domingo, 1 de agosto de 2010

A importância do formato no documento fotográfico



O termo "fotografia" é extremamente genérico e indica muito mais uma técnica de obtenção e reprodução de informações visuais do que uma espécie documental. A importância do documento físico vai além da questão técnica da fixação e preservação da informação. Muitos projetos de digitalização estão sendo realizados como vistas a substituir o contato com o objeto original, para a uma melhor preservação. Até aí tudo bem. O problema ocorre quando se entende, equivocadamente, que a cópia digital é capaz de preservar todos os atributos informativos do documento original. Esse raciocínio, felizmente costuma não generalizar a eficácia dessa técnica aos documentos de valor museal, nos quais o objeto físico, por sua aura, supera em importância a informação imagética. Mas e os documentos imagéticos de arquivo? Seriam eles passíveis de substituição por clones digitais sem perda relevante de informação documental?

É sempre importante alertar que em um documento fotográfico, diplomaticamente falando, tanto o suporte como o formato são cruciais. A digitalização tão somente reproduz a informação visual. com significante perda do valor informativo do documento, como ocorre a imagem que ilustra este post. A eliminação do suporte, como variável informativa relevante, a partir da reprodução de imagens, muitas vezes persegue, sem se dar conta, a quimera do mítico objeto bidimensional, ao entender que "imagem + suporte físico = imagem digitalizada". Seguidores de tal falácia acabam por inserir nos planos de classificação arquivísitcos os nada específicos "objetos tri-dimensionais", como se uma simples folha manuscrita de papel não fosse nem objeto e nem tridimensional. Com esse modo de proceder os documentalistas serão condenados a passar o resto da existência como o lenhador de Borges, procurando o mítico disco de Odin, caído de cabeça para baixo. (Leia aqui o conto "El disco" de Jorge Luis Borges). 

A imagem acima, se pensada bidimensionalmente representaria, no âmbito da análise pré-iconográfica de Panofsky, mísseis disparados de uma aeronave de guerra destinados a um alvo distante e à frente. A dimensão dela como objeto tridimensional, flexível, cuja largura deve ser do tamanho de um poste, nos passa uma mensagem completamente oposta:


Somente com a disposição circular da informação visual é que o documento passa a ter sua mensagem compreendida. Nesse caso, é a imagem que propicia a atribuição de sentido ao elemento textual: "what goes around comes around". Este cartaz, junto com mais outros três, perfazem um kit de propaganda pacifista contrária a invasão estadunidense ao Iraque:





Acesse aqui blog com as fotos com o "efeito bumerangue" desses cartazes.

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