terça-feira, 10 de setembro de 2019

Foto da genesis da informação


Heredia Herrera (1995), A. A fotografia e os arquivos

Parágrafos do artigo de Heredia Herrera, A. A fotografia e os arquivos Revista Photo & Documento, (2016).


Parágrafo 1
Ao falarmos de arquivos, se recorrermos, para defini-los, ao uso de um adjetivo alusivo à informação (arquivos econômicos, arquivos científicos), ou aos suportes que armazenam (arquivos óticos, arquivos fotográficos), estaremos defendendo e apoiando uma certa indefinição que, há tempos, nos ameaça. É preciso que fique bem claro que não rejeitamos a importância dos documentos portadores da aludida informação, ou das modernas possibilidades de registro e armazenamento, disponibilizadas pelas novas tecnologias. O que nos importa, como arquivistas, é conhecer tais documentos e tais formatos de armazenamento para estabelecer, exatamente, suas similaridades e diferenças em relação aos documentos de arquivo — no sentido mais rigoroso do termo — e a necessidade, ou conveniência, de optar por essa via de conservação ou armazenamento, para marcar claramente sua relação com os arquivos, cuja identidade primeira provém do vínculo institucional, não da qualidade de sua informação e nem dos suportes que a contém. Assim, sem evitar nossa responsabilidade em relação a tais documentos, devemos criar os meios para sua recuperação e preservação, e escolher a metodologia que permita seu aproveitamento máximo. (Heredia Herrera, A. A fotografia e os arquivos Revista Photo & Documento, 2016, 2).


Parágrafo 2 
“Ainda que se tenha dito que a “fotografia é um certificado de presença” (Barthes, 1990, p. 151), diante dela o arquivista sente nascer a suspeita quanto à veracidade; o jurista nega sua capacidade de prova; para o curador do museu falta à fotografia o status cultural e artístico; o historiador somente concedeu a ela um papel decorativo em suas pesquisas; e os especialistas em diplomática sequer a consideraram. Tudo isso, a despeito daqueles que acreditam que não existe fotografia que não seja um documento magnífico, e que a fotografia deixou de ser mera ilustração para ser fonte decisiva para a história. ” (Heredia Herrera, A. A fotografia e os arquivos Revista Photo & Documento, 2016, 2).

Anexo ao parágrafo 2;
Toda fotografia es un certificado de presencia. Este certificado es el nuevo gen que su invenci6n ha introducido en la familia de las imageries. Las primeras fotos contempladas por un hombre (Niepce ante La mesa puesta, por ejemplo) debieron darle la impresión de parecerse como dos gotas de agua a las pinturas (siempre la camera obscura); [p151].
O autor Roland Barthes estabelece uma correlação entre os processos ópticos de reprodução da imagem para nos mostrar que sem a intervenção pessoal, subjetiva, do observador — que pode ver nela muito mais do que o registro realista ou a mensagem codificada —, a fotografia ficaria limitada ao registro documental. A câmara clara não é, portanto, um tratado sobre a fotografia enquanto arte nem uma história sobre o tema. Absolutamente original, Barthes se lança à tarefa de decifrar o objeto artístico, a “obra” entendida como mecanismo produtor de sentido.

Parágrafo 3.
Resumindo, apontamos o seguinte: as fotografias, não sendo propriamente documentos de arquivo, são, sim, documentos cuja informação é complementar à dos documentos textuais e, como tais, requerem atenção, visando seu tratamento e processamento por parte de profissionais da documentação.
Podem ser encontradas como parte de processos integrantes de séries arquivísticas e, como tais, preservadas nos arquivos, embora sua forma de agrupamento mais habitual seja a coleção e, nesse caso, são encontradas tanto em arquivos, como em centros de documentação, bibliotecas e museus. (Heredia Herrera, A. A fotografia e os arquivos Revista Photo & Documento, 2016, 2) 

Anexo ao parágrafo 3 
O texto transmite o tema da fotografia na Arquivologia espanhola, a partir do trabalho de uma de suas mais célebres expoentes. Era uma conferência que estava esquecida pela bibliografia da área, que agora está sendo difundida, de uma maneira: cópia a cópia, isso há mais de 15 anos, entre diversos pesquisadores de fotodocumentação. Apresenta uma abordagem precisa sobre os documentos fotográficos nos arquivos, demarcando seu arcabouço conceitual, sob a ótica dos princípios arquivísticas. Simultaneamente, reconhece a realidade das coleções fotográficas e a necessidade de tratamento técnico, apresentando os resultados de um censo preliminar realizado em Andaluzia para averiguar a ocorrência de fotografias em diferentes tipos de instituição custodiadora.


