sexta-feira, 29 de abril de 2016

Excertos de Gombrich, Dahlberg, Lopez e Heredia Herrera

Dando continuidade às discussões sobre "organização da informação" (aulas 22 e 29 abr) foram selecionados alguns excertos dos textos escolhidos para o debate.

Duda Bentes:
GOMBRICH, E. Condições da ilusão. In: Arte e ilusão: um estudo da psicologia da representação pictórica. Trad. Raul Sá Barbosa. São Paulo: Martins Fontes, 1986;  cap 7, p. 175-209
"É o poder da expectativa, mais do que o poder do conhecimento conceitual que molda o que vemos, na vida não menos que na arte." (p. 193)
"A possibilidade de que todo reconhecimento de imagens esteja ligado a projeção e antecipações visuais é reforçada pelos resultados de experiências recentes [...] Sem essa tendência que temos a ver um movimento potencial sob a forma de antecipação, os artistas nunca teriam sido capazes de criar a sugestão de velocidade em imagens estacionárias." (p. 196)
 "Sem saber, procedemos a uma rápida sucessão de testes de consistência, e escolhemos a cada vez a interpretação que faz sentido." (p. 199) [...] "Onde quer que a imagem seja usada para a comunicação, podemos estudar essa avaliação da intenção provável do autor e os testes de consistência que levam à interpretação e ilusão." (p. 201)

Bruno Carvalho Souza:
DAHLBERG, I. Teoria do conceito. Ciência da Informação, Brasília, v.7, n.2, p.101-7, 1978. (Acesso aqui).
"Podemos então dizer que a linguagem constitui a capacidade do homem designar os objetos que o circundam assim como de comunicar-se com os seus semelhantes."
"(...) só é possível proceder a essa decomposição do conceito coletando-se os enunciados verdadeiros que sobre determinado objeto se podem formular. Pode-se então dizer que os elementos do conceito são obtidos pelo método analítico—sintético. Cada enunciado apresenta (no verdadeiro sentido de predicação) um atributo predicável do objeto que, no nível de conceito, se chama característica. Muitas vezes não se trata de um atributo a que corresponde uma característica mas de uma hierarquia de características, já que o predicado de um enunciado pode tornar-se sujeito de novo enunciado e assim sucessivamente até atingirmos uma característica tão geral que possa ser considerada uma categoria. (Entende-se aqui por categoria o conceito na sua mais ampla extensão)."
"Quando a comparação entre as características dos conceitos mostra que dois conceitos diferentes possuem uma ou duas características em comum, então há que falar de relações entre tais conceitos..."
Elainte Torres, 2016: "Iniciando um Projeto". In: Imagine: gênese da informação

 Alice Ferreira Lopes:
LOPEZ, A. El contexto archivístico como directriz para la gestión documental de materiales fotográficos de archivo. Universum, Talca, v. 23, n. 2, 2008. (Acesso aqui).
''La archivística prioriza la dimensión del documento como índice de la actividad que lo generó. Así, lo que el documentalista busca en la interacción del referente con la imagen, el archivero lo busca en la integración de la función generadora con el documento. En este último caso, la información imagética del referente se muestra apenas como una característica más. La caracterización del registro fotográfico como índice implicaría que él, necesariamente, representase algo que sea identificado por el documentalista''
''La inserción de los documentos fotográficos y de los demás documentos imagéticos en la clasificación archivística no significa desconsiderar sus especificidades. