A percepção das imagens sob a perspectiva nos leva a crer em uma visão da realidade da qual não é verdadeira. No entanto, essa visão mais nos parece ser uma das formas nas quais fomos educados para interpretar o que vemos numa fotografia em perspectiva. As vezes fazemos isso inconcientemente por achar que o que está sendo representado é verdadeiro – mera ilusão – a perspectiva representa somente um dado da realidade: a maneira pela qual as linhas e os volumes se apresentam para o espectador. Ela é, portanto, pura aparência, mera ilusão, que resulta na intenção consciente de enganar por parte de quem a desenha, pinta, esculpe ou planeja arquitetonicamente. (NEIVA, 1994, P. 29).
Fonte: CEDOC-UNB |
Vejamos a segunda fotografia, é outro exemplo de como a lente registra não é o que nosso olhar percebe, mas o que nossa mente interpreta em relação ao ambiente. Vejam as janelas... Assim, fica nítido que “perspectiva não representa a visão, mas é uma representação delas. Vemos da forma que não representamos, pois o olhar percebe de modo ligeiramente esférico, enquanto a perspectiva é linear. (NEIVA, 1994, p. 33).
Assim, creio que temos algumas indagações e esclarecimentos, vejamos: Por que, então somos capazes de perceber uma pintura em perspectiva ou mesmo uma fotografia? Certamente porque fomos treinados para isso. “As pinturas em perspectiva, assim como quaisquer outras, têm que ser lidas; e a habilidade de leitura deve ser adquirida” (GOODMAN, apud NEIVA, 1994, p.33). O que ocorre é que nem sempre o espectador está em condições de fazer tal leitura, pois como já dissemos em outras postagem, será preciso que haja uma bagagem cultural e técnica na leitura e interpretação de uma imagem para os registros imagéticos.
Fonte: CEDOC-UNB |
Referência Bibliográfica:
NEIVA, Eduado Jr. A IMAGEM. 2 ed. São Paulo: Ática, 1994
Ver é uma experiência, ou seja, aprendemos a distinguir as coisas do mundo na nossa relação com o contexto, com o próprio mundo. Bagres de caverna , apesar de possuírem olhos, ou algo próximo a isso, são cegos. No entanto, como os bagres em geral, desenvolveram "bigodes" sensíveis. Todos sabem que um esquimó vê "tons de branco", assim como quem vive nas florestas distingue "n" tons de verde. Sobrevivência é a palavra subjacente a isso.Vou contar duas historinhas.
ResponderExcluirCerta vez, o pai de um colega que tinha fazenda no interior de São Paulo levou para a capital (São Paulo)um trabalhador rural. Diz a lenda que, ao dirigir pela avenida 9 de Julho, os dois tiveram que passar pelo túnel lá existente. O trabalhador rural danou a gritar implorando para que o motorista (o pai do meu colega) parasse imediatamente ou seriam engolidos pela terra.
Outra historinha. Essa aconteceu comigo. Quando morava em São Paulo capital, um amigo foi me visitar e levou junto um garoto de uns 10 anos que ele estava adotando. O garoto era do Vale do Jequitinhonha, em Minas, talvez a região mais atrasada dos estado, tendo vivido sempre na zona rural. No bairro em que eu morava, havia inúmeros edifícios. Olhando pela janela de um dos quartos do meu apto e mirando um edifício vizinho postado a uma distância razoável, avistou uma silhueta humana em uma das janelas do tal edifício.E disse: Meu Deus, por que aquela pessoa é tão pequena!!!
Conto esses "causos" apenas para afirmar que também devemos aprender a ler o mundo "real". Somos seres biológicos (adaptação) e culturais (signos). Portanto, se a fotografia tem algum traço da "realidade" (socialmente construída), certamente seremos "enganados" constantemente em nossa interação com elas. Ilusões estão por toda parte, não só nas imagens fixas, mas também naquelas que habitam nossa imaginação e que são parte dos nossos pensamentos.
Infiro, a partir do comentário do Paulo, que a necessidade de entender a percepção visual como um fenômeno não transcendental impõe, nos arquivos, que limites à descrição de conteúdos das imagens como critérios primários para a organização de documentos imagéticos. Como complemento à classificação pautada na organicidade arquivística a descrição de conteúdos pode ser um poderoso instrumento auxiliar à busca de itens específicos. As "crônicas" narradas pelo Paulo, no entanto, alertam sobre a diversidade perceptiva de indivíduos com experiências visuais distintas; talvez a ampliação da descrição de conteúdos pela folksonomia possa representar um interessante incremento...
ResponderExcluirO comentário do Paulo nos chama para a questão das possibilidades interpretativas ou de leitura do significado das imagens. Penso que Barthes poderia também ser considerado como contribuição nas discussões que vamos construindo sobre esse assunto. Quando trabalha a ideia da mensagem "denotativa" e "conotativa", no que chama de "artes imitativas", este autor refere-se à necessidade de considerarmos duas questões: uma certa cultura da sociedade que recebe a mensagem e o modo como a sociedade dá a ler o que pensa dela. Não tenho dúvidas que a folksonomia pode cumprir esse papel indicado pelo André. Não representa uma possibilidade, mas constitui-se num recurso concreto. Aplicada às fotografias, a etnoclassificação é capaz de contribuir na construção de evidências que possam responder "sobre a intenção, finalidade e o que determinada imagem quer comunicar". Mais do que isso, fica aqui uma provocação: para além da sua aplicabilidade nos sistemas de organização da informação, a folksonomia, não poderia também constituir-se num recurso a ser usado no próprio processo de organização de documentos imagéticos de arquivo?
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