioteca de la Facultad, de información en la red, y luego, de libros propios que adquirí debido al gran interés en el tema. Para luego reflexionar acerca del tema y mediante la redacción del trabajo, responder algunas preguntas y lograr ser un aporte a la historia de la fotografía chilena.
Finalmente señalar el enfoque del trabajo, el cual tomara a la triada de “Los Fundadores” Cristián Enrique Valck, Gustavo Milet y Obder Heffer, específicamente, para luego reflexionar en torno al tema de las imágenes, el pueblo mapuche. Como también, haciendo reseña a la materialidad utilizada en aquella época.
Luego del arribo de la fotografía al puerto de Valparaíso a mediados del siglo XIX, y del arraigo de este nuevo medio tecnológico en la sociedad chilena, acontecen diversos sucesos que permiten el desarrollo de la fotografía étnica. Uno de ellos es el arribo de la mirada de fotógrafos extranjeros al territorio y otro muy importante es el fin de la campaña conocida como “Pacificación de la Araucanía” en donde se logró penetrar en los vastos territorios indígenas.
De este espíritu aventurero, estaban también impregnados, Cristían Enrique Valck, Gustavo Milet y Obder Heffer.
Los Fotógrafos del Sur
Cargados de sus pesados y aparatosos equipos fotográficos, y movidos por el deseo de retratar y registrar lo exótico de su nueva cotidianeidad sureña; Valck, Milet y Heffer nos heredaron una hermosa producción de imágenes que vale la pena conocer y analizar ya que nos llevan a reflexionar sobre temas como el pasado, las raíces, nuestra identidad, nuestro patrimonio y la tarea pendiente que tenemos con el resguardo y preservación del mismo.
De esta forma vale la pena indagar en cada uno de estos personajes, descubrir su historia y su individualidad, y por supuesto, lo que hasta el día de hoy trasciende, que es su trabajo fotográfico."


*Romina Carozzi Acuña es licenciada en artes con mención en artes plásticas, artista fotógrafa y conservadora/restauradora del patrimonio cultural mueble, en la u. de Chile. Actualmente trabaja como conservadora/restauradora en el Archivo Central Andrés Bello de la misma universidad.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Fotografar para ocultar?

Imagens copiadas de Chocolá Design

Olhe atentamente para as imagens acima e diga o que elas têm em comum? Se você localizou o Homem Invisível, acertou; parabéns! já pode se candidatar para analisar imagens de camuflagem junto às Forças Armadas. Se ainda não viu ninguém, clique nas fotos para vê-las em tamanho maior e tente localizar Wally, quer dizer Liu Bolin. Na imagem do supermercado é mais fácil, porém custei a encontrá-lo na foto do trator. 

O efeito visual incrível só é obtido após uma árdua preparação do modelo, literalmente pintado de acordo com o fundo da cena, nos  mínimos detalhes. A respiração do modelo também influencia e as fotos divulgadas provavelmente representam uma escolha de um incontável conjunto de takes e testes. O ângulo e iluminação para a tomada da imagem também são essenciais para que a ilusão funcione. A perspectiva, que jamais nos dará a profundidade de uma cena, apenas sua simulação (por convenção, familiaridade e iconicidade) também colabora bastante. 

Em uma cena real, ao vivo, em 3D, poderíamos ser momentaneamente iludidos apenas. Um simples movimento de nosso corpo, de nossa cabeça, que nos fizesse mudar o foco da visão, imediatamente destruiria a "magia" da cena. Ser mágico de show deve ser mais complicado do que homem invisível de fotos; daí a necessidade que o primeiro tem de buscar artifícios para "congelar" a atenção do público. No segundo caso, o esforço está em manter-se congelado junto com todo o ambiente no momento do click.

