quinta-feira, 6 de julho de 2017

Coletivos fotográficos: onde está o arquivo físico?

O tema de coletivos fotográficos, onde um grupo de fotógrafos se une para pensar e conduzir suas atividades como um grupo e não mais individualmente, nos permite várias linhas de debates tanto na área da história da Fotografia, conversas sobre linguagem fotográfica, além do foco no fotojornalismo e como não poderia deixar de ser também promover debates com assuntos pertinentes ao universo da arquivologia.

Faremos aqui algumas pontuações considerando três coletivos fotográficos. O coletivo argentino Movimiento Argentino de Fotografxs Independidentes Autovocadxs – M.A.F.I.A, criado em 2012, O Cia da Foto, coletivo nascido em São Paulo em 2003 e o coletivo Ladrões de Alma, nascido em Brasília, em 1988.
O coletivo M.A.f.I.A  surgiu com a proposta de fazer um contraponto na definição de pautas com os jornais impressos e os grandes canais de televisão. 
Duas fortes características do coletivo, além de sua intensa publicação nas redes sociais é a adoção do modelo copyleft para disponibilizar suas fotos na internet, em contraponto com o copyright, com sanções para o caso de cópias de qualquer ordem, com conseqüências legais e financeiras para a infração. Neste caso o coletivo permite o uso gratuito das fotografias postadas, desde que respeite a integridade da obra e o nome de seu autor. Outra característica fundamental para este grupo é que, como diz o nome, o fotógrafo se autoconvida a fazer parte do coletivo, é uma forma aberta de agregar novos participantes ao projeto.

M.A.F.I.A. - autor desconhecido

O grupo Ladrões de Alma nasce com o intuito de dar visibilidade para uma produção autoral, em uma cidade, Brasília a capital do país, onde nos anos até os anos 80, era conhecida no meio fotográfico brasileiro como um centro de excelência do fotojornalismo. É um grupo que investe na pesquisa de linguagem e expressão pessoal, nasce com a produção de uma coleção de postais, propondo novos olhares para um formato tradicional de veiculação fotográfica. Sua formação mudou pouco no tempo, havia um núcleo fixo desde a fundação, mas alguns fotógrafos participaram e depois se afastaram do grupo por motivos diversos. Foram 03 coleções de postais e várias exposições coletivas. O grupo está em atividade até hoje, são quase 30 anos de história.(veja mais em

O Cia da Foto nasce também dentro do universo do fotojornalismo, como o M.A.F.I.A, também com pretensões de trazer uma nova linguagem visual para as coberturas jornalísticas.  Já consolidado, em uma formação fixa, atuou no fotojornalismo, hora atendendo a demandas hora ofertando uma produção com pautas próprias, mas também atuou no mercado de publicidade. Uma decisão do grupo causou certo alvoroço no meio fotográfico, foi a opção de assinar as fotos com o nome do coletivo e não com o nome do fotógrafo. O grupo entendeu que a o tratamento de imagens, a chamada pós produção, que não era feita pelo autor da fotografia, deveria ser considerada também na autoria e então decidiram informar que o nome a ser mencionado na publicação seria o nome do coletivo: Cia da Foto. O grupo com quatro integrantes existiu por dez anos e encerrou a parceria. algumas imagens do coletivo estão disponíveis no Flikr, permite o download das imagens, desde de que citando a autoria(Cia da Foto) e não podendo comercializar a imagem.
foto: Cia da Foto

A questão posta para o coletivo argentino e para o grupo brasiliense, principalmente porque não foram localizadas informações precisas sobre o Cia da Foto, é que não há um arquivo físico onde estejam acondicionadas as fotografias da produção do grupo. O M.A.F.I.A definiu que sua produção estaria disponível em banco de dados na internet, em um site de onde se poderia também fazer download das imagens desejadas.  O site está fora de ar logo a produção não pode ser acessada, Há algumas fotografias também na página do coletivo no Facebook, mas as imagens não tem a informação sobre autoria. O grupo Ladrões de Alma também não tem um arquivo físico onde estejam acondicionados seus mais de 25 anos de produção fotográfica. Desta forma não há onde consultar em documentos físicos, catalogados e conservados, sobre a produção destes coletivos. Há um blog com parte da produção do grupo Ladrões de Alma, um documentário e um livro publicado em 2016 como registro dos 25 anos de fundação do grupo.

foto: Almir Israel

A constituição de coletivos fotográficos, em suas práticas, percebe-se uma grande preocupação com a linguagem, com a intenção na produção das imagens, com a forma de dar visibilidade, com o modelo de citação do nome do autor, mas o arquivo físico da produção fotográfica, com toda a sistematização, catalogação e conservação que merece um conjunto de imagens deste porte e com o significado da proposta do coletivo não é uma preocupação. Não deixam muitos rastros, se desmancham no ar, ou mesmo na rede.


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