sexta-feira, 26 de abril de 2013

Lançamento de livro que está entre a criação artística e a iconografia e documentação

 A01 [cod.19.1.1.43] — A27 [s|cod.23]

Marquem na agenda: dia 30 de abril

No Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, às 16 horas, será lançado o mais recente livro de Rosângela Rennó, intitulado A01 [cod.19.1.1.43] — A27 [s|cod.23]. Trata-se de um livro-de-artista, impresso em offset, capa dura e 336 páginas em cor, edição de 500 exemplares, numerados. 

Por ocasião do lançamento será realizado um debate aberto ao público com a presença de Beatriz Kushnir, diretora do Arquivo Geral, Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, pesquisador da Divisão de Iconografia da Biblioteca Nacional e professor adjunto de fotografia da PUC-Rio e da artista visual Rosângela Rennó.

EM TEMPO: para quem não pôde ir, a mesa redonda do lançamento está disponível.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Documentos fotográficos do AGMV - II


O acervo fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória – parte 2
Figura 1: Antigo Prédio da Prefeitura Municipal de Vitória
Sem data, sem identificação de autoria
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória - 001797
A fotografia acima mostra o Prédio, na Rua Sete de Setembro, no Centro de Vitória, onde inicialmente funcionou a Prefeitura Municipal e conseqüentemente o Arquivo Geral do Município de Vitória, também conhecido informalmente por "Arquivo Público".  Ainda hoje esse Arquivo não possui uma sede própria, que permita abrigar seu rico acervo, constituído por textos, mapas, plantas, projetos, jornais, leis, decretos, resoluções, filmes, negativos de vidro e fotografias, produzidos e/ou recebidos pela administração pública a partir do século XIX.

Seu acervo fotográfico contém, atualmente, mais de 8000 fotografias, entre os quais há negativos em vidro. Abrange fotografias referentes aos anos de 1902 a 1993. As fotos após esse período se encontram na Secretaria de Cultura e ainda não foram encaminhadas para o Arquivo. Os primeiros registros apontam para a primeira metade do século XX (1902 a 1950), sendo do período de 1920 a 1950 cerca de um terço dessas fotografias. Esse acervo é “composto por aproximadamente 6.300 originais positivos de 18 x 24 cm, 1.700 originais 6 x 6 cm e 800 negativos de vidro,” além de aproximadamente 400 reproduções. (PERINI, 2005, p. 17). 

Infelizmente a organização desse acervo fotográfico pelo seu modo de constituição (doação sem registros de quem os doou em sua maioria, de como e/ou porque foram produzidas), não preconiza o que diz a teoria arquivística, pois, de acordo com Lopez (1999, p. 59) em relação ao arranjo arquivístico este “deve sempre procurar retratar as atividades reais das instituições e, na medida do possível, ser delas um espelho fiel para que haja uma contextualização da produção documental, conforme os moldes definidos pela teoria arquivística”.

Para a identificação das fotos pelo Arquivo Geral do Município de Vitória, o poder público municipal desenvolveu uma estratégia baseada na história oral. Para tal, foi criado o projeto Campanha de Identificação do Acervo Fotográfico, realizado no período de 1995-1997, com os moradores mais antigos da capital, que por meio de relatos orais ajudaram na identificação de parte do acervo. Esse processo de identificação corresponde ao método filológico, inicialmente utilizado pelas pesquisas em História da Arte para atribuição de elementos de identificação das obras, visando sua organização e tabulação inicial. Assim, fotos foram identificadas por voluntários, sendo que a cada três “identificações” iguais por foto, a descrição era aceita pelo grupo que desenvolvia o trabalho. Não se pode dizer que esse método não determine erros de classificação, porém, foi um modo de organizar inicialmente o material que vem sendo estudado e redefinido quando necessário.

Dentro dessa política do Arquivo Geral do Município de Vitória,  de taxonomia das imagens, ainda hoje, o arquivo conta com pessoas como o Sr. José Tatagiba que auxiliam na identificação das fotografias. Essa solução encontrada pela instituição é um paliativo, pois de acordo com Lopez (1999, p. 63):
[...] contextualizar os documentos arquivísticos significa que cada um deverá ser agrupado somente com aqueles que foram originados pela mesma atividade, podendo constituir séries documentais tipológicas se cada espécie documental específica for inserida nas respectivas funções geradoras.

Mas, entende-se que na fase atual do acervo fotográfico, essa atitude é um esforço coletivo para que a informação não se perca, embora não tenha fundamentos técnicos e científicos que assegurem a confiabilidade da informação. Uma taxonomia e classificação sistêmica desse acervo ainda exigirão muitos esforços. 