A brincadeira nos coloca importantes questões do ponto de vista do tratamento com a informação fotográfica, na medida em que não podemos acreditar que sempre iremos conseguir identificar todos os elementos de uma imagem fotográfica. Por vezes eles poderão estar ocultos, intencionalmente (como nos exemplos acima), acidentalmente (e podermos nunca nos dar conta disso), tecnicamente (como a ausência de pessoas em grandes cidades em fotos início do século XX), ou até mesmo historicamente (elementos que não são imediatamente identificáveis pela nossa atual cultura visual, mas que poderiam sê-los no passado). 

No caso dos arquivos, se o contexto arquivístico de criação arquivística não for considerado como elemento qualificador do documento o risco de perda de organicidade é muito grande e pode comprometer irremediavelmente sua qualidade de documento de arquivo. Não se trata de cair da falácia positivista da "objetividade" Vs. "subjetividade", porém de tentar entender o documento dentro do complexo ambiente no qual se originou (e sua compreensão vai muito mais além do registro fotográfico, englobando a cultura, a técnica, as pessoas, os equipamentos, a história etc.) naquilo que é a parcela mais invariável de tal complexidade.

A questão que se coloca, então, é como tratar arquivisticamente documentos imagéticos que nos ocultam informações visuais fundamentais. A resposta é simples, tratando-os como documentos de arquivo, isto é: compreendendo antes suas informações e vínculos contextuais. No exemplo deste post a organização de fotos que têm por função principal camuflar o modelo apresentarão uma solução bastante distinta da organização que seria dada a fotos sobre máquinas de construção civil e comércio varejista.

Recentemente Joan Boadas proferiu palestra sobre patrimônio fotográfico e indicou a necessidade de uma compreensão mais lata e ampla do conceito de patrimônio, que não pode ser restrito às imagens. Isabel Wschebor agregou comentário sobre a importância da contexto arquivístico como elemento mais invariável para direcionar o delicado processo sistematização de significado informacional aos documentos fotográficos de arquivo. 
  • Algumas diretrizes básicas que nortearam a abordagem sobre patrimônio na palestra de Joan Boadas podem ser vistas aqui
  • A mencionada palestra pode ser vista na íntegra aqui (é o vídeo com 2h:34min:45seg).
  • Breves informações sobre Joan Boadas podem ser obtidas aqui
  • Breves informações sobre Isabel Wschebor podem ser obtidas aqui

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Recursos para trabalhar com imagens via Web

Pong. Hands and filmstrips - Copíado de Free Digital Photos.net
Muitas vezes para que se possa fazer uma reflexão sobre documentos imagéticos de arquivo a exemplificação e a ilustração podem facilitar o entendimento e a recepção do texto. O uso indiscriminado do "recorta-e-cola", além de gerar problemas quanto à organicidade documental (ver aqui) além de infringir direitos de autor e de divulgação (ver post sobre o tema aqui). O coleg@ Juan Chileno Milla, que é peruano, nos dá uma útil dica de 16 ferramentas gratuitas para a edição de imagens (clique aqui), além dos links para 15 bancos de imagens de uso gratuito para fins não comercias (veja aqui). Agora além da dica aos colaboradores deste blog para a correta referenciação do material utilizado fica divulgada a informação sobre recursos facilitadores.

Veja aqui o post original de Juan Chileno e aproveite para conhecer interessantíssima comunidade docente virtual.

Publicado originalmente em Diplomática e Tipologia Documental

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Dia internacional do patrimônio audiovisual

Hoje, dia 27 de outubro, celebra-se o
Dia Internacional do Patrimônio Audiovisual !


"Auto-retrato" de Joe Clark (vulgo "Hill Billy Snap Shooter"). Copiado do blog "A View to Hugh"
A câmara da cidade de Girona (Catalunya) através do Centro de Pesquisa e Difusão da Imagem (CRDI), com a colaboração do Conselho Internacional de Arquivos, celebraram a data com a publicação de um poster (baixe aqui em inglês) sobre a cronologia do desenvolvimento histórico da mídia audiovisual: cinema, fotografia, televisão, vídeo e gravação sonora. Simultaneamente, foi criado um website em quatro idiomas (catalão, inglês, espanhol e francês) que contém, no momento, 280 referências cronológicas, 30 registros audiovisuais e 140 imagens. 


