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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Jogo dos 2 erros

Imagens copiadas de O Globo

A pouco tempo fomos surpreendidos com a morte do líder da Al Qaeda, Osama Bin Laden, e fomos por volta de um mês inteiro bombardeados com notícias a respeito. Foi surpreendente notar a necessidade da imagem como fonte de prova com a ansiosa expectativa de se ver o homem morto no papel fotográfico. Enfim... tal imagem não foi divulgada para que pudermos ter matéria prima de um post. Entretanto, a notícia de um jornal em particular chamou a atenção a respeito do "apelo imagético":

Observem a imagem e identifiquem o que tem de diferente entre a fotografia mais acima e a que aparece no jornal. Não reparou diferença? No que foi publicado no jornal não aparecem a Secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton e nem Audrey Tomason, ao fundo, assessora de contraterrorismo na Casa Branca. Enfim.. Trata-se de um jornal ultraortodoxo judaico, o Der Zeitung - que pela sua orientação religiosa - considera inapropriado que haja divulgação de imagem de mulher.

O que vem ao caso aqui não é o discurso religioso, mas que implicações este fato curioso pode ter quanto a maneira que a imagem é compreendida na sociedade, bem como a capacidade desse jornal de transpassar a veracidade de documentos imagéticos.
"A experiência recriativa de uma obra de arte depende, portanto, não apenas da sensibilidade natural e do preparo visual do espectador, mas também de sua bagagem cultural."
(PANOFSKY, 1991, p.39.)
Fazendo-se um entendimento análogo entre "obra de arte" e fotografia - por ambas tratarem de experiências imagéticas - Panofsky sugere que a compreensão da imagem encontra limite nos nossos valores culturais. Entretanto, armados do aparato tecnológico, esse jornal simplesmente suprimiu aquilo que é culturalmente "incompreensível" (ou inaceitável) em uma imagem jornalística: a figura feminina.

É óbvio que isto resulta em grandes perdas quanto a veracidade da imagem enquanto documento, conseqüentemente, também não se compreende o sentido total da imagem seja em sua análise formal pura, seja na atribuição de sentido as expressões nela captadas; embora esta última análise também se limite a valores culturais. Quanto a forma pura da imagem, diríamos sobre Hilary Clinton que se trata de uma mulher loira de meia idade... depois falaríamos das outras 12 pessoas, dos equipamentos, sem sair deste nível de detalhamento. Quanto à atribuição de sentido poderíamos dizer quem são as pessoas, que supostamente demonstram um estado de atenção e preocupação e Hilary Clinton (se não estiver bocejando disfarçadamente) é a principal figura na imagem a evidenciar tal prontidão.

"Existem duas coisas, portanto, que nos devemos perguntar sempre se acharmos falhas na exatidão de um quadro. Uma é se o artista não teria suas razões para mudar a aparência daquilo que viu. [...] A outra é que nunca deveríamos condenar uma obra por estar incorretamente desenhada, a menos que tenhamos a profunda convicção de estarmos certos e o pintor errado." 
(GOMBRICH, 2000, p. 18.)
Mantendo a mesma analogia na relação "quadro"-fotografia, pelo mesmo motivo defendido por Gombrich, poderíamos contrapor qualquer acusação que se pudesse contra esse jornal, a não ser que tivéssemos absoluta certeza que o Deus desses judeus não se incomodaria que mulheres fossem fotografadas (ou ainda, que tal Deus não exista).

Certo... talvez não possamos discutir o mérito da imagem modificada, mas não nos é proibido debater as implicações que tal fato tem para a sua compreensão, pois esta discussão existe porque nossa abordagem sobre a fotografia mescla arte, técnica, e organicidade arquivística. Mas até que ponto a compreensão dos três pode (deve) ser misturada?

terça-feira, 10 de maio de 2011

Imagem de Bin Laden morto

Rene Magritte - Le sens propre- IV
(copiado de Mark Young's  Series Magritte)
Osama Bin Laden está morto. É o que dizem. A despeito das inúmeras informações divulgadas na mídia, confirmadas pela Al Quaeda -- que seria a grande interessada em desmenti-la --, a dúvida ainda paira no ar, em função da não divulgação de uma foto do corpo de Osama Bin Laden.

