terça-feira, 3 de setembro de 2019

O conceito de informação - Rafael Capurro; Birger Hjorland

__________________________________________________________________

Como parte da atividade proposta na Disciplina Gestão de Documentos Fotográficos do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB) são apresentados abaixo alguns trechos do artigo O Conceito de Informação (CAPURRO; HJORLAND, 2007) para serem discutidos em sala de aula.

Introdução

O conceito de informação como usado no inglês cotidiano, no sentido de conhecimento comunicado, desempenha um papel central na sociedade contemporânea. O desenvolvimento e a disseminação do uso de redes de computadores desde a Segunda grande Guerra mundial e a emergência da ciência da informação como uma disciplina nos anos 50, são evidências disso. Embora o conhecimento e a sua comunicação sejam fenômenos básicos de toda sociedade humana, é o surgimento da tecnologia da informação e seus impactos globais que caracterizam a nossa sociedade como uma sociedade da informação. (P. 149)

Para uma ciência como a CI, é sem dúvida importante a forma como seus termos fundamentais são definidos e, assim como em outros campos, na CI a questão sobre como definir informação é freqüentemente levantada. Este artigo é uma tentativa de revisar o status do conceito de informação em CI, com referência também a tendências interdisciplinares. No discurso científico, conceitos teóricos não são elementos verdadeiros ou falsos ou reflexos de algum outro elemento da realidade; em vez disso, são construções planejadas para desempenhar um papel, da melhor maneira possível. Diferentes concepções de termos fundamentais, como informação, são, assim, mais ou menos úteis, dependendo das teorias (e, ao fim, das ações práticas) para as quais espera-se que dêem suporte. Na seção de abertura, discutimos o problema da definição de termos a partir da perspectiva da filosofia da ciência. (P. 150)

Dependência teórica dos termos científicos

A palavra informação - e combinações como recuperação de informação e centro de informação - tem, definitivamente, contribuído para elevar a opinião pública sobre o trabalho da biblioteca e da documentação, que é geralmente tido como sendo desinteressante, poeirento e distante do que realmente está acontecendo na sociedade. Talvez fosse sábio deixar a palavra informação lá, se não fosse pelo fato, já mencionado, de que várias tentativas têm sido feitas para definir informação como um termo formal, relacionado ao trabalho com documentação e informação e, mesmo, para defini-la como quantidade mensurável, correspondendo a questões do tipo: Quanta informação foi recuperada pela busca? (P. 154)

Informação como um conceito interdisciplinar

Em seu livro seminal The study of information: interdisciplinary messages, Machlup e Mansfield (1983) coletaram visões chave sobre a controvérsia da interdisciplinaridade em ciência da computação, inteligência artificial, biblioteconomia e CI, linguística, psicologia e física bem como nas ciências sociais. O próprio Machlup (1983, p. 660) discorda do uso do conceito de informação no contexto de transmissão de sinais, os sentidos básicos da informação em sua visão referem-se todos a dizer alguma coisa ou sobre alguma coisa que está sendo dita. A informação está dirigida para mentes humanas e é recebida por mentes humanas. Todos os outros significados, inclusive seu uso com relação a organismos não humanos, bem como à sociedade como um todo, são, de acordo com Machlup, metafóricos e, como no caso da cibernética antropomórficos. (P. 160)
Capurro (1996) define informação como uma categoria antropológica que diz respeito ao fenômeno de mensagens humanas, cujas estruturas verticais e horizontais estão relacionadas ao conceito grego de mensagem (angelia), bem como ao discurso filosófico (logos). (P. 161)

O conceito de informação nas ciências naturais

Informação, a primeira vista, é algo que flui entre um emissor e um receptor. Mas, a definição de informação de Shannon é quantitativa no que diz respeito a seleções possíveis em um repertório de símbolos físicos. É, de fato, como Underwood (2001) observa, uma teoria de transmissão de sinal ou mensagem, não de transmissão de informação. O modelo de Shannon de comunicação (Figura 1) inclui seis elementos: uma fonte, um codificador, uma mensagem, um canal, um decodificador e um receptor (SHANNON, 1948). (P. 163)




De modo estrito, nenhuma informação poderia ser comunicada entre um emissor e um receptor, porque esta teoria não diz respeito à comunicação de uma mensagem significativa, mas, em vez disso, à reprodução de um processo de seleção. (P. 163)

