segunda-feira, 28 de maio de 2012

Organização de acervo imagético: Arquivologia X Biblioteconomia




Os acervos imagéticos são comumente organizados a partir das técnicas existentes na Biblioteconomia, com foco nas informações encontradas a partir da imagem. A utilização da indexação de assuntos para o armazenamento e recuperação de fotografias em uma biblioteca de imagens parece suprir as necessidades desse modelo de centro de informação, uma vez que abrange diversas possibilidades de interpretação do conteúdo da imagem. Qual seria a contribuição, então, da organização de acervos fotográficos a partir de teorias da Arquivologia, como a Diplomática e a Tipologia Documental?

As coleções de bibliotecas têm como função principal o insumo, ou seja, a reutilização da informação para diversos fins, independente de seu contexto de produção. Para a Arquivologia, porém, a principal função de um acervo é a prova do cumprimento das atividades institucionais, tendo como base as relações de proveniência e contexto de produção.

Uma das contribuições para uma coleção de fotografias de uma análise Diplomática, que identifica os aspectos formais do documento e Tipológica, que consiste na “ampliação da Diplomática em direção à gênese documental” (BELLOTTO, 2002), ao conhecimento por parte do bibliotecário da real intenção da fotografia, facilitando o reconhecimento das imagens contidas no item.

A foto acima, por exemplo, seria indexada por um profissional da Biblioteconomia a partir de termos como: igreja, religião católica, praça, entre outros. Caso esse profissional não conseguisse, apenas com a foto, reconhecer a localidade onde está situada esta igreja, não seria possível a inserção dos termos que identificasse esse aspecto. Com as informações obtidas a partir das análises Diplomática e Tipológica, essa informação estaria preservada junto ao documento, e seria possível, neste caso, incluir termos que ligasse esse item à cidade de Jundiaí e outras informações importantes.

Comentário: Esse post tem como intenção iniciar uma discussão sobre os inúmeros benefícios do trabalho em conjunto dos profissionais da informação, pretendendo apenas expor um aspecto relevante da situação proposta.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Semelhanças de estilo e organização da informação

 
              foto 1: copiada de Library of Congress;                          foto 2: copiada de Digifotoweb

Ao olhar atentamente para as imagens acima é possível notar alguma equivalência na composição: um elemento no primeiro plano que tem a orla do mar e o horizonte como pano de fundo, criando uma certa ambiguidade quanto ao tema principal que pode ser tanto o mar como a canoa ou o cão. Águas calmas e céu enevoado com luminosidade difusa também são elementos comuns em ambas imagens. 

Não é necessário ser especialista em história da fotografia - e nem ter acesso aos documentos físicos originais - para compreender que as semelhanças param por aí e que há uma distância de cerca de 100 anos entre os dois registros fotográficos. O hábito de retratar orlas marinhas, no entanto, é anterior à própria invenção da fotografia e cria um estilo pictórico que sobrevive ainda hoje. Panofsky, entre outros estudiosos trabalharam com muito mais profundidade essa questão e ela não está no foco da análise atual. 

A organização de coleções fotográficas, como é tradicional - e até mesmo esperado - buscará dar a ambas as fotos o mesmo tratamento informacional; isto é: criar pontos de acesso à informação por autoria (fotógrafo), data, assunto, técnica e coleção. No primeiro caso, como se trata de instituição bem estruturada e com recursos, além dos mencionados pontos de acesso a informação está sistematizada em uma ficha no formato MARC. O segundo caso, com recursos adequados, também poderia ter o mesmo tratamento. 

Somente quem tiver uma perspectiva arquivística saberá que essas outras equivalências também param por aí e que o conhecimento detalhado e preciso de todas as informações mencionadas acima é insuficiente para a compreensão de tais registros como resultantes de atividades de um titular e preservados como provas desse mesmo titular. 

No primeiro caso, a ficha catalográfica da Library of Congress é incapaz de indicar os objetivos que levaram Arnold Genthe a fotografar aquela cena e tampouco os motivos que o fizeram querer guardar documento(s) resultante(s) de tal ato. Assumimos que sempre se tratou de uma tomada estética e que sua preservação relaciona-se à preservação de um objeto de arte. 

No segundo caso há, como conheço pessoalmente o fotógrafo pode-se imaginar que tais informações estão mais bem sistematizadas; ledo engano: apenas posso supor que Niraldo Nascimento produziu a imagem em uma atividade de lazer e a preservou (do ponto de vista arquivístico) como registro de um passeio a Marataízes, mas não posso afirmar isso com certeza e tampouco sei se é plausível entender que o documento original seja realmente arquivístico.