O texto revela a questão da presença da ausência de elementos nos registros fotográficos e o trabalho inerente na sua preservação.


Antônio Carlos Britto acbtto@gmail.com

Alguns apontamentos sobre "Teoria do Conceito" de Ingetraut Dahlberg


                                                                                                               Por Jordana Padovani



O artigo Teoria do Conhecimento, de Ingetraut Dahlberg, discutido na matéria Gestão de Documentos Fotográficos, versa sobre as questões relacionadas à formulação de conceitos, como eles são construídos e de que forma são utilizados para construção da ciência.
                                                               
Para iniciar, pontuemos a questão mais importante considerada pelo autor: conhecimento é linguagem. O que se pode inferir a partir disto? Que a linguagem é uma expressão dos pensamentos e que através desta expressão construímos o processo do conhecimento.

No texto, na página 101, o autor explicita como se constrói conceitos através da linguagem,

“Podemos então dizer que a linguagem constitui a capacidade do homem designar os objetos que o circundam assim como de comunicar-se com os seus semelhantes...As linguagens utilizadas nas necessidades da vida diária denominam-se linguagens naturais. Além destas, o homem criou outras, chamadas linguagens especiais ou linguagens formalizadas (...)”.

A observação do que nos cerca faz com que desenvolvamos a linguagem e a partir da linguagem criamos a nossa relação com o mundo e com os objetos que nos circundam. Temos alguns tipos de objetos, o primeiro tipo de objeto é o objeto individual, aquele que representa o aqui e o agora. O segundo tipo é o objeto geral, que cria conceitos a partir dos objetos individuais.


Desta forma, no nosso dia a dia criamos enunciados a partir daquilo que é individual e daquilo que é geral, e por consequência temos a construção dos conceitos. Entendemos os objetos a partir da observação, criando enunciados que tornam os objetos inteligíveis para nossa vida. Os enunciados são as referências dos elementos dos conceitos que criamos a partir do conhecimento e da observação. Alguns desses conceitos são individuais e outros são gerais. No dia a dia, expressamos nosso conhecimento através de conceitos gerais que podem acarretar em imprecisões, portanto sem grandes consequências. Entretanto, quando tratamos de ciência não há espaço para imprecisão, tem que se definir os conceitos de forma cuidadosa, com todas as suas características.

Consequentemente pode-se definir o conceito como a compilação de enunciados verdadeiros sobre determinado objeto, fixada por um símbolo linguístico. Como o autor frisa na página 102,

“Esse símbolo pode ser verbal ou não-verbal, ou seja, pode ser formado de sinais ou conjunto de sinais independentes das palavras”.

O próprio conceito do CONCEITO é baseado na construção dos enunciados que representam o que cada objeto significa. Isto pode se dar através da apresentação de características especificas do objeto ou através da explicação do que é este objeto. Cada enunciado representa um predicado do objeto, partindo do que é mais geral ao mais específico.

Assim, criam-se categorias, hierarquias funções, relações, intenções e extensões e espécies. Tais divisões fazem com que o conceito se torne aquilo que é mais importante para a ciência, que é a sua precisão.

Finalizando os conceitos precisam ser definidos para criar o embasamento teórico que a ciência exige para a descrição do mundo que nos cerca. A definição do conceito pode ser nominal ou real, expressando desta forma o que realmente o objeto representa. Na sua definição real, o conceito pode representar realidades simples ou complexas, criando assim a própria base para uma teoria do conhecimento que expresse a realidade.


