quarta-feira, 28 de junho de 2017

A importância do armazenamento na produção do fotógrafo digital e a polêmica do Amazon Drive Ilimitado


A tecnologia e a fotografia avançam rapidamente em desenvolvimento. Por isso, é quase impossível acompanhá-las. Uma das preocupações dos fotógrafos da era digital é o armazenamento da sua produção fotográfica. Para tanto, existem opções como: discos externos, HD’s de todos os tipos, memórias flash, espaços em nuvem (armazenamento pela internet) e várias opções.

A palavra armazenamento causa calafrios em qualquer esfera da fotografia, analógica e digital, porque é algo que na prática do mercado brasileiro não é tratada como uma prioridade. A cultura do fotógrafo no Brasil é não se importar com isso. O armazenamento físico, no caso em HD, é alto e sempre defasado enquanto ao que se produz em fotografia. Mesmo que o fotógrafo faça a separação do que é útil e do que não é para ser guardado, a falta de espaço é um problema constante em seu computador. Outra coisa, a média de preços dos discos rígidos deixou de abaixar nos últimos anos, HD externo de 1 tera byte (TB) em média no mercado paralelo fica entre R$ 199,00 a R$ 259,00. Para os mais preocupados, como eu, o armazenamento via internet, ou mais conhecido como “armazenamento em nuvem”, oferecidos pelos mais famosos: Google Drive, Drop Box, OneDrive e o polêmico Amazon Drive; inundaram o mercado com preços e espaços variados de armazenamento.

Lembremos aqui Pierre Levy em sua contribuição sobre o virtual. Para ele, a virtualização impacta as modalidades do estar junto, o nós aqui, de alguma forma, é comprometido. Leia-se no nós as comunidades e empresas virtuais, democracia virtual... Ele até se pergunta em seu livro se o Baudrillard, um filósofo que tinha visão antagônica, bastante negativa, se deveríamos temer o desaparecimento proposto por esse último autor? Ou uma explosão do espaço-tempo, segundo falava Paul Virilio?

Fato é que concordamos com Levy ao relatar que o virtual “é a essência, a ponta fina em curso”, e ele inclui nesse conceito, o processo de transformação de um modo de ser em outro. Do latim virtus, seu sentido vem da força, potência. Como continua o filósofo, “o virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto à concretização efetiva ou formal”. E cita um exemplo interessante: “a árvore está virtualmente presente na semente”. Contrário ao possível, estatístico e constituído, se opõe ao atual.

Enquanto uma organização tradicional concentra em um prédio físico seus empregados, seus arquivos concentram é redistribuído em “coordenadas espaço-temporais” distintas, “fluidifica essas distinções instituídas” e simbologicamente é caracterizada por Levy como um êxodo não presente, se desterritorializando. Essa breve caracterização é relevante para entender de que espaço estamos falando? Ela não ocupa a nossa casa, mas está lá.

Na publicação “Del artefacto mágico al pixel, no artigo sobre o nascimento da fotografia digital na era da conectividade e do acesso”, Francisco José Valentín Ruiz e Mariana López Hurtad, traçam uma breve cronologia sobre a tecnologia e a gestão de imagens. O panorama descrito no artigo compreende 20 anos de avanços tecnológicos. A difusão da comunicação, esquemas de metadados utilizados, todo esse arcabouço, na minha visão pode causar um colapso, coisa que os autores do artigo também defendem. Nessa nuvem, pode acontecer uma tempestade, assim como estava descrito no artigo. Vejamos o primeiro raio.

Recentemente, o gigante do varejo mundial Amazon voltou atrás em seu serviço de armazenamento ilimitado, que na época deixou o mercado preocupado, pois os valores eram abaixo da média por um “serviço ilimitado”. Voltar atrás deixou como prova que o ilimitado, infinito “só existe na esfera espiritual-virtual”, fotógrafos que possuíam 10TB de armazenamento já na nuvem Amazon passariam a pagar o valor de US$600 (dólares) anuais para manter seus arquivos. Nesse caso o barato saiu caro, pois quem quiser desistir desse plano terá apenas 180 dias para retirar seus arquivos, já que a Amazon irá apagar eles de seus servidores dos usuários desistentes. Vários fotógrafos nas redes sociais reclamaram, e já procuram alternativas para esse problema. O plano no Amazon ficou assim: no valor de US$ 12 para armazenar 100GB ao ano ou US$ 60 ao ano para 1TB, caso você precise de mais espaço o TB adicional fica em US$ 60 com um limite de 30TB ao ano.