O conceito de informação nas ciências humanas e sociais

[...] observamos que Shannon conservou um aspecto básico do moderno conceito de informação, no sentido de comunicação de conhecimento, ou seja, seleção. Quando estamos lidando com o significado de uma mensagem, discutimos interpretação, isto é, a seleção entre as possibilidades semânticas e pragmáticas da mensagem. Interpretar uma mensagem significa, em outras palavras, introduzir a perspectiva do receptor - suas crenças e desejos, torná-lo um parceiro ativo no processo de informação. (P. 169)
A informação não é uma propriedade de fatos, mas é dependente do contexto e das limitações. Existe uma diferença entre informação pura e informação incremental. (P. 170)
[...] se a informação for vista como algo existindo independentemente do conhecimento do receptor, isto não implica necessariamente que a informação seja algo absoluto. A teoria situacional concebe a informação em relação a situações com suas restrições e contingências. A informação é um conceito relacionado ao sistema (OESER, 1976, II, p. 86). Algumas teorias clássicas da informação a definem com relação à mudança no modelo de realidade do receptor; isto é, como um conceito pragmático (MACKAY, 1969; MORRIS, 1955). (P. 172)

Informação em CI

Como vimos, a palavra informação tem uma história muito mais rica que os campos de investigação conhecidos como biblioteconomia, documentação e CI, que são, em grande medida, produtos do século XX. Acompanhar a influência deste termo, e da rede complexa de disciplinas ligadas a ele é, de fato, difícil. Machlup e Mansfield (1983, p. 22), sugeriram que "sentido amplo a CI é um agrupamento de pedaços coletados em uma variedade de disciplinas que falam de informação em um de seus muitos significados". (P. 177)

Recuperação de informação e o conceito de informação

O termo recuperação da informação - RI - é possivelmente um dos termos mais importantes no campo conhecido como CI. Uma questão crítica é, portanto, saber por que e em que sentido a RI usa o termo informação. A RI pode ser vista tanto como um campo de estudo quanto como uma entre as muitas tradições de pesquisa relacionadas ao armazenamento e recuperação de informação6. Embora o campo seja muito mais antigo, a tradição remonta ao início dos anos 60 e aos experimentos de Cranfield que introduziram medidas de revocação e precisão. Estes experimentos classificam-se entre os mais famosos em CI e continuam, hoje, nos experimentos TREC (Text Retrieval Conference). (P. 179)

Conclusão

Existem muitos conceitos de informação e eles estão inseridos em estruturas teóricas mais ou menos explícitas. Quando se estuda informação, é fácil perder a orientação. Portanto, é importante fazer a pergunta pragmática: "Que diferença faz se usarmos uma ou outra teoria ou conceito de informação?" Esta tarefa é difícil porque muitas abordagens envolvem conceitos implícitos ou vagos que devem ser esclarecidos. (Tal esclarecimento pode provocar resistência porque informação é muito freqüentemente usada como um termo para aumentar o status, com pouca ambição teórica.) Deveríamos também perguntar a nós mesmos o que mais precisamos saber sobre o conceito de informação a fim de contribuir para maior desenvolvimento da CI. (P. 193)
A medida que os sistemas de informação tornam-se mais globais e interconectados, a informação implícita é, muitas vezes, perdida. Esta situação desafia a CI a ser mais receptiva aos impactos sociais e culturais dos processos interpretativos e, também, às diferenças qualitativas entre diferentes contextos e mídias. Esta mudança significa a inclusão dos processos interpretativos como uma condição sine qua non dos processos de informação. (P. 194)
Como temos demonstrado, esta tarefa é essencialmente multi e interdisciplinar. A construção de redes é basicamente um processo de interpretação. A construção de uma rede científica como uma atividade auto-reflexiva pressupõe o esclarecimento de conceitos comuns. Um destes conceitos é informação. (P. 194)

Referência:

CAPURRO, Rafael; HJORLAND, Birger. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação,  Belo Horizonte ,  v. 12, n. 1, p. 148-207,  abr.  2007 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-99362007000100012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em  03  set.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-99362007000100012.

Um comentário:

  1. Tendo em vista as questões trazidas pelos autores sobre o conceito da informação, como a Ciência da Informação pode atuar para os esclarecimentos sobre o que é informação?

    ResponderExcluir

Comente & Argumente