Referência:
DAHLBER,I. Teoria do Conceito. Ciência da Informação, Brasilia, v.7,n.2,p.101-7, 1978.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

El contexto archivístico como directriz para la gestión documental de materiales fotográficos de archivo - André Porto Ancona Lopez

Por Rafael Dias da Silva

Sobre o artigo, que será discutido na matéria Gestão de Documentos Fotográficos, a ideia é apresentar 3 pontos que nos chamaram mais a atenção. Esses pontos deverão ser postados no Blog do GPAF e debatidos em sala de aula.

Resumo:



Dadas as especificidades dos documentos imagéticos, o autor propõe algumas diretrizes para o gerenciamento documental de materiais de arquivos fotográficos. A dificuldade de recompor os motivos da produção documental leva a que vários modelos atuais partam das informações visuais como referenciais para a organização documental, desconsiderando os dados arquivísticos. Caso o documento disponível não seja adequadamente contextualizado, o valor probatório dos documentos de primeira e segunda idade pode ser comprometido, assim como o acesso aos documentos permanentes. Autores consagrados destacam a necessidade de contemplar dados geracionais para que não ocorra a perda da autenticidade do registro fotográfico. Para tornar o gerenciamento de documentos do arquivo fotográfico de arquivo mais eficiente, tenta-se relacionar no projeto DIGIFOTO/CNPq, elementos de informação visual (apoiados em referências de Panofsky), com dados de organicidade arquivística. Os princípios do DIGIFOTO devem ser sistematizados em um sistema eletrônico para registro, gestão, descrição - inspirada na norma Isad (g) - e acesso a materiais de arquivo.


INFORMAÇÃO FOTOGRÁFICA E DOCUMENTO DE ARQUIVO FOTOGRÁFICO

Torcida de Futebol
Detalhe da faixa


Este documento é um recorte de jornal que faz parte da coleção pessoal do Sr. Emiliano de Andrade. Ele está localizado na sua carteira juntamente à seus documentos pessoais - Carteira de Identidade, Carteira de Motorista, etc. - ao lado de outros de natureza afetiva, como fotografia da esposa, do neto, etc. O recorte - como documento do Sr. Emiliano - é único, apesar de as informações veiculadas (a imagem) serem apresentadas como uma forma de reciclagem. De fato, o documento de interesse do historiador do período após 1964 é a notícia do jornal, associada à imagem que o acompanha, e não o recorte do Sr. Emiliano, apesar de ser portador de uma imagem tecnicamente idêntica. A importância da notícia como evento jornalístico - foi a primeira manifestação a favor da anistia feita por uma torcida de futebol, uma das maiores do Brasil - geralmente se destaca da função exercida pelo documento nas atividades do titular do acervo.

A mesma imagem foi usada para criar documentos diferentes, com diferentes funções e propriedade. A tabela abaixo exemplifica as transformações produzidas na imagem do ponto de vista do contexto documental:


Diferentes contextos da imagem da torcida de futebol

A imagem da torcida do Corinthians representa uma informação que foi reproduzida em diferentes documentos desde a sua criação até a reprodução do recorte neste trabalho. Em cada um desses momentos, a informação primária permanece constante; a imagem em si se mantém praticamente inalterada, exceto por algumas modificações em sua resolução gráfica. No entanto, em cada caso, ele integra um novo documento, com funções e direitos diferenciados (o que é significativo para a contextualização documental). Apresenta também mudanças no suporte documental (negativo, positivo, fotolito, papel de jornal, disco magnético, papel alcalino), na técnica de reprodução (fotografia, impressão gráfica, impressão computadorizada) e na espécie documental.

A DESCRIÇÃO ARQUIVISTA E ISAD (g)

A Norma Geral Internacional de Descrição Arquivística, mais conhecida por seu acrônimo, Isad (g), é o resultado de uma tentativa de estabelecer um padrão mundial para descrição de arquivo pelo Conselho Internacional de Arquivos (CIA). Hoje, e principalmente devido ao grande avanço da Internet, a disseminação e discussão da norma tem sido bastante extensa. Em vários sites, como o do Arquivo Nacional ou o da Associação de Arquivistas de São Paulo (Arq-Sp), divulgam um grande número de textos e informações arquivísticas, permitindo uma melhor divulgação de materiais normativos e, portanto, uma discussão mais profunda entre o crescente número de especialistas e técnicos. No Brasil, o Conselho Nacional de Arquivos (Conarq) criou, em setembro de 2001, a Câmara Técnica de Normalização da Descrição Arquivística (CTNDA), com o objetivo de desenvolver padrões nacionais para a aplicação da Isad (g), que culminou na publicação de uma norma brasileira, a Nobrade, em 2006.