São organizadas por ordem numérica de chegada ao arquivo, e há um índice e sete ‘catálogos’, nos quais constam além do número das fotografias, as informações acerca da fotografia, tais como data, autoria, identificação do local e/ou personalidade(s). Porém, nem todas as fotografias possuem número de arquivo, algumas informações são incorretas e os registros feitos nos catálogos encontram-se a lápis. 

De modo geral, esse acervo é composto por vários conjuntos de fotografias: há imagens referentes a diversos períodos administrativos, fotos relativas a obras públicas e serviços urbanos, registros feitos de vários ângulos das paisagens da capital; fotografias de vários monumentos e casarios, de diversas personalidades, de eventos diversos, tais como solenidades, carnaval, desfiles cívicos e manifestações populares além de algumas fotos de outros Municípios, como por exemplo, Vila Velha e Cariacica, além dos Estados do Rio de Janeiro e São Paulo.


Referências: 
Antigo Prédio da Prefeitura Municipal de Vitória venida Beira Mar antes do aterroVitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm; AGMV, 0012797
LOPEZ, André Porto Ancona. Tipologia documental de partidos e associações políticas brasileiras. São Paulo: História Social USP/Loyola, 1999. Disponível em:  aqui. Acesso em: 25 jul. 2011.
PERINI, Giselli Maria. Acervo Fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória: “Arquivo Morto” ou Memória Viva? 2005. 56 f. Monografia (Graduação em Arquivologia). UFES, Vitória, 2005.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Documentos fotográficos do AGMV - I

O acervo fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória – parte 1

O acervo fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória é uma coleção composta por imagens produzidas pela administração e imagens doadas por moradores da cidade, registradas numericamente por ordem de chegada. Algumas indexadas e identificadas, outras de artistas ou fotógrafos anônimos, sem registro do fato e/ou acontecimento que a originou. Porém, de acordo com Lopez (1999, p. 68, 69), essa forma de organização não é a ideal, pois o arranjo deve
[...] garantir a devida contextualização dos documentos arquivísticos, resgatando as funções e atividades geradoras dos documentos e respeitando o princípio da proveniência. Para tanto, usam-se duas modalidades de arranjo: o estrutural e o funcional. Algumas instituições chegam a propor outros tipos de arranjo, fundados em assuntos, localização geográfica, cronologia, etc. A meu ver essas soluções “alternativas” desviam-se da definição conceitual de arquivo ao descartar as funções originais dos documentos como critério basal da organização arquivística e não garantem uma contextualização documental correta.

Infelizmente, os acervos fotográficos, estando ou não em Instituições Arquivísticas, são vistos como coleções, ou seja, ficam descontextualizados em relação à função que o originou, e muitas vezes, perdem o seu significado. Lopez (1999, p. 39), diz que “ao analisar o desenvolvimento da arquivística, nota-se, já em meados do século XIX, um embrião daquilo que a historiografia chamaria, quase um século depois, de história serial”. Esse autor reporta-se a Natalis de Wailly, que em 1841, “criou" o conceito de respect des fonds, hoje conhecido como princípio da proveniência ou respeito aos fundos, que propunha, na realidade, o trabalho com longas séries documentais”, o que reforça a necessidade do documento arquivístico estar inserido no contexto da produção e da função que o gerou, ou seja, receber um adequado tratamento arquivístico.

A partir do conceito de coleção de Camargo e Bellotto no  Dicionário de terminologia arquivística (1996, p. 17), como “reunião artificial de documentos que, não mantendo relação orgânica entre si, apresentam alguma característica comum”, podemos pensar: o que permeia as fotografias que compõem o acervo do Arquivo Geral do Município de Vitória? 

Fruto da imagem mental que se constrói no processo de gênese da identidade da cidade, a ser percebido por um olhar sensível, Giselli Maria Perini (2005, p. 22) afirma que as inúmeras informações contidas nos conjuntos fotográficos do acervo do AGMV são comprovadas pela historiografia do Espírito Santo. Muitas dessas fotografias foram feitas por fotógrafos contratados pelos administradores públicos, para registrar fatos administrativos, tais como aterros, construções de pontes, praças, pavimentação de ruas, etc., nasceram, pois, de uma necessidade administrativa, havendo inclusive documentos (Figuras 1 e 2), que comprovam a compra de material para o Serviço Fotográfico.

Figura 1: Crédito para compra de material para o serviço Fotográfico.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória

Figura 2: Designação de despesa para pagamento de fotógrafo e compra de material fotográfico.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória.
E o valor de testemunho dessas fotografias as torna de guarda permanente, pois contam a história da cidade registrada em sais de prata.