Copiado de Polêmica Paraíba
Em 1967 a morte do maior ícone político produzido após a Segunda Guerra mundial foi fartamente documentada, em termos fotográficos. A qualidade de "prova do real" atribuída ao registro do fato foi decisiva para a ampla divulgação das imagens, feita com o fito de consumar na opinião pública a morte do guerrilheiro e, com isso (ao lado de um fortíssimo esquema de repressão), supostamente, desestimular a proliferação de seguidores. O convencimento operado pela exibição do troféu foi eficiente a ponto de, com a morte do herói, criar-se o mito, que tem como referencial imagético a célebre imagem de Korda, hoje vulgarizada até em produtos de moda e publicidade.
                         Copiado de Socialist Party                                      Copiado de G1

Copiado de Darryl Wolk
Em 2006 a invasão do Iraque, e a subsequente captura de Saddan Hussein, foi fartamente documentada pelos mass media. O problema da destinação a ser dada pela coalizão estadunidense ao ex-aliado (promovido a ditador) tornou-se uma questão mais sensível. Como eliminar o ilustre prisioneiro de guerra, de modo documentado, sem correr o risco de criar um novo mito (o que era o ponto mais sensível)? A solução encontrada foi a divulgação de uma "acidental" imagem feita por telefone celular, que serviu para "comprovar" a morte de Saddan, com caráter semi-oficial.

Hoje, novamente um inimigo dos Estados Unidos foi executado, porém os elementos comprobatórios dados à opinião pública são insuficientes para que a efetividade da ação seja unimanente reconhecida (tanto como efetiva, ou como legítima). O atributo da fotografia como "prova do real", mesmo em uma realidade abertamente reconhecida como photoshopável, continua presente. As demandas por uma imagem definitiva vêm de diferentes origens:
  • mórbidos de plantão, ávidos por sangue; 
  • ultranacionalistas de direita, sedentos por um troféu; 
  • o público mediodre de telenoticiários, incapaz de aceitar uma notícia sem ilustrações; 
  • analistas internacionais, vigilantes da conformidade dos procedimentos adotados pelos Seals;
  • seguidores de Bin Laden, a busca de uma imagem que possa ser fundadora de nova mitologia. 

Copiado de Revolutionary Program
A imagem oficial do acompanhamento da execução da Operação Tridente de Netuno pela alta cúpula do governo estadunidense não tem surtido o efeito exigido por uma fotografia conclusiva, a despeito de Hillary Clinton ter dito que foram os "38 minutos mais intensos" da vida dela (mesmo já tendo sido primeira dama por 8 anos).

O movimento de divulgação de imagens de inimigos do Estado Unidos mortos passou de uma política de ostensividade, nos anos 1960, para uma "acidental" discrição em 2006. Atualmente, a menos que alguma imagem da execução de Bin Laden "vaze", "sem querer", a postura tem sido a da censura, em uma atitude surreal, à Magritte:
Montagem de André Lopez

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Alunas de Biblioteconomia fazem monografia ligada ao DigifotoWeb

Foto: Tiago Machado

Laila di Pietro e Nathalia Carvalho, que colaram grau como bachareis em Biblioteconomia em 11/11/2010, defenderam recentemente monografia sobre organização de documentos audivisuais e imagéticos. O trabalho teve a orientação de Marcílio de Brito e André Lopez e buscou conciliar o instrumental biblioteconômico da recuperação e sistematização da informação de conteúdos com as bases da organicidade arquivística. O trabalho se vale dos referenciais teóricos da diplomática, desenvolvidos por Luciana Duranti e aplicados por Rosa Vasconcelos (2009) no caso específico da TV Senado. 