O PROJETO DIGIFOTO / CNPq E A PROPOSTA DE ISADFOTO

O projeto "Mapeamento e digitalização de documentos fotográficos de Maringá e arredores", DIGIFOTO-CNPQ, foi desenvolvido pelo Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá (DHI-UEM), em colaboração com o Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília (CID-UnB), recebendo apoio financeiro do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A pesquisa, realizada entre agosto de 2003 e janeiro de 2006, analisou coleções fotográficas nas cidades de Maringá, Cianorte, Santa Fé e Itambé, referentes à região norte do Estado do Paraná, Brasil, posteriormente efetuando a digitalização de uma parte das imagens presentes nos conjuntos de documentais localizados. A proposta tentou inter-relacionar os registros fotográficos da memória urbana com os das memórias pessoais e os das memórias políticas. Dessa forma, foram mapeados os dados das instituições com potencial de pesquisa na região e em cada uma delas foram destacados os conjuntos documentais de possível interesse. Tais dados levaram à seleção final dos documentos que seriam digitalizados. Note-se que em nenhum momento foi buscada uma dimensão mais abrangente e universal. As fontes foram escolhidas subjetivamente, dependendo das pesquisas históricas que estavam sendo desenvolvidas. Nesse sentido, foram feitas tentativas para apontar sistematicamente várias informações que podem servir de ponto de partida para outras pesquisas, seja pelo uso das mesmas fontes ou pela extensão de dados, com novas instituições e/ou conjuntos e/ou imagens digitalizadas.

A proposta de descrição de materiais de arquivo fotográfico tentou contemplar as especificidades desse material, principalmente no que se refere à articulação entre as instituições (ou detentores pessoais), os cenários, as atividades e os documentos fotográficos. O resultado final é mais do que um instrumento de pesquisa, reflete o desenvolvimento inicial de uma metodologia para o tratamento da informação fotográfica. Essa metodologia visa construir uma solução prática, em termos de inovação, para a relação tensa entre a origem do arquivo e a descrição do conteúdo, que há muito tempo é discutida na literatura existente sobre o assunto. O banco de dados buscou enriquecer os elementos informativos fundamentais para uma correta contextualização e uma maior compreensão das fontes documentais pelo pesquisador que as utiliza, como pode ser visto abaixo, na reprodução de um registro:

Reprodução da ficha do banco de dados DIGIFOTO/CNPq


Uma vez finalizado o DIGIFOTO / CNPq, inicia-se o ISADFOTO, que pretende incorporar as diretrizes internacionais proclamadas pela Isad (g), encaradas como um formato de saída de informações relevantes dos instrumentos tradicionais de pesquisa. A relação entre Isad (g) e os instrumentos de pesquisa pressupõe uma revisão dos conceitos de inventário e catálogo e, no caso de documentos fotográficos de arquivo, uma rediscussão sobre a diplomática e tipologia desse material. Como resultado principal, o ISADFOTO sugere a elaboração de uma proposta, a partir da experiência anterior, capaz de relacionar as especificidades do documento fotográfico com os princípios arquivísticos. O resultado deverá ser apresentado na forma de um aplicativo que concilie as propostas da norma internacional com os fundamentais dados contextuais exigidos pelos tradicionais instrumentos arquivísticos de pesquisa.

Referência:

LOPEZ, A. El contexto archivístico como directriz para la gestión documental de materiales fotográficos de archivo. Universum, Talca, v.23, n.2, p. 12-37, 2008. Disponível em: <https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?pid=S0718-23762008000200002&script=sci_arttext> Acesso em 09 de setembro de 2019.

terça-feira, 3 de setembro de 2019

Contextualización archivística de documentos fotográficos - André Porto Ancona Lopez

Beto Monteiro - 2/2019

Para fomentar o debate sobre o conceito da gênese da informação, destaco três partes do artigo: LOPEZ, A. Contextualización archivística de documentos fotográficos. Alexandria: revista de Ciencias de la Información, ano V, n.8, jan./dez. 2011.

