terça-feira, 8 de março de 2011

Quando a foto é documento


Na última reunião aberto do GPAF (veja aqui) Pedro Davi, apresentou exemplos bem interessantes relativos a problemas oriundos da má identificação do contexto e finalidade de produção de fotografias. Nos exemplos por ele abordados algumas fotos referentes a solenidades estariam, equivocadamente, de acordo com a tabela do Conarq, sendo eliminadas após 1 ano. Ele conseguiu mostrar que algumas das fotos referiam-se à criação de setores administrativos (no caso a inauguração da Biblioteca do TCDF), que, pela mesma tabela, devem ter guarda permanente.

O exemplo, provocou, surpreendente polêmica, em torno da capacidade probatória do documento fotográfico. Alguns dos debatedores do público indicavam não serem capazes de ver em fotos administrativas nada além de uma atividade ilustrativa, não justificando a guarda das mesmas, salvo por motivos históricos. Nessa linha de argumentação estaria o mencionado registro da inauguração de biblioteca. Do outro lado do debate, muitos exemplos foram mencionados, porém de modo hipotético. A imagem acima, produzida por motivos totalmente administrativos, já ganhou outra dimensão após o sindicalista ter se tornado uma das figuras públicas da política brasileira mais importantes do começo do Séc XXI, tendo suas qualidades históricas superado o uso administrativo.

Em uma tentativa de análise mais acurada da imagem abaixo, algumas informações ausentes se farão necessárias para que seja possível compreender a dimensão administrativa e probatória do documento fotográfico original. Sem a identificação de dados de contexto a classificação do documento será problemática e, certamente equivocada. O inúmeros softwares e aplicativos disponíveis na era da informação não são capazes de dar conta desse desafio apenas pela análise do conteúdo informativo primário da imagem.


A classificação por conteúdo identificaria uma área não urbana, provavelmente pertencente ao bioma Cerrado, com indícios de interferência humana, responsável pela área desmatada para, aparente, via de circulação. Supondo que ainda fosse possível, por meio de busca em programas de geoprocessamento, identificar o local, o verdadeiro motivo da produção do documento original (que é informação fundamental para a classificação arquivística) continuaria indeterminada. Muito arquivos brasileiros, infelizmente e erroneamente, promovem a separação dos documentos fotográficos do restante do acervo, sem a realização de referências cruzadas, guiados por duas ilusões. A primeira de que, dada a fragilidade do suporte, é necessário separar, o quanto antes, os documentos em suportes emulsionados dos não emulsionados. A outra é que, posteriormente, com um amplo sistema automatizado de indexação, os vínculos serão restabelecidos.

O documento fotográfico, cuja imagem aérea está reproduzida acima, é um documento administrativo fundamental em um processo que poderá levar a condenação de uma figura pública por crime ambiental. Como tais informações não podem ser encontradas no conteúdo da imagem elas jamais poderão fazer parte de um futuro sistema informatizado se os documentos imagéticos forem separados dos documentos textuais que, além de informar as finalidades da imagem, trazem os dados contextuais necessários para a classificação arquivística. O mais curioso nesse exemplo não é o que a imagem mostra, porém o que ela não mostra: supostas pilhas de madeira ilegal que, de acordo com o investigado, já estavam na propriedade à ocasião de sua aquisição:


Somente o contexto de produção e a organicidade arquivística são capazes de dotar o documento das informações necessárias para que ele não se converta em mais uma ilustração sobre a riqueza natural brasileira, para que ele seja  prova em uma transação administrativa relacionada ao combate à devastação de tal riqueza.

Acesse aqui reportagem sobre o episódio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente & Argumente