A diferença fundamental não está no conteúdo, no histórico e nem no tratamento dado ao documento original. O exemplo em questão traz ainda outra particularidade, que é a reciclagem de uma mesma informação, produzindo outro documento. A foto 2, nessa acepção, não deve ser entendida como uma foto da coleção/arquivo de Niraldo Nascimento, porém como parte da informação do próprio Digifotoweb, posto que ela é integrante de um texto publicado neste blog (e agora é integrante de dois textos). Essa perspectiva muda absolutamente tudo: não se trata mais da foto de Nascimento, o documento a ser organizado e descrito é o post. Arquivisticamente ele é parte do projeto Digifotoweb e está relacionado à função de promoção de esforços para consolidação de redes de pesquisa relacionadas aos acervos fotográficos. A autoria da informação imagética e os direitos quanto à imagem permanecem inalienáveis com  Niraldo Nascimento, mas o post, ainda que escrito também, pelo mesmo autor da fotografia, é produto do Digifotoweb. Ele é também, sob a ótica de quem o escreveu, ao mesmo tempo, produção intelectual e registros dessa mesma produção (pode até ser elencado no Lattes). 

Esse post atual, que traz a reprodução das fotos de Genthe e de Nascimento, mesmo sem ter os direitos autorais delas, deve ser entendido como resultado do projeto Digifotoweb, não sendo arquivisticamente adequado desmembrar partes de um documento (o post) em função dos elementos imagéticos constituintes.

Fica ainda repassada a dica do Prof. Murilo Bastos, que impulsionou essa reflexão: a Library of Congress mantém disponível a maior parte da coleção fotográfica de Arnold Genthe. São cerca de 16.000 imagens, de um total de 20.000, sendo que muitas delas podem ser baixadas gratuitamente: http://www.loc.gov/pictures/
collection/agc

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Livro sobre fotografias de salas de cinema tem versão eletrônica gratuíta

Está disponível versão eletrônica gratuita do livro "Memórias fotográficas: a história das salas de cinema de Vitória", de autoria do Arquivista e Historiador André Malverdes. A obra conta com 102 imagens dos cinemas de rua do Espírito Santo, nas quais se busca recuperar os detalhes das salas, inaugurações, suas fachadas, telas e momentos que marcaram os seus freqüentadores e proprietários. 

O objetivo do trabalho foi possibilitar um passeio, através das imagens, pelos cinemas que marcaram a cidade, os bairros e o interior no seu espaço físico e no cotidiano, como formas de lazer que fizeram a  então Cinelândia Capixaba. Na época a caminhada pelos “cinemas de calçada” era a grande diversão da população.

O trabalho é resultado do projeto de pesquisa "Cine Memória: A história das Salas de Cinema do Espírito Santo" realizado pelo Departamento de Arquivologia do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da UFES, patrocinado pela Lei Rubem Braga e pela Arcelor Mittal. 

Para conhecer mais essa publicação, veja post anterior neste blog e/ou solicite o livro diretamente para o autor através do e.mail malverdes@gmail.com com nome, instituição, estado e explicando o interesse pela obra.

Público na fila para a sessão de inauguração do Cine São Luiz, com o filme "Aviso aos
Navegantes", na rua 23 de maio, 100, Centro, Vitória, ES, com capacidade de 586 lugares.
De frente de terno José Haddad Filho e sua namorada Mitzi. 1951.
Acervo Família Rocha. - Projeto "Cine memória: a história das salas de cinema do Espírito Santo"

VOCÊ TEM MAIS ALGUMA INFORMAÇÃO SOBRE ESSA IMAGEM?

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Digifoto foi tema de palestra "en la U"


Em 17/03 o projeto Digifoto foi objeto dos encontros periódicos promovidos pelo Archivo Andrés Bello, da Universidad de Chile. O evento, previsto para ser um bate-papo com umas 25 pessoas superou as expectativas, lotando a belíssima sala de eventos e deixando, infelizmente, pessoas interessadas do lado de fora. Na discussão foram abordados alguns aspectos relacionados às especificidades dos documentos imagéticos e fotográficos, com foco em situações arquivísticas. Alguns exemplos relacionados à própria pesquisa do Digifoto e à situações concretas do Archivo Andrés Bello foram abordados. 

Um dos pontos importantes discutidos foi a questão da suposta "organização" arquivística de documentos fotográficos por conteúdo - procedimento não recomendado e sem sustentação teórica -  no momento em que abrimos uma caixa de papelão repleta de documentos fotográficos não identificados. Nela havia num retrato de estúdio de um casal em trajes nupciais, provavelmente do princípio do século XX. A audiência, ao ser indagada, foi unânime em indicar que a foto referia-se ao assunto "matrimônio". A segunda pergunta às mesmas pessoas foi relativa à própria atuação profissional; foram quase unânimes em se auto-identificarem como não-arquivistas. Evidenciou-se, então, que para identificar aquela foto como "matrimônio" não haveria necessidade de formação (ou prática) em Arquivologia, explicitando que a "inteligência arquivística" consiste, na realidade, em identificar e sistematizar as informações contextuais dos documentos fotográficos e não do conteúdo imagético. A dificuldade, no caso dos documentos fotográficos, está no fato de que a separação física dos acervos, dando precedência ao valor patrimonial dos objetos fotográficos (em detrimento dos documentos de arquivo) muitas vezes pode tornar a informação arquivística inatingível.