Resumo do artigo:


O artigo se propõe a discutir algumas questões relacionadas com a contextualização de documentos fotográficos de arquivo, que geralmente tem seu sentido administrativo original deturpado por estar constituído em acervos de imagens não assumidas como tal. O texto começa em situação específica ocorrida no Arquivo de Negativos da cidade de São Paulo, no final do século XX, como base de análise para questões gerais que incluem contextualização de arquivos de acervos fotográficos. Para concluir, apresenta-se uma proposta instrumental, do ponto de vista da arqueologia, para que as características administrativas dos documentos fotográficos de arquivo possam estar presentes.
1.(P. 6) La reproducción de imágenes fotográficas de la ciudad de São Paulo a través del Departamento/Secretaría de Cultura fue una tarea constante, lo cual habría facilitado que se considerase como titular institucional al propio órgano. Sin embargo, la falta de un conocimiento cabal sobre las obras de dicho organismo –resultante de la ausencia de informaciones archivísticas–no posibilitó determinar con precisión qué documentos reproducidos de particulares podrían entenderse como productos institucionales y cuáles como colecciones privadas.

2.(P. 13) Un negativo representa una etapa diferente en la génesis documental con respecto a un positivo de contacto, una ampliación o un póster. La diversidad es semejante a la que se encuentra, en los documentos textuales, entre un borrador, un esquema y un informe. El negativo es una primera forma de registro de la imagen fotográfica pero, como no se puede trabajar directamente con él, resulta necesario hacer una ampliación (o por lo menos un positivo de contacto) para visualizar mejor la imagen.

3. (P. 14) En el caso de los documentos imagéticos digitales, la organicidad-que puede traducirse en inglés por la sugerente expresión archival bond- es condición sine qua non para que los documentos de archivo sean efectivamente de archivo y no apenas bonitas colecciones de imágenes, para que no se reproduzca electrónicamente el error cometido por el Archivo de Negativos de São Paulo.
Referência:
LOPEZ, A. Contextualización archivística de documentos fotográficos. Alexandria: revista de Ciencias de laInformación, ano V, n.8, jan./dez. 2011. Disponível em: http://revistas.pucp.edu.pe/index.php/alexandria/article/view/213/207.

O conceito de informação - Rafael Capurro; Birger Hjorland

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Como parte da atividade proposta na Disciplina Gestão de Documentos Fotográficos do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília (UnB) são apresentados abaixo alguns trechos do artigo O Conceito de Informação (CAPURRO; HJORLAND, 2007) para serem discutidos em sala de aula.

Introdução

O conceito de informação como usado no inglês cotidiano, no sentido de conhecimento comunicado, desempenha um papel central na sociedade contemporânea. O desenvolvimento e a disseminação do uso de redes de computadores desde a Segunda grande Guerra mundial e a emergência da ciência da informação como uma disciplina nos anos 50, são evidências disso. Embora o conhecimento e a sua comunicação sejam fenômenos básicos de toda sociedade humana, é o surgimento da tecnologia da informação e seus impactos globais que caracterizam a nossa sociedade como uma sociedade da informação. (P. 149)

Para uma ciência como a CI, é sem dúvida importante a forma como seus termos fundamentais são definidos e, assim como em outros campos, na CI a questão sobre como definir informação é freqüentemente levantada. Este artigo é uma tentativa de revisar o status do conceito de informação em CI, com referência também a tendências interdisciplinares. No discurso científico, conceitos teóricos não são elementos verdadeiros ou falsos ou reflexos de algum outro elemento da realidade; em vez disso, são construções planejadas para desempenhar um papel, da melhor maneira possível. Diferentes concepções de termos fundamentais, como informação, são, assim, mais ou menos úteis, dependendo das teorias (e, ao fim, das ações práticas) para as quais espera-se que dêem suporte. Na seção de abertura, discutimos o problema da definição de termos a partir da perspectiva da filosofia da ciência. (P. 150)