Clique aqui para ver a notícia completa no site do Conselho Internacional de Arquivos (ICA).
Clique aqui para conhecer a página do Photographic and Audiovisual Archives Working Group do ICA.

terça-feira, 26 de julho de 2011

A Narrativa da Foto Invisível


Niraldo J. Nascimento
Doutorando em Ciência da Informação - UnB

Muitas pessoas tiveram a experiência de ouvir histórias, na infância, contadas por pais, avós e outros parentes e algumas delas ficam internalizadas, às vezes por medo, às vezes por beleza, ou outros motivos. Também pode ter sido um conto ou uma novela que lemos ou leram para nós. Chamemos isso de narrativas, embora o termo em voga seja Storytelling, que Palacios (2007, p.15) define como "[...] um termo em inglês utilizado para definir a arte ou a técnica do emprego de histórias como forma de contextualização de um conjunto de informações".

Na década de 70, Robert Pirsig reintroduz o termo "chautauqua" em seu famoso livro "Zen e a Arte da Manutenção de Motocicletas". As chautauquas foi um movimento de educação de adultos que alcançou ampla repercussão nos Estados Unidos, em especial o Movimento Lyceum, que ganhou popularidade e era indissociavelmente ligado ao Transcendentalistas: Ralph Waldo Emerson, um dos primeiros palestrantes (deu cerca de 100 palestras no Concord Lyceum) e Henry David Thoreau, que leu sua publicação - "Desobediência Civil" -  publicamente e pela primeira vez, no mesmo lugar em 1848.

No Brasil, temos a Ação Griô que procura preservar a tradição oral das tribos indígenas brasileiras, como patrimônio nacional.

Ontem me deparei com um conto (uma narrativa), chamado "A Fotografia". Foi postado no blog Caminhar, de minha amiga Laura Diz e escrito por sua mãe, Léa Muniz, ganhador do concurso de contos do Banco Real há alguns anos.

O que me chamou a atenção foi a beleza da narrativa e um aspecto peculiar: as condições da produção estão detalhadamente descritas mas a fotografia não existe. Reproduzo o conto abaixo, com autorização da Laura, no intuito de provocar uma discussão: mesmo sendo uma narrativa, se o contexto de produção existe, a fotografia também existe? Ela pode ser considerada real, não como documento de arquivo, mas como uma criação mental? Ficam abertas as questões.