Referências:
DICIONÁRIO de terminologia arquivística. São Paulo: AAB-SP; Secretaria de Estado da Cultura, 1996 
LOPEZ, André Porto Ancona. Tipologia documental de partidos e associações políticas brasileiras. São Paulo: História Social USP/Loyola, 1999. Disponível em:  aqui. Acesso em: 25 jul. 2011.
PERINI, Giselli Maria. Acervo Fotográfico do Arquivo Geral do Município de Vitória: “Arquivo Morto” ou Memória Viva? 2005. 56 f. Monografia (Graduação em Arquivologia). UFES, Vitória, 2005.
VITÓRIA (ES). Projeto n° 35 de Decreto-Lei. Abre crédito especial. Vitória, s.d. Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Paisagem e memórias


A Ilha de Vitória em fotografias do AGMV


Carvalho (1999) afirma que as cidades e suas edificações sempre foram um tema constante para os fotógrafos. Em relação ao uso feito por essas fotografias, ela afirma que:
[...] pode ser uma forma comprobatória da construção de monumentos arquitetônicos, construídos por governantes ou personalidades beneméritas do patrimônio público; ser utilizada para inventariar bens e manifestações culturais a fim de ‘preservá-los’ e difundi-los nacional e internacionalmente; ser uma ‘apropriação de locais nobres da cidade por uma parcela significativa da população, despossuída, no seu cotidiano, deste contato; para se construir, através da divulgação maciça de imagens, os símbolos a serem perpetuados; enfim, para se eternizar a cidade, através dos ‘cartões-postais’ consagrados, para as populações futuras. (CARVALHO, 1999, p. 63).

Por serem objetos de estudo de profissionais de diversos campos do saber as cidades são “analisadas de forma peculiar por cada um deles, [...]” e o significado atribuído “à cidade é sempre em consonância com sua inserção e entendimento do viver em cidade.” (CARVALHO, 1999, p. 64). A Fotografia 1 é do início do século XX e mostra o Centro da capital capixaba.

Fotografia 1:  Vista do Centro de Vitoria 02.
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria
Obs: de acordo com Willis Faria ("Histórico da Baía de Vitória") é  de 1915.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória.
As imagens fotográficas do Arquivo Geral do Município de Vitória, ao longo do tempo, foram constituindo-se como um acervo imagético no qual estão registradas importantes transformações ocorridas na capital capixaba e mostram as intervenções na paisagem da cidade. 

Klug (2009, p. 18-19) afirma que o relevo, o mar e as áreas de mangue tiveram uma grande importância na configuração da paisagem urbana e desenvolvimento da cidade de Vitória, funcionando ora como limites para o crescimento – o que circunscreveu uma cidade colonial que não mais se continha em si. Daí a necessidade de intervenções para a expansão da sua mancha urbana e conseqüentes alterações na sua paisagem, tomando do mar o que poderiam ser esses novos logradouros.

Embora não tenham a data definida, as Fotografias 2, 3 e 4 ilustram bem a intervenção feita na paisagem natural da Capital para a construção da Avenida Beira Mar. Não só áreas alagadas de mangue são tomadas, mas também áreas de mar.
Fotografia 2: Avenida Beira Mar antes do aterro.
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória

Fotografia 3: Vista do Penedo; Avenida Beira Mar durante o Aterro; Curva do 
Saldanha
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória

Fotografia 4 Avenida Beira Mar após o aterro. Curva do Saldanha, ao fundo, Porto 
de Vitória.
Sem número de arquivo, sem data, sem identificação de autoria.
Fonte: Arquivo Geral do Município de Vitória
Ainda de acordo com Klug (2009, p. 14), a adição da paisagem construída à paisagem natural está relacionada com a identidade local, com a memória coletiva e a imagem da cidade, pois o homem cria suas referências, constrói a memória coletiva a partir da percepção dos elementos naturais e construídos da paisagem da cidade, com suas particularidades e especificidades.


Referências:
Avenida Beira Mar antes do aterro, Vitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.
Avenida Beira Mar após o aterro. Curva do Saldanha, ao fundo, Porto de Vitória, Vitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.
CARVALHO, Telma Campanha de. Fotografia e cidade:São Paulo na década de 1930. Dissertação de Mestrado. São Paulo: Programa de Estudos Pós-Graduados em História Social, PUC-SP, 1999.
KLUG, Letícia Beccalli. Vitória: sítio físico e paisagem. Vitória: EDUFES, 2009.
Vista do Centro de Vitória 02, Vitória, ES, 1915? 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.
Vista do Penedo; Avenida Beira Mar durante o Aterro; Curva do Saldanha, Vitória, ES, s.d. 1 fotografia, p&b, 18 x 24 cm.