Dependência teórica dos termos científicos

A palavra informação - e combinações como recuperação de informação e centro de informação - tem, definitivamente, contribuído para elevar a opinião pública sobre o trabalho da biblioteca e da documentação, que é geralmente tido como sendo desinteressante, poeirento e distante do que realmente está acontecendo na sociedade. Talvez fosse sábio deixar a palavra informação lá, se não fosse pelo fato, já mencionado, de que várias tentativas têm sido feitas para definir informação como um termo formal, relacionado ao trabalho com documentação e informação e, mesmo, para defini-la como quantidade mensurável, correspondendo a questões do tipo: Quanta informação foi recuperada pela busca? (P. 154)

Informação como um conceito interdisciplinar

Em seu livro seminal The study of information: interdisciplinary messages, Machlup e Mansfield (1983) coletaram visões chave sobre a controvérsia da interdisciplinaridade em ciência da computação, inteligência artificial, biblioteconomia e CI, linguística, psicologia e física bem como nas ciências sociais. O próprio Machlup (1983, p. 660) discorda do uso do conceito de informação no contexto de transmissão de sinais, os sentidos básicos da informação em sua visão referem-se todos a dizer alguma coisa ou sobre alguma coisa que está sendo dita. A informação está dirigida para mentes humanas e é recebida por mentes humanas. Todos os outros significados, inclusive seu uso com relação a organismos não humanos, bem como à sociedade como um todo, são, de acordo com Machlup, metafóricos e, como no caso da cibernética antropomórficos. (P. 160)
Capurro (1996) define informação como uma categoria antropológica que diz respeito ao fenômeno de mensagens humanas, cujas estruturas verticais e horizontais estão relacionadas ao conceito grego de mensagem (angelia), bem como ao discurso filosófico (logos). (P. 161)

O conceito de informação nas ciências naturais

Informação, a primeira vista, é algo que flui entre um emissor e um receptor. Mas, a definição de informação de Shannon é quantitativa no que diz respeito a seleções possíveis em um repertório de símbolos físicos. É, de fato, como Underwood (2001) observa, uma teoria de transmissão de sinal ou mensagem, não de transmissão de informação. O modelo de Shannon de comunicação (Figura 1) inclui seis elementos: uma fonte, um codificador, uma mensagem, um canal, um decodificador e um receptor (SHANNON, 1948). (P. 163)




De modo estrito, nenhuma informação poderia ser comunicada entre um emissor e um receptor, porque esta teoria não diz respeito à comunicação de uma mensagem significativa, mas, em vez disso, à reprodução de um processo de seleção. (P. 163)

O conceito de informação nas ciências humanas e sociais

[...] observamos que Shannon conservou um aspecto básico do moderno conceito de informação, no sentido de comunicação de conhecimento, ou seja, seleção. Quando estamos lidando com o significado de uma mensagem, discutimos interpretação, isto é, a seleção entre as possibilidades semânticas e pragmáticas da mensagem. Interpretar uma mensagem significa, em outras palavras, introduzir a perspectiva do receptor - suas crenças e desejos, torná-lo um parceiro ativo no processo de informação. (P. 169)
A informação não é uma propriedade de fatos, mas é dependente do contexto e das limitações. Existe uma diferença entre informação pura e informação incremental. (P. 170)
[...] se a informação for vista como algo existindo independentemente do conhecimento do receptor, isto não implica necessariamente que a informação seja algo absoluto. A teoria situacional concebe a informação em relação a situações com suas restrições e contingências. A informação é um conceito relacionado ao sistema (OESER, 1976, II, p. 86). Algumas teorias clássicas da informação a definem com relação à mudança no modelo de realidade do receptor; isto é, como um conceito pragmático (MACKAY, 1969; MORRIS, 1955). (P. 172)

Informação em CI

Como vimos, a palavra informação tem uma história muito mais rica que os campos de investigação conhecidos como biblioteconomia, documentação e CI, que são, em grande medida, produtos do século XX. Acompanhar a influência deste termo, e da rede complexa de disciplinas ligadas a ele é, de fato, difícil. Machlup e Mansfield (1983, p. 22), sugeriram que "sentido amplo a CI é um agrupamento de pedaços coletados em uma variedade de disciplinas que falam de informação em um de seus muitos significados". (P. 177)