A fotografia
Lea Muniz Diz

Chovia uma triste chuva de desolação. Meus pés feriam-se nos seixos da rua sem calçamento tentando acompanhar os apressados passos de minha mãe. O guarda-chuva de meu pai, bastante grande para nós duas, na sua precipitação, só servia para me molhar, tanta a chuva que descia pelos meus cabelos e ombros. Atravessamos o portão escancarado e seguimos por uma alameda ladeada por dois renques de ciprestes. Os galhos entrelaçavam-se e, arriados quase até o chão, fustigavam-me o rosto. Lembro que floresciam azaléas vermelhas. Nos fundos a casa simples de madeira. Minha mãe empurrou a porta entreaberta. Alguém, com um sinal de cabeça, apontou a porta à direita e ela me deixou dizendo para que a esperasse. Sentei junto de uma velha negra que desfiava um rosário, intercalando uma vez que outra: Que barbaridade! Outras pessoas chegavam ansiosas. Entravam e desapareciam atrás da porta cerrada para voltarem minutos depois com ar compungido. No fogão crepitavam as chamas da lenha. E junto da parede, perto da chaminé, em uma frigideira enegrecida, um braseiro queimava galhos de alecrim e de arruda de onde subia uma fumaça aromatizada. D. Nercinda, a negra velha, levantou e, com um graveto, revolveu as brasas da defumação. Despejou água quente no bule de café. A chaleira voltou para a chapa que provocava estalidos que se misturavam aos murmúrios no quarto. Houve um gemido alto. Tenha calma, D. Rosa. Tenha calma.. Alguém pegou a bandeja com as xícaras de cafezinho e percorreu a sala. Na minha vez passou adiante. Criança não toma café. Não sabia bem que estava acontecendo. Houve o chamado urgente para minha mãe que saiu quase correndo, arrastando-me pela mão. Na pressa nem calçou meus sapatos.  
O tempo escoava nas mãos quietas da mulheres e nas contas do rosário que se esgueiravam pelos dedos negros. A sala tornava-se pequena à medida que mais gente chegava. A mulher do cafezinho veio até a mim para dizer para eu levantar e dar o lugar para D. Isabel. Fiquei de pé. Minha mãe não vinha. Examinava eu as pessoas a minha volta. Em algum momento caia sobre mim um olhar distante e impessoal. Ninguém me via. Incomodavam-me as roupas ensopadas e tremia sem saber se era de frio ou de nervosismo. D. Nercinda persignou-se, beijou o crucifixo, guardou o rosário em uma bolsa de verniz e finalmente me notou.
- Cruzes, como esta coitadinha está molhada. Vamos lá dentro tirar essa roupa pra secar e tomar uma coisa quente.
Pendurou meu casaco no barbante estendido em cima do fogão e trouxe para mim uma xícara de leite bem quente. Só então me animei a fazer a pergunta guardada:
- Virgínia...Virgínia vai morrer?
Ela suspirou fundo.
- Não sei, minha filha, não sei. Essas coisas a gente nunca sabe. Só Deus. Engoli o leite, agora salgado pelas lágrimas que eu não conseguia conter e que desciam para dentro da xícara.
Quando o médico chegou, D. Rosa deixou-o a sós e veio para a cozinha. Atirou o corpo magro no banquinho de lenha. Vestia-se de preto com um xale verde nos ombros.
- Por quê? Por que ela fez isso, vocês sabem? Me pergunto, me pergunto e não encontro a resposta. 
Pergunto para ela e só me olha. Me olha e sorri. Juro que quando ela sorri tenho vontade de voar em cima dela e dar uma bofetada na cara desavergonhada. Parece que alguém me segura. Deve ser o espírito do falecido. Semicerrou os olhos. Há um mistério. Ela esconde alguma coisa de muito grave. Pensa que me engana. Nunca pôde me enganar. Eu conhecia Virgínia com uma simples mirada.
Uma voz tímida interferiu:
- Não diga conhecia, D. Rosa.
Ela pareceu não escutar e continuou falando como se fizesse para si mesma.
- Era olhar para ela e eu já adivinhava se tinha feito ou não boa prova. Ai, quem havia de pensar. Uma mãe tão boa receber da única filha um golpe como esse. Sei que fui dura algumas vezes. É preciso. Ninguém educa com moleza. ( O símbolo da sua energia pendia de um prego na parede. Não fazia muito Virgínia correu para nossa casa, o rosto marcado pelo rebenque).
Pensei que seria agradecida. Ingrata. Ingrata. (ofegava) Não teve pena da mãe que sacrificou a vida por ela. Recusei muitos homens para não lhe dar um padrasto. (Fez uma pausa). Mas não vai morrer sem contar porque fez isso. Algum namorado? (Seus olhos arregalaram-se e ela se ergueu do banco. Alta, magra de preto, ali, no meio da cozinha se me afigura hoje, uma visão apocalíptica). Deve ter feito alguma coisa vergonhosa. Sentou de novo e deixou-se ficar muda embalando o corpo para frente e para trás, os olhos no chão apertando o xale de encontro ao peito. Ergueu o rosto e pareceu notar as pessoas que a cercavam. Ela devia ter algum namorado. Quem? Foi quando me viu. Estendeu a mão e com os dedos longos e magros lançou o braço na minha direção. Recuei assustada, encostando-me na negra. Ela defendeu-me:
