Mostrando postagens com marcador conhecimento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador conhecimento. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, 8 de abril de 2019

A imagem como produtora de conhecimento

Por Julia Donato

Por meio de uma breve revisão de literatura, a autora Alejandra Niedermaier, em seu texto Cuando me asalta el miedo, creo una imagen, afirma que as imagens provocam um imaginário que se comporta como um elemento possibilitador para chegar a representação. Para ela, "Las imágenes constituyen pues procesos cognitivos entendidos éstos como los procesos en los que el ser humano interactúa con su entorno".

Como exemplo de imagem, a fotografia veicula a constituição de um imaginário individual e social. Possibilita a realização de um processo hermenêutico  (análise do autor, texto e leitor) do que é perceptível, tornando visível o instante passado. A imagem resultante é o continente e o conteúdo da memória; em alguns casos é conformadora da memória, isto é, as imagens acompanham nossas recordações; em outros, nossa memória é moldada a partir das imagens. 

A linguagem da fotografia produz um efeito de novo, de algo nunca visto, que só pode ser reconhecido na realidade. Ela é vista no presente, mesmo que representante de um evento do passado, ou seja, a fotografia é o presente do passado. Segundo Alejandra (2016, p. 180),
La toma fotográfica entonces recorta el presente para ingresarlo a su imagen. En este sentido la fotografía trabaja la profundidad del tiempo (en la misma acepción que la profundidad de campo). La fotografía instruye así la mirada al instaurar relaciones inéditas y modificar el conocimiento. 
Fotógrafos e historiadores selecionam quais aspectos do mundo real vão retratar, isto é, se trata de um encontro seletivo com o seu objeto. O valor da imagem retratada deve ser medida pela extensão imaginária. O importante é encontrar a distância focal ideal para que a análise não fique comprometida. A verdadeira análise hermenêutica deve compreender a obra não só em sua particularidade, e sim na relação que ocupa na história e nos vínculos com outras obras. Esse processo de análise considera, portanto, o contexto de criação de uma fotografia/obra/documento.

A autora também comenta sobre a mudança de paradigma do analógico ao digital. As fotografias analógicas mostram e representam o mundo, enquanto as fotografias digitais são projeções do pensamento, mostram e representam o pensamento. A imagem analógica é um signo de existência - por ser uma "huella" da realidade -, a imagem digital é um signo de essência, já que nessa fotografias predominam tramas de sentido, isto é, é facilitadora de práticas narrativas e conceituais.

Platão acreditava que há três elementos necessários para que o conhecimento ocorra: o nome, a definição e a imagem. A autora cita o trabalho de psicanalistas que entendem que quando uma criança captura sua imagem em uma superfície espelhada, podendo configurar seu próprio esquema corporal é o resultado fundamental para o seu desenvolvimento psíquico e para a formação de sua personalidade. Especialistas em psicologia cognitiva afirmam que o raciocínio é inconscientemente atravessado por imagens, sua sobreimpressão, sua exploração e foco.

A imagem, então, é produtora de pensamento e, portanto, converte-se em um potente recurso educativo. A aprendizagem é um processo que está composto por três elementos: o conteúdo curricular, o docente e o aluno. Em paralelo, o ensinamento da técnica de fotografia básica contém os seguinte componentes: sensibilidade do filme, diafragma e velocidade. Além disso, a fotografia como veículo de conhecimento cresce com a comunicação digital, devido à sua localização, ao mesmo tempo, em diferentes culturas, mídias e artefatos.

Em todos os casos, a palavra do professor é aquela que pode fazer o link e o contraponto entre narrativas visuais, tecnológicas e textuais. Assim, a explicação do ensino exige envolvimento, uma implicação que pode, em última análise, proporcionar ao aluno um espaço livre onde você pode se juntar ao conhecimento adquirido e à sua própria criatividade.

Uma pedagogia de imagem deve fomentar diálogos pedagógicos em que os alunos possam ser questionados sobre seus pensamentos e desejos, possibilitando a reflexão e dando-lhes o tempo necessário para integrar sentidos por meio de conceitos multifacetados. 

Alejandra conclui o texto com a convicção de que uma pedagogia da imagem deve conter os aspectos elucidados, assim como os aspectos libertários e éticos. Uma pedagogia da imagem deve patrocinar a criação de narrativas que expliquem os sentidos "dentro e com" o mundo e na qual, ao mesmo tempo, você pode vislumbrar seu eco poético. Ela também faz o seguinte questionamento:
¿Acaso el fotógrafo y el docente no son un ejemplo perfecto de la perspectiva invertida? La escena fuga en el fotógrafo, lo envuelve y entra en su cámara. El conocimiento entra en el docente y en el discente. Al envolverlos, los incluye en la escena. Esa inclusión implica el involucramiento, el compromiso de los –docente, alumno-realizador visual–. 
A partir do texto elucidado e das discussões na disciplina, e tendo como base a aprendizagem hermenêutica, como poderia ser ensinada a fotodocumentação para pessoas das diversas áreas do conhecimento, de acordo com o seu projeto de pesquisa?


Referência
Niedermaier, A. (2016). Cuando me asalta el miedo, creo una imagen, en Cuadernos del Centro de Estudios de Diseño y Comunicación, 56, pp.177-198. Buenos Aires, Argentina. Recuperable en: https://fido.palermo.edu/servicios_dyc/publicacionesdc/vista/detalle_articulo.php?id_libro=545&id_articulo=11484