Recuperação de informação e o conceito de informação

O termo recuperação da informação - RI - é possivelmente um dos termos mais importantes no campo conhecido como CI. Uma questão crítica é, portanto, saber por que e em que sentido a RI usa o termo informação. A RI pode ser vista tanto como um campo de estudo quanto como uma entre as muitas tradições de pesquisa relacionadas ao armazenamento e recuperação de informação6. Embora o campo seja muito mais antigo, a tradição remonta ao início dos anos 60 e aos experimentos de Cranfield que introduziram medidas de revocação e precisão. Estes experimentos classificam-se entre os mais famosos em CI e continuam, hoje, nos experimentos TREC (Text Retrieval Conference). (P. 179)

Conclusão

Existem muitos conceitos de informação e eles estão inseridos em estruturas teóricas mais ou menos explícitas. Quando se estuda informação, é fácil perder a orientação. Portanto, é importante fazer a pergunta pragmática: "Que diferença faz se usarmos uma ou outra teoria ou conceito de informação?" Esta tarefa é difícil porque muitas abordagens envolvem conceitos implícitos ou vagos que devem ser esclarecidos. (Tal esclarecimento pode provocar resistência porque informação é muito freqüentemente usada como um termo para aumentar o status, com pouca ambição teórica.) Deveríamos também perguntar a nós mesmos o que mais precisamos saber sobre o conceito de informação a fim de contribuir para maior desenvolvimento da CI. (P. 193)
A medida que os sistemas de informação tornam-se mais globais e interconectados, a informação implícita é, muitas vezes, perdida. Esta situação desafia a CI a ser mais receptiva aos impactos sociais e culturais dos processos interpretativos e, também, às diferenças qualitativas entre diferentes contextos e mídias. Esta mudança significa a inclusão dos processos interpretativos como uma condição sine qua non dos processos de informação. (P. 194)
Como temos demonstrado, esta tarefa é essencialmente multi e interdisciplinar. A construção de redes é basicamente um processo de interpretação. A construção de uma rede científica como uma atividade auto-reflexiva pressupõe o esclarecimento de conceitos comuns. Um destes conceitos é informação. (P. 194)

Referência:

CAPURRO, Rafael; HJORLAND, Birger. O conceito de informação. Perspectivas em Ciência da Informação,  Belo Horizonte ,  v. 12, n. 1, p. 148-207,  abr.  2007 .   Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-99362007000100012&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em  03  set.  2019.  http://dx.doi.org/10.1590/S1413-99362007000100012.

Ilusões, padrões e imagens: uma perspectiva transcultural - Jan B. Deregowski


Por José Henrik Zomer


Em atendimento a proposta de discussão de pontos importantes de artigos sobre Gestão de Documentos Fotográficos, este post discorre sobre o capítulo 2 do livro em epígrafe.

Neste capitulo o autor aborda especificamente o tema "Ilusão" sob 04 (quatro) perspectivas, a saber:

(1) The Horizontal-Vertical illusion - A ilusão horizontal-vertical

(2) The Muller-Lyer illusion – A ilusão de Muller-Lyer

(3) The Sander parallelogram – O paralelogramo de Sander

(4) The perspective illusion in various forms including the Ponzo illusion – A ilusão de perspectiva de várias formas, incluindo a ilusão de Ponzo



Para corroborar no encaminhamento proposto, resgata-se aqui ilustrações apresentadas pelo autor aos tópicos acima relacionados, reproduzidas abaixo:


A Ilusão Horizontal-Vertical





A perspectiva horizontal-vertical nas ilusões de paralelogramo de Muller-Lyer e Sander





Ilusões de perspectiva: a ilusão de Ponzo




Ademais, o autor nos apresenta algumas objeções para validar a hipótese de Carpentered World por ser necessário mais de um objeto para a fundamentação desta hipótese, a saber:












 

Ilusões de perspectiva

A ilusão de Poggendorff


Referências:

DEREGOWSKI, Jan. B. Illusions. Illusions, patterns and pictures: a cross-cultural perspective. London: Academic Press, 1980; p. 9-50.