sábado, 12 de abril de 2014

A importância do contexto...

Foto by Niro
A compreensão dessa imagem requer alguns dados de contexto, como, por exemplo, saber quem é Nícolas Behr, conhecer algo sobre Brasília, entender algumas transformações que ocorreram na avenida comercial W3 (sabendo o que significa/ou a W3 no imaginário brasiliense).

Tais informações contextuais são fundamentais para a compreensão da informação acima, porém insuficientes para entender o documento. Sem o documento estaríamos falando somente da poesia-mosaico de Behr. O documento é o registro fotográfico feito por Niraldo Nascimento, o Niro, que assim o contextualizou em depoimento no Facebook de sua pesquisa de doutorado:
O Ver e o Olhar na W3
Sempre fui apaixonado pela fotografia. Na faculdade, chegava uma hora antes para folhear livros e revistas. Nunca imaginei que todas aquelas imagens foram assimiladas e reorganizadas pelo meu inconsciente. Eu começava a aprender a olhar, mais do que ver. Formas, cores, cheiros, superfícies e tantas outras sensações foram classificadas em uma ordem desconhecida em meu inconsciente.
Revendo algumas fotos que fiz, observo signos não de um, mas um mosaico dessa autopoiese recompilada. Depois de minha viagem 5 minutos ao continente velho (durou 30 dias mas, foi uma viagem cartão-postal) percebi que minha imagética era linear. Fui fazer um curso, não de fotografia, mas de "olhar" com Fayga Ostrower. A técnica fotográfica linear eu dominei sozinho.
Ainda assim, meu racionalismo de então bloqueava o fluxo tentava escoar do meu inconsciente. Na maioria das minhas fotos está presente o VER e não o OLHAR. Então apareceu Ana K. e me apresentou a W3. O que deveria ser um corredor cultural em Brasília, ainda hoje é um corredor de oficinas, peças e acessórios para automóveis.
Ana K. me alertou sobre totens com mosaicos montados na W3. Eu os tinha visto várias vezes, mas nunca olhado. Prometi a ela um percurso fotográfico pela avenida, não cumprido. Artistas plásticos, como Ana K. ou minha amiga Andrea Rosenfeld parecem que têm o OLHAR no DNA. O tempo passou e o Governo do Distrito Federal (GDF) derrubou todos os totens. A princípio fiquei arrasado, não podia fazer mais nada.
Pouco tempo depois, vi que o GDF tinha razão. Os totens, com poesias em mosaico, atrapalhavam a mobilidade das pessoas, especialmente deficientes. Os poetas também compreenderam isso e refizeram e fizeram novos mosaicos no chão e nas paredes. Aguçado pelo desafio de Ana K., finalmente olhei e fotografei alguns dos mosaicos. A foto foi escrita em "brasilianês" e, possivelmente, não compreenderão. São poucas Suzanas na W3.
  Niraldo Nascimento, 30/03/2014

A importância do contexto é fundamental para entender o documento: não se trata do poema-moisaico de Behr e nem da foto dele feita por Niro. É tudo isso e mais um pouco. Esse "pouco", relatado no depoimento do fotógrafo é que dá significado pleno ao documento, que é, nesse caso, a reprodução fotográfica. Sem esse "pouco" perde-se completamente o significado global. 

Outro nível de contextualização necessária está ligado à compreensão dos signos locais de Brasília, mas isso vem em segundo lugar, para permitir entender a imagem, apenas (apenas?) ...

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