O conceito de virtual como essa presença em êxodo, essa ocupação diferenciada mescla com um usuário que realmente gera o consumo, assim como a grande quantidade de produção. É importante ressaltar que essa tecnologia é uma importante evolução, e assim o artigo descreve: “La evolución que hemos mostrado nos lleva directamente al modelo de la nube o cloud computing, en el que el almacenamiento de contenidos y su gestión se realiza directamente en la Web sin la utilización de software local. Un modelo de estas características surge por necesidades que se han ido configurando a lo largo de la historia y que vienen derivadas de exigencias de los centros de tratamiento de las imágenes (agencias de noticias, periódicos), pero también de centros de documentación y bibliotecas y, como no por las tendencias impuestas por los usuarios”.

O volume de produção é um problema, pois é necessário espaço para manter esse material, o local apropriado para isso com condições mínimas indicadas pelos fabricantes desses dispositivos. “Pero la cantidad de contenido que estamos generando en digital es enorme. Y hasta tal punto es así que se afirma que en 2002 comenzó «oficialmente» la era digital, ya que en ese año la capacidad de almacenamiento digital superó a la analógica” (Marquina, 2013)





Parte prática, algumas ideias que podem lhe ajudar
Você é importante para sua própria foto. A sua história como profissional é contada com seu material. Direta ou indiretamente a produção faz parte de uma linguagem e nessa linguagem é feita uma leitura, a sua foto possui um papel importante para o mundo. Já dizia Edward Steichen: “A função e missão da fotografia é explicar o homem ao homem e o homem a si mesmo”.

Avaliação constante.
Um exemplo, se guardamos toda produção ao longo de um tempo, o que pode ser realmente comercializado num futuro próximo? Caso o fotógrafo seja fotojornalista, fotógrafo de casamento, eventos corporativos, de qualquer outro campo, o que o motiva guardar essa produção, já que o trabalho entregue já foi executado. Sendo assim nada será reaproveitado depois desse tipo de trabalho. Que utilidade esses arquivos terão se o casamento, a festa infantil, o trabalho corporativo já foi executado, inclusive o jornal já utilizou a foto. De nada serve guardar. Porém, você é quem fornece a importância. Uma das sugestões é o uso em banco de imagem na web (foto no HD não vende). Outra coisa, pesquisadores no futuro podem usar seu material como base de dados, importante fonte de pesquisa para as futuras gerações.

Catalogar e classificar
Catalogar e classificar qualquer produção fotográfica que seja demanda tempo. Alguns fotógrafos consideram essa atividade enfadonha e chata para manter esses arquivos organizados. Muitos dispositivos diferentes, tecnologias diferentes (SSD, USB, SCSI, IDE, SATA, CD, DVD, Zip Drive e disquetes), caixas para guardar, locais específicos para acondicionar, tudo é dispendioso e necessário tempo e gestão para manter organizado. E mais, classificar o que existe em cada um dos dispositivos é cansativo e no final não é rentável.

O que é recomendável?
No caso de alguns HDs é recomendável manter em local seco, longe de umidade e principalmente estática. Nada de deixar seu celular em cima do HD externo, pode ser que na próxima vez que você for usar seus dados já não estarão mais no dispositivo. No site da Seagate, o fabricante afirma que em temperaturas acima de 60º célsius pode danificar o seu HD. Um exemplo é deixar o dispositivo dentro do carro, em pleno meio dia no sol, vai danificar seu HD. A duração máxima de um disco rígido, segundo o fabricante é de 5 anos, por isso faça backup constante de seus arquivos. Os CD’s e DVD’s também ocupam espaço e não são confiáveis pois a durabilidade é bem menor que 5 anos de acordo com as marcas. Esses são os mais conhecidos, outros tipos de mídia são mais sensíveis e ainda demandam outros cuidados. O acondicionamento disso tudo é trabalhoso na vida do fotógrafo e custa muito caro para manter.

Vale a pena pensar no futuro em relação a essa organização toda? Tempo, dinheiro e economia, é comercialmente viável manter essa estrutura? Todos os motivos listados acima são preocupantes, pois é dispendioso para o fotógrafo. Porém, na minha opinião, foto boa é a foto impressa. A fotografia “analógica” sempre terá seu espaço e alguns consideram como “fotografia de verdade”. O resultado de toda essa produção fotográfica, analógica ou digital, para você que segue como fotógrafo profissional deve ser uma das prioridades, pois é um fator determinante em toda produção fotográfica e crescimento como profissional.


Referências

HARAZIM, Dorrit. O instante certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

FACULTAD DE CIENCIAS DE LA DOCUMENTACIÓN. Del artefacto mágico al pixel. Estudios de Fotografía. Madrid: Facultad de Ciencias de la Documentación de la UCM, 2014.


