quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A representatividade dos acervos fotográficos na acadêmia brasileira


A tarefa de quantificar sistematicamente o que se vem produzindo cientificamente é algo complexo, sempre incompleto e passível de melhoras. Existem muitos sistemas, plataformas e bases de dados para esse tipo de atividade, nas mais diferentes esferas e áreas. Uma delas é a Base ABCDM (Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Documentação e Museologia), produzida e mantida pela Faculdade de Ciência da Informação da Universidade de Brasília (FCI/UnB), desde 2001, que contém referências bibliográficas de cerca de 10 mil registros de artigos de 35 revistas científicas brasileiras nas áreas de foco indicadas, cobrindo o período de 1963 a 2013. Inclui também os artigos de todas as edições do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Ciência da Informação (ENANCIB), de 1994 a 2013. O acesso pode ser feito na FCI/UnB e/ou pela solicitação de pedidos de busca diretamente para o editor da ABCDM, Prof. Dr. Jayme Leiro (jleiro@unb.br).

A busca na base 2014 (dados até 2013) nos campos “Título” e “Palavras-chave” pelo termo “foto$” gerou 103 referências, indicando que no Brasil, no âmbito científico, ligado à Ciência da Informação e áreas afins, a discussão sobre fotografia está presente em apenas cerca de 1% das publicações periódicas. A consulta dos termos combinados “foto$” AND “arquiv$” retornou com 23 artigos somente, sendo apenas 03 anteriores a 2004 (o que significa uma produção recente de menos de dois artigos por ano), destes 09, (ou seja, cerca 40% da produção contemplada na base de dados) foram produzidos a por pesquisadores do Grupo de Pesquisa Acervos Fotográficos (aceda aqui ao relatório gerado pela base no dia 18/set/2014, com destaque à produção do GPAF). A revista Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro não está na base e se estivesse elevaria a participação do GPAF no cenário proporcional, com os 04 artigos que o grupo publicou naquele periódico em 2013 (acesso aqui).

Independentemente do critério de quantificação, os dados nos mostram uma preocupante ausência da temática da fotografia na discussão especializada nacional, apontando, não obstante, para um papel relevante do GPAF nesse cenário, sobretudo no que tange à discussão relacionada aos arquivos.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Fotografias e o contexto

Por Rodrigo de Freitas Nogueira
arquivista formado pela UnB 


Quem não gosta de ver fotografias que tragam à memória fatos marcante da vida? Os álbuns pessoais estão cheios de simbolismos e representações, e não raramente, provocam emoções naqueles que se veem nas imagens, mas para outros indivíduos, alheios à realidade do fotografado, parecem simplesmente fotografias. Que diferenças podem ser identificadas na análise desses indivíduos?

A compreensão ou não do contexto. A resposta parece simples, mas carrega grande densidade. Os motivos que determinaram a ação de fotografar não estão, necessariamente, presentes nas imagens, dessa forma, o produtor do registro, ou seja, aquele que com a intenção de guardar o momento registrou a imagem ou terceirizou o serviço, conhece e sabe muito bem por que o fez. Já um indivíduo alheio ao contexto de produção pode indicar, em análise, uma finalidade completamente diferente como motivadora do registro.

Álbum de casamento - 2014 - (cc) Rodrigo de Freitas
Dessa forma, ao tratar a fotografia como documento com a capacidade de prova de fatos e guardá-la com essa intenção, esse documento passa a ser concebido como arquivístico. Sendo assim, o caráter meramente ilustrativo deve fica de lado e informações adicionais precisam fazer parte do documento imagético, os chamados metadados. Esses que se configuram como um conjunto de dados que compõe a informação do documento e representam o seu contexto de produção e uso. 

É praticamente impossível ao profissional da informação representar um fato ou acontecimento que motivou o registro fotográfico sem as informações que indiquem o contexto o qual estava inserido. Segundo o professor André Porto da Universidade de Brasília, sem o vínculo administrativo orgânico, o documento fotográfico perde a capacidade de exercer sua função de prova (LOPEZ, 2011).

Portanto, para que um indivíduo, alheio ao processo de produção e uso do documento fotográfico, consiga representar na mente o contexto que motivou seu registro, se aproximando da motivação do produtor, os metadados devem ser coletados corretamente. Mesmo se tratando de arquivos pessoais. Pois o maior risco é de que a fotografia perca as referencias do contexto original e seja tratada como outro documento integrado a outra realidade de registro completamente diferente.


Referência:
LOPEZ, André P. A.. Contextualización archivística de documentos fotográficos Archival contextualization of photographic documents. Disponível em: http://revistas.pucp.edu.pe/index.php/alexandria/article/view/213/207. Acesso: 20 ago 2014.