- Ora, D. Rosa, que pode saber uma criança? Se Virgínia tivesse um namorado teria trazido para a senhora conhecer. Tão boa filha.
- Boa filha, boa filha. Isso é o que pensavam. Aí está a bondade dela. Na hora em que ia dar aulas e ajudar nas despesas da casa me deixa sozinha. Vocês não sabem. Era brasa escondida.
A mesma voz que verifiquei era de D. Marica, voltou a observar que ela não devia falar como se fosse passado.
- Afinal ainda vive e talvez não morra.
Voltou, rápida a cabeça em direção à D. Marica:
- Será que vão me dizer até como devo falar? Repito : brasa escondida. Como o pai. Fechada como ele. Dava mais atenção para essa menina do que para mim. Pra mim era: benção, mãe, ou té logo, mãe... e quando eu me queixava dizia: nasci assim. Não temos nada pra conversar. Ai, que vida a minha. (Passou o lenço pelos olhos secos) Por que Deus tinha que me dar uma filha pra criar sem pai, e ainda ingrata? 
O médico chamou-a e ela foi para o quarto. Já devia ser a hora do almoço quando minha mãe apareceu. Um arco-íris desenhava-se no céu quando deixamos a sombria alameda de ciprestes. Caminhamos algum tempo caladas. Em dado momento me veio a pergunta:
- Ela vai morrer?
- Acho que vai.
- Não queria que morresse. Gosto tanto dela. Não vou ver ela nunca mais. Para onde vão os mortos?
- Não sei. A vida é assim. Nascemos para morrer. É, todos morremos, um dia.
- Eu pensava que as pessoas morriam quando ficassem velhas ou doentes. Virgínia não estava doente. Ainda ontem fomos à confeitaria tomar sorvete.
(Não contei que, depois do sorvete fomos até a casa de Dr. Cláudio para entregar um bilhete para o Paulo, seu namorado. Ele ficou muito branco quando leu o bilhete e, na janela mesmo, começou a escrever uma resposta. Mastigava o cigarro que não acendeu. Depois, ele amarrotou o papel e mandou o recado de que iria vê-la logo à noite).
Minha mãe voltou ao assunto:
- Não não estava doente.
- Ela quis morrer, mamãe?
- Quis.
- Como é que se faz quando se quer morrer?
- Por que quer saber? Crianças de oito anos têm outras preocupações. Pensam em brincadeiras, em coisas alegres.
- D. Marica disse que foi veneno. Para formigas?
- Não queira saber.
- É bom saber, mamãe. A gente, um dia pode querer morrer também.
Minha mãe estacou estupefata. Abaixou-se e me abraçou.
- Não repita nunca mais isso. É pecado, é errado. Ninguém pode tirar a vida de ninguém e nem a sua própria.
No fim-de-tarde desse mesmo dia voltamos à casa de D. Rosa. O movimento havia diminuído. Virgínia estava sentada na sala com o seu melhor vestido, um vestido branco com listras azuis.(Notei a boca queimada). Meus lábios tremeram e., a custo, contive as lágrimas. Acenou para que eu fosse até ela. Abraçou-me com força e me encostou junto a ela. Com o dorso da mão direita fez-me uma carícia na face. Minha mãe não se conteve:
- De quem foi essa idéia de tirá-la da cama? Ela não está em condições de ficar aqui.
- Foi minha idéia. Eu é que decido o que é bom pra minha filha. Estamos esperando o fotógrafo.
Virgínia pousou o olhar na mãe, um olhar demorado e avaliador. Ia me afastar e ela me reteve, apertando de leve minha mão. O silêncio era imenso. Escutava-se apenas a algazarra dos pardais que se recolhiam nos ciprestes.
O fotógrafo chegou e seu sorriso se desvaneceu.
- Pensei que era um aniversário.
D. Rosa apontou Virgínia:
- É ela que vai tirar fotografias.
Falou o fotógrafo:
- Não seria melhor deixar para um outro dia. Quando ela estiver bem?
A voz fria e áspera de D. Rosa fez-se ouvir:
- Ela não vai ficar boa. Se não quiser tirar eu chamo outro.
- Não seja por isso. Vou tirar. É uma opinião.
- Ninguém lhe pediu opinião.
O rapaz preparou a máquina dirigindo-se à Virgínia:
- Como é que você quer? Só o rosto?
Do canto onde estava respondeu D. Rosa:
- Corpo inteiro. De frente e de perfil e quero que fique embaixo do retrato do pai dela para ele aparecer também.
Assim que o rapaz se foi, minha mãe, com delicadeza deitou Virgínia no divã. D. Rosa atirou-se em cima dela, sacudindo-a com violência pelos ombros:
- Diga, diga por que fez isso, sua infeliz. Diga. Não pode morrer sem me dizer.
Ao ter certeza de que jamais teria resposta, permitiu que a arrastassem para o quarto. Desvairada, cabelos defeitos, fazia-se escutar longe:
- A fotografia. A fotografia. A fotografia me dirá.