Acesse aqui a monografia "Organização de documentos audiovisuais e imagéticos: uma abordagem em diplomática e tipologia documental" que tem o seguinte resumo:
O estudo desenvolvido propõe a organização de documentos não-convencionais, a saber, audiovisuais e imagéticos, com base nas teorias da Diplomática e Tipologia Documental, para um maior aprofundamento no conhecimento do objeto de armazenamento de um Sistema de Informação. O tratamento do documento através de conceitos arquivísticos propõe uma nova abordagem de estruturação de sistemas para a organização da informação dentro de uma instituição. O estudo sobre Diplomática seguiu a teoria de Luciana Duranti, explicada por diversos autores. A formulação de campos de análise teve como modelo a análise tipológica e diplomática realizada por Vasconcelos (2009) em documentos audiovisuais do Senado Federal. A análise realizada neste trabalho permitiu a adaptação dos campos utilizados para descrição de documentos para vídeos e fotografias, além da proposta de inclusão do conceito de organização baseada nas características arquivísticas e bibliotecárias na estruturação de SIs e nas instituições que possuem acervos não-convencionais. 

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Espanha é campeã da copa 2010... Espanha?



A imagem acima provavelmente passou desapercebida do espectador brasileiro, porém, certamente, foi muito bem notada pelos espanhóis, principalmente pelos catalães. A bandeira da Catalunya e a taça,  empunhadas pelo jogador Puyol têm um efeito simbólico muito grande no complexo cenário dos imaginários nacionais da Espanha. A imagem, como informação, pode ser portadora de uma carga simbólica muito forte. Tais imagens-símbolos costumam ser reproduzidas em inúmeros documentos na tentativa de afirmação dos ideais nelas identificados. 

É importante que ao lidar com documentos imagéticos sejamos capazes de diferenciar as imagens (informação) dos documentos que as contém. Na reprodução acima temos várias imagens, mais abstratas, ou menos, porém nenhuma concreta e, de algum modo conflitantes: a vitória (representada pela taça), a Catalunya (representada por sua bandeira), a Espanha (representada por seu jogador) etc. Para tantas imagens (que valem mais do que 1.000 palavras) temos apenas um documento: este post, fruto de meu interesse acadêmico. Um documento com texto e imagem articuladas. 

A imagem, como informação independente de um documento pode ter múltiplos desdobramentos e influências. Podem ser mentais, podem impulsionar "imaginários" políticos e podem ser incorporadas a suportes, constituindo documentos para que tenham maior funcionalidade. A imagem de Puyol com a copa e a bandeira catalã provavelmente será transposta para posteres, camisetas, blogs etc. Longe dos debates, ao menos para mim fica a satisfação de ver que o melhor futebol triunfou.


Mesmo antes da decisão (e antes da comemoração de Puyol) alguns jornais brasileiros já apontavam a tensa relação Espanha-Catalunya no plano simbólico da copa do mundo, com alguns desdobramentos nada simbólicos (veja aqui reportagem do Correio Braziliense). Algumas imagens desempenharam papel crucial no estabelecimento, manutenção ou desarticulação de ordens políticas e sociais, como nos mostra o livro de Tomás Pérez Vejo sobre as guerras de independência ocorridas na América espanhola. Será que a forte imagem do jogador catalão terá maiores desdobramentos, no plano simbólico, no acirrado e histórico embate do nacionalismo espanhol? 

terça-feira, 29 de junho de 2010

Convite - Defesa de dissertação

Nesta 5ªf ,às 9:00, no auditório da FCI, será a defesa da dissertação de Edna de Souza Carvalho, integrante do grupo de pesquisa Acervos Fotográficos intitulada Impacto da gestão de documentos no processo de produção digital da TV Senado. A candidata será inquirida por Aline Lopes Lacerda (Fiocruz-RJ) e Renato Tarciso Barbosa de Souza (PPGCINF-UnB) sob a presidência de André Porto Ancona Lopez (orientador). A autora assim resume o trabalho:

"O advento da digitalização aponta para inúmeras mudanças tanto nos instrumentos de trabalho, quanto nas formas de transmissão da programação das emissoras de televisão. O ciclo de produção prevê o tráfego digital de imagens e conteúdos, sem a utilização de mídias – padrão tapeless – impondo a existência de um processo de trabalho capaz de interligar rotinas de produção, distribuição, transmissão e arquivamento. Rousseau e Couture (1998) destacam que a introdução progressiva da tecnologia eletrônica transforma o modo como as instituições funcionam relativamente a métodos de criação e de recepção, de utilização, de conservação, de orientação e de eliminação da informação e dos documentos de arquivos. Nesse cenário os produtores de conteúdo terão que executar atividades de gestão de documentos para trabalharem com eficácia. Este estudo analisa a gestão de documentos audiovisuais digitais como uma das etapas do processo de produção em emissoras de televisão em ambiente digital, a partir do estudo de caso da TV Senado".

