Por Rinaldo Morelli
A fotografia traz incrustada em sua história a ilusão de ser um reflexo do real. Este é um mito que já caiu por terra, mas ainda existem ecos que insistem em enquadrar e enclausurar esta linguagem sem reconhecer sua melhor aptidão que é a de interpretar a realidade.
O fotojornalismo ainda respira estes ares de ilusão de ser a fotografia a testemunha dos fatos e de contar por meio da imagem fotográfica uma verdade, apesar de toda a subjetividade existente na imagem, na intenção do autor e na interpretação do que vemos uma vez que a fotografia permite múltiplas leituras de sua mensagem.
Dentro deste cenário onde o fotojornalismo se insere, a fotografia abaixo (foto 1) foi feita em uma reunião da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Legislativa do Distrito Federal em 24 de março de 2009.
foto 1: Rinaldo Morelli/CLDF |
Em uma primeira leitura vemos, são dados conhecidos, os deputados distritais sentados à mesa, os assessores em pé ao fundo, e no canto esquerdo um servidor responsável por secretariar a reunião.
O chefe do Setor de Divulgação solicitou que fossem apagados os assessores que estão na imagem e portanto, estavam presentes à reunião e usando sua prerrogativa de editor também mudou o enquadramento da imagem, fazendo uma edição, uma leitura, uma nova interpretação da imagem.
A fotografia adulterada (foto 2) foi publicada no site da instituição, junto ao texto jornalístico, sendo porém uma imagem que não condiz com o fato fotografado e presenciado pelo fotógrafo. A fotografia publicada junto à matéria jornalística de cobertura sobre aquela reunião fala de um momento que não ocorreu.
Foto 2: Adulteração da foto 1, feita pela Secom/CLDF
A questão que surge diante deste fato é um diálogo entre a história contada pelas fotografias feitas da reunião, o "isto foi" a que se refere Roland Barthes, em seu livro A Câmara Clara, e o resgate da matéria publicada no site quando for arquivada e indexada dentro do arquivo da produção jornalística da Casa.
Caso seja analisado o conjunto de imagens em comparação com o material publicado poderá surgir a dúvida sobre a manipulação da imagem.
Ao analisarmos apenas a matéria jornalística no site a questão da manipulação não será abordada. Teremos um documento, uma matéria jornalística, onde a fotografia não corresponde ao fato ocorrido, não é
mais um índice, uma imagem que pertence agora ao universo da ilustração,
relativizando as pretensões do jornalismo factual de ser um testemunho da história.
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ResponderExcluirCaro Rinaldo, acho que a sequências das imagens sugerem várias questões para nossas discussões sobre a informação em uma fotografia, ou ilustração "fotográfica" no melhor dos sentidos, e, consequentemente, a ideia da fotografia ser um documento. Enfim, caberia questionar, ou problematizar o estatuto das imagens "manipuladas" como sendo "fotografia". Segundo, seria interessante problematizar, também, o caráter jornalístico do trabalho da assessoria e seu compromisso com os fatos de interesse público. E mais, se as matérias publicadas no sítio da CLDF não são objetos de arquivo e nem as fotografias produzidas, que fatos administrativos elas estariam servindo de prova? O que estaríamos testemunhando?
ResponderExcluirBelos e instigantes questionamentos, meu caro Eduardo Duda Bentes. Pelo pouco que tenho visto em nossas leituras, uma fotografia não é um documento necessariamente, ela pode ser um documento se assim for entendida em um certo contexto e premissas que passam obrigatoriamente por uma importância atribuída. A manipulação como processo criativo creio ser super pertinente. Já em um contexto de ambiente jornalístico é, a meu ver, uma contradição uma vez que o jornalismo aposta e se encora na fotografia com testemunha dos fatos. Na CLDF a fotografia no Comunicação Institucional é parte apenas das notícias publicadas no Portal da CLDF. Manipuladas ou não é assim que entrará para história da instiuição, casa esse material possa ser recuperado no futuro, o que ahca improvável uma vez que toda a memória das notícias publicadas está apenas em HTML para cesso "õm laini"[sic].
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