Referências:
MUNIZ, Léa. A Fotografia. Reproduzido por DIZ, Laura. Blog Caminhar. Disponível em <http://lauravive.blogspot.com/2007/02/conto-fotografia.html>. Acesso em 25 de julho de 2011.
PALACIOS, Fernando R. A contextualização criativa de histórias como fator de sucesso no planejamento de campanhas de comunicação. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade de São Paulo. Escola de Comunicações e Artes: Departamento de Relações Públicas,Publicidade e Turismo. Curso de Relações Públicas. São Paulo, 2007.

domingo, 20 de março de 2011

Posturas de pesquisa relacionadas à organização arquivística de acervos fotográficos


A jovem pesquisadora Luana de Almeida Nascimento compartilha algumas de suas conclusões relativas à sua Iniciação Científica, não apenas para ajudar no debate relativo aos documentos imagéticos de arquivo, mas também, espero, para estimular os pesquisadores mais jovens ainda ao desenvolvimento de trabalhos de pesquisa. O projeto foi desenvolvido sob orientação da Profa. Dra. Telma Campanha de Carvalho (vice líder do GPAF), junto ao curso de Arquivologia da UNESP/Marília e financiado pela FAPESP. 


Organização arquivística dos documentos fotográficos da Série “Registros Fotográficos do Projeto ‘Obras da Serra’” – Fundo Eletropaulo – Eletricidade de São Paulo S/A: considerações iniciais 
 Luana de Almeida Nascimento 
Longe de serem conclusivas, as considerações resultantes do exaustivo processo de pesquisa objetivam a verbalização de algumas reflexões e, na medida do possível, abrir novos campos de discussão no que tange a organização arquivística de acervos fotográficos. Desta maneira, as análises apontam para duas direções: uma retrospectiva e outra prospectiva.
Sob o ponto de vista retrospectivo cabe considerar a situação precária da maioria das instituições arquivísticas do Brasil. Raros são os profissionais com formação na área, fato aparentemente inofensivo à primeira vista, mas que se reflete na ausência de um olhar crítico sobre as tarefas arquivísticas, no distanciamento entre a práxis e a teoria, na falta de normalização, no rigor metodológico dentre tantos outros aspectos sintomáticos dos arquivos. Desta maneira, parece-nos incontornável tecermos considerações acerca de determinados procedimentos metodológicos típicos dos arquivos e não considerar a formação do profissional responsável por tais procedimentos. A constante interlocução entre teoria e prática no campo arquivístico apresenta-se como um dos principais aspectos para a sedimentação e desenvolvimento da Arquivologia como campo científico.

A análise prospectiva, por sua vez, aponta para alguns estudos realizados recentemente relacionados à urgente necessidade de reconhecimento e estabelecimento de uma postura gerencial por parte do arquivista. Conforme ressaltado em todo o projeto de pesquisa realizado, mais do que um mero custodiador de acervos documentais, cabe ao arquivista o gerenciamento dos acervos documentais de tal forma que todas as atividades realizadas possibilitem o acesso (atual e futuro) ao documento (do suporte documental e conteúdo informacional no caso dos acervos fotográficos) devidamente contextualizado para os mais diversos usos. Tal análise considera que, muito além da guarda de documentos, os procedimentos metodológicos preconizados pela teoria arquivística tem como foco principal possibilitar o acesso (atual e futuro) dos documentos (contemplando seu aspecto material e informacional) devidamente contextualizados, fato que os qualificam enquanto arquivísticos. Aponta também para a importância de análise dos estudos recentes que apresentam uma abordagem informacional nos arquivos e da gestão da informação arquivística como aspecto de suma importância para a preservação e acesso do documento arquivístico e suas relações orgânicas com o produtor e os demais documentos.