Assistir a defesas de teses e dissertação é uma atividade recomendável não apenas para o interessado no tema, porém para qualquer aluno de pós-graduação, que passa a entender melhor a sistemática acadêmica do evento, já se prepara para a própria defesa, prestigia um colega em um momento tão importante, além de perceber que uma banca de defesa não é um tribunal inquisitorial:

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O poder das imagens


Na excelente partida de hoje a Argentina bateu o México por 3x1. O lance curioso, do ponto de vista das imagens ocorreu no 1º gol argentino, marcado como lance legal e depois visto como impedimento do atacante Tevez. Erros de arbitragem são comuns (mais do que se gostaria) e perdoáveis (muito mais do que se deveria), posto que os juízes são seres humanos, sujeitos a erros de interpretação, muitas vezes provocados por fatores conjunturais como a velocidade do lance, posicionamento na jogada etc. O curioso deste lance é que logo após o gol o atacante argentino olha para o bandeirinha, e este último inicia sua corrida em direção ao meio campo, validando o gol. O juiz hesita um momento e depois valida o gol, já em meio às comemorações argentinas. A equipe do México fica imóvel e não reclama de nada (quem cala, consente). Passados alguns instantes surge no telão do estádio a animação que revela a ilegalidade do lance. O fato não passa desapercebido do bandeirinha, que chama o árbitro, e nem da equipe do México que, agora, passa a reclamar de algo que, momentos antes havia sido percebido por eles apenas como um lance normal de jogo. 

Saindo da análise futebolística o episódio é marcante pois indica como a imagem, que nada mais era do que a representação de um momento da realidade, passou a ser mais importante do que a experimentação da realidade ocorrida momentos antes pela equipe mexicana. Uma simples imagem deu novo significado a um fato que já havia sido consumado. Para que isso fosse possível para milhões de pessoas ao redor do mundo simultaneamente a crença nos atributos técnicos e na precisão do aparato fotográfico utilizado teve que ser inquestionável. Mais do que isso, a crença na neutralidade da manipulação gráfica, que produziu uma zona de sombras e marcou, com suposta precisão, o momento exato do lance, teve que ser, igualmente unânime. Tal unanimidade foi responsável pela mudança de atitude da equipe do México, que de resignada passou a se sentir injustiçada e do bandeirinha que chamou o juiz para tentar reverter sua decisão. Os narradores do jogo (que nada comentaram sobre a irrgularidade antes de verem a animação gráfica) e os espectadores também passam a ressignificar o fato (reveja o lance aqui). A simples crença na precisão da imagem televisiva (e no aparato que a produz) é insuficiente para que o fato seja aceito como real pelos espectadores. Somente a animação computadorizada nos devolve a fé na realidade transmitida via satélite, posto que a imagem por si mesma nos é (mesmo com narração) ainda muito polissêmica. 

Nos documentos imagéticos de arquivo tal polissemia somente é eliminada pelo contexto de produção documental, que deverá estar presente nas ferramentas de gestão e organização documental. Com certeza, nesse exato momento, uma cópia de tais imagens já devem ter sido anexadas ao processo de análise técnica do desempenho do trio de arbitragem a ser feito pela comissão de arbitragem da FIFA. O próprio processo, por ser um documento administrativo, buscará eliminar a polissemia e as imagens estarão acompanhadas, não apenas da animação gráfica, de outros elementos, em sua maioria textuais, que não apenas promoverão outra significação do fato, mas que ainda darão algum tipo de encaminhamento administrativo. Nos arquivos da comissão disciplinar, mais importante do que saber o significado de tais imagens é registrar, de modo inequívoco e preciso, as ações administrativas deste órgão, subsidiadas, ou não, por imagens. Elas, como parte integrante de um documento maior, jamais poderão ser, em termos lógicos, desmembradas em função de qualquer interesse de pesquisa.