LEVY, Pierre. O que o virtual? São Paulo: Editora 34, 1996.

terça-feira, 27 de junho de 2017

A intenção como condição de inserção da fotografia em um arquivo

Dentro do universo e dos desafios das discussões  sobre a presença da fotografia nos arquivos, entre os debates sobre sua catalogação, seu tratamento no arquivo, a necessidade da inserção do contexto da gênese da imagem, existe uma questão me causa inquietação e dúvidas : a intenção do fotógrafo.

Vários autores tratam o assunto considerando fundamental se conhecer a intenção, o por quê de ter sido feita uma ou outra fotografia, para dar continuidade ao processo de inserção como documento imagético em um arquivo.

Para tudo que tenho lido sobre o tema sempre procuro dialogar com as reflexões sobre minha área de interesse que são os assim chamados acervos ou arquivos, apesar da imprecisão acadêmica do termo, dos fotógrafos autorais e dos fotógrafos amadores.

Dentro de uma instituição, com objetivos e campo de atuação definidos, a produção fotográfica vem lastreada por objetivos, pautas e portanto trazem em sua gêneses a intenção na produção do material fotográfico institucional. Abaixo um exemplo de fotografia cuja intenção é a cobertura fotojornalística das sessões de votação da Câmara Legislativa do Distrito Federal-CLDF.

Deputado Jorge Cauhy(centro) nomeado Presidente Honorário da Câmara Legislativa do Distrito Federal - CLDF, 17 de dezembro de 2004.  Presidente eleito para o biênio 2005/2006, Deputado Fábio Barcelos(em pé à esquerda), aplaude Dep.  Jorge Cauhy. Abaixo sentado, deputado Chico Leite.                      Foto: Rinaldo Morelli, local: Sede da Câmara Legislativa do Distrito Federal.

Entretanto, o modo de produção dos fotógrafos autorais, que trilham o caminho de uma fotografia assinada em seu estilo, divulgar seu nome como um criador original, não estão necessariamente pensando na capacidade de informação.

"No momento da criação da imagem, o fotografo autoral exprime o que lhe interessa o que ele acha que é belo. Ele não está interessado em informa e sim em formar. O fotografo autoral sabe que as pessoas que verão a sua imagem não lhe interessam diretamente, pois ele está preocupado com a  criação. Exatamente o oposto, os fotógrafos funcionais, que fazem a fotografia de informação publicada nos jornais e revistas pensam, antes de tudo, em seus leitores, seus destinatários, pois para fotógrafos de imprensa isso é uma obrigação profissional." 
(fonte: https://focusfoto.com.br/compreenda-a-fotografia-autoral/).

foto: Rinaldo Morelli
                                                                                              
Há no fazer fotográfico um certo devaneio, encantamento pelo que lhe parece belo ou inquietante, um processo de criação que muitas vezes só fará sentido em uma edição futura de um conjunto de imagens com coerência interna quando se juntar estas fotografias realizadas, produzidas em meio a outras produções, de forma despretensiosa, em um conjunto que aí sim terá uma proposta e talvez uma intenção explícita de um discurso construído a posteriori. Aqui sim a intenção se faz presente, de forma mais contundente do que no ato de fotografar. Abaixo tempos o exemplo de uma fotografia que somente tomou sentido após processo de edição de um universo de fotografias que dialogam e constituem uma proposta de conjunto.

foto:Rinaldo Morelli, da série Toda Forma. Nova York, 2004.

Isto fica mais claro e evidente, que não há uma intenção a priori no ato de fotografar, quando tratamos de fotógrafos amadores. Há no fazer de quem anda à deriva pelo mundo, um andarilho caçador de imagens, aprisionando instantes, colecionado anotações imagéticas sobre seu mundo, um auto desafio de conseguir traduzir o que vê para um fotografia. Teremos aqui uma intenção? É apenas a intenção de caçar e colecionar imagens.

foto:Rinaldo Morelli, Fortaleza-CE, 2013.

Como traduzir na descrição do contexto de produção de uma fotografia um instinto que move o fotógrafo? Uma vontade incontrolável e perturbadora que apenas pode ser sanada ao se fotografar aquela cena ou personagem que nos inquieta?

Pesquisa estética, Pérolas do caminho, Desafios do olhar, Quero ver como é que fica, Faço depois penso...etc.

Acima algumas sugestões de intenções. Mas eu mesmo, inquieto que sou, me pergunto sobre o quão imprescindível é a intenção da fotografia/fotógrafo para inserirmos uma fotografia em um arquivo, e/ou se não teria uma definição melhor para traduzir e contextualizar a intenção de um fotógrafo que colhe imagens de maneira despretensiosa e aleatória.