O enfoque na questão informacional mostra-se adequada para tais considerações na medida em que consideramos os suportes documentais não-convencionais e o tipo de tratamento que estes recebem nos arquivos. Sob tal perspectiva, a fragilidade dos suportes levantou questões como a reformatação dos mesmos como possibilidade de fornecer o acesso à informação neles contidas. Tais questões ainda são recentes no campo arquivístico. Convém, portanto, considerá-las criticamente não como uma possível solução para a questão da organização arquivística dos acervos fotográficos, mais do que isto, tal abordagem pode representar importantes contribuições para uma mudança na postura profissional do arquivista, sedimentação do campo arquivístico e meio de inclusão dos documentos em suportes não-convencionais nas pautas de discussão da área.

O relatório integral, para quem tiver interesse, pode ser baixado aqui

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Arquivo fotográfico de empresa fotográfica


A dissertação de mestrado de Eliana Kátia Pupim abordou o acervo de uma empresa produtora de álbuns fotográficos de formatura. O setor "Arquivo Albuns Fotográficos" apresenta interessantes características conceituais pois parte dos documentos que ali estão são ao mesmo tempo registros de atividades executadas (portanto arquivo) e ao mesmo tempo produtos a serem vendidos (portanto estoque). O trabalho, orientado pela Profa. Telma Campanha de Carvalho, trabalhou com um diagnóstico do setor, valendo-se de um tipo documental chave para compreender a gestão documental da orgabização o Cadastro de Identificação Para Posterior Entrega de Serviço, ou CIPPES. Esse documento é descrito (do ponto de vista da diplomática) e tem seu trâmite exemplarmente (do ponto de vista da tipologia documental) detalhado em um fluxograma:

Fluxograma de CIPPES
Clique na imagem para ampliá-la
.
A contribuição do diagnóstico para a elaboração de um programa de gestão documental em empresa fotográfica[1]
Eliana Kátia Pupim[2]
Telma Campanha de Carvalho Madio[3]
A instituição privada com fins lucrativos necessariamente trabalha com foco na melhoria constante dos resultados de suas operações, dessa forma garantindo a entrada de ativos. O arquivo é freqüentemente consultado no intuito de se obter respostas a questões de ordem jurídica, administrativa, política e diplomática. O presente trabalho objetivou delinear a estrutura organizacional de uma renomada empresa brasileira do segmento de fotografia, no intuito de conhecer as atribuições, as atividades e as rotinas específicas de seu setor denominado Arquivo de Álbuns Fotográficos, contextualizando-o e proporcionando elementos para a efetiva organização dos serviços prestados pelo setor. O estudo optou pelo método descritivo-exploratório através da observação das rotinas diárias e entrevistas com aplicação de questionário semi-estruturado a funcionários do setor e aos chefes de departamentos da empresa. Os resultados da coleta de dados foram sintetizados através de um organograma estrutural da empresa, do fluxograma que descreve a criação do documento que contém todas as informações relativas ao produto final da empresa, bem como a construção de um organograma funcional que permite compreender as atividades desenvolvidas pelo setor Arquivo de Álbuns Fotográficos. 

[1] Dissertação defendida em agosto de 2010 no Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade Estadual Paulista/ UNESP- Campus de Marília. 
[2] Trabalha no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, katia_pupim@hotmail. 
[3] Docente da pós e graduação da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, UNESP, Departamento de Ciência da Informação - Campus de Marília, telmaccarvalho@marilia.unesp.br