De la misma manera que
el niño agrupa por primera vez sus miembros al mirarse en un espejo,
nosotros oponemos a la descomposición de la muerte la recomposición por la imagen.
nosotros oponemos a la descomposición de la muerte la recomposición por la imagen.
Régis Debray
Por
Rafael Dias da Silva
O artigo trata de uma
série de fotos, tiradas de parentes posando ao lado da
foto do falecido, durante o luto pelo ente querido. Esse retrato, em geral, foi
tirado em vida e compõe a foto principal como se ele estivesse lá com sua
família.
Este uso interessante e
precoce da fotografia dentro da fotografia, com forte proximidade, em um
primeiro plano, dos laços familiares, modelará um formato cujos ecos podem ser
encontrados em algumas escolhas estéticas atuais.
Para ilustrar esse ponto,
são analisadas duas séries de fotografias tiradas pelos artistas Inés Ulanovsky
e Julio Pantoja, que além de “dialogar com a herança da foto da pessoa
desaparecida”, armam visualmente uma cena que não é estranha ao gênero iniciado
por essas imagens de famílias segurando as imagens do ausente.
O retrato fotográfico e
morte
Devido ao alto custo das
primeiras fotos e à frequência incomum do evento, muitas vezes um membro da
família (especialmente um bebê ou uma criança) acabava morrendo sem ser
retratado. A última oportunidade para fazê-lo era durante as primeiras horas
após a morte, dentro de um gênero preciso e muito usual na época: o retrato fotográfico
de defunto.
Na segunda metade do
século XIX ocorreu a produção de uma enorme quantidade de imagens dos mortos.
Essas eram as últimas memórias de pessoas que não dinheiro para fazer retratos
pintados de seus entes queridos. Frequentemente, os mortos eram acomodados sentados
ou deitados, como se estivessem dormindo. Para as crianças, em particular, eram
vestidas como anjinhos para a ocasião. As imagens faziam parte do cotidiano: as
imagens eram exibidas em residências, mantidas em álbuns de família e enviadas
para os familiares. Desta forma, se tentava capturar a presença de uma pessoa
para a memória. Hoje em dia, tirar, possuir, ou pior, exibir imagens de
cadáveres ou vigílias de parentes é considerado algo perverso, macabro,
vergonhoso no ambiente familiar.
Na foto acima há duas
pessoas sentadas: uma mulher idosa de luto (a avó) sentada ao lado de um
homem (o pai). Atrás deles há duas mulheres de pé - uma delas (a mãe) de luto
e uma criança. Ao lado deste conjunto, você pode ver uma cadeirinha infantil
decorada com flores e com uma fotografia no encosto. Lá é possível ver a
mãe com a criança morta. Esta foto mostra a 'fé da realidade' depositada
na técnica fotográfica, uma vez que não basta mostrar o retrato da
criança, mas sim colocar o retrato na mesma cadeira que a criança sentava,
ilustrando a verdadeira e real continuidade entre a fotografia e corpo
ausente.
As fotos de Ulanovsky
A série de Inés Ulanovsky, Fotos Tuyas,
trata da relação das famílias dos desaparecidos com as fotos dos ausentes. Que
fotos eles guardam, como os mantêm, como eles posam ao lado delas e outras
questões, divididas em nove seções - com nove grupos familiares - cada um
precedido por uma pequena nota manuscrita de um dos retratados.
Nessas fotos podemos observar o emprego
de alguns "jogos de caixas chinesas". Por exemplo, abaixo é
possível observar uma foto de uma foto (em preto e branco) de um jovem com as
mãos nos bolsos. Em seguida, essa mesma foto é vista nas mãos de uma mulher,
que poderia ser sua irmã ou esposa, e por último, pendurado em uma corda por
cima das cabeças do que parece ser de sua mãe ou tia. A visão da foto
sozinha e depois a foto nas mãos de outros reforçam a ausência e o vínculo
(claramente essas mulheres são da família do desaparecido).
As fotos de Julio Pantoja.
A série de Julio Pantoja, Los
hijos, Tucumán veinte años después (1996 - 2001), está composta por
retratos de filhos desaparecidos tucumanos. Trata-se de 38 jovens que olham
fixamente para a câmera, em quase todos os casos. Dos 38, 12 optaram por
realizar uma ou mais fotografias de seu pai ou mãe desaparecidos, muitas vezes
ao lado de si mesmos como bebês.
Os jogos de caixas chinesas podem também
ser vistos na foto tripla acima demonstrada. Nota-se uma jovem que
está segurando duas fotos. Em uma delas observa-se um casal segurando um bebê, no outro
(de tamanho maior) uma menina pequena mostra a imagem do casal com o bebê.
Claramente, é sobre seus pais e ela, e esta segunda foto adiciona
um efeito da ausência: transforma aquela menina em filha,
demostrando um tipo de foto de "filho de pessoa desaparecida com
foto da(s) pessoa(s) ausente(s) na mão" e evidenciando a falta ao longo do
tempo de uma vida.
Antes e depois
Antes e depois
Ao se traçar uma linha - desnecessariamente sinuosa - de continuidades e rupturas entre as fotos antigas e os retratos de parentes de argentinos desaparecidos, são encontrados alguns pontos interessantes.
A princípio, os jogos temporários que propiciam essas imagens são notáveis. Fotografar uma fotografia aumenta o tempo adequado da imagem - assim como o passado encontra o presente - um outro tempo passado (um ou vários) e cria um efeito cascata. No entanto, o passado anterior demonstrado pela foto dentro da foto difere em ambos casos.
Nos daguerreótipos, a morte do membro da família aconteceu há pouco tempo e a foto substitui de certa forma o corpo do falecido. Isto é reforçado pelas regras mais rígidas do género 'foto de família' (lugares pré-estabelecidos, poses, etc.) e por uma forte idéia de família tradicional (completa, patriarcal, estrutura fechada e durável ao longo do tempo).
A princípio, os jogos temporários que propiciam essas imagens são notáveis. Fotografar uma fotografia aumenta o tempo adequado da imagem - assim como o passado encontra o presente - um outro tempo passado (um ou vários) e cria um efeito cascata. No entanto, o passado anterior demonstrado pela foto dentro da foto difere em ambos casos.
Nos daguerreótipos, a morte do membro da família aconteceu há pouco tempo e a foto substitui de certa forma o corpo do falecido. Isto é reforçado pelas regras mais rígidas do género 'foto de família' (lugares pré-estabelecidos, poses, etc.) e por uma forte idéia de família tradicional (completa, patriarcal, estrutura fechada e durável ao longo do tempo).
Referências
Fortuny, N. (2011). Cajas chinas: la foto dentro de la foto o la foto como cosa. Revista Chilena de Antropología Visual, 1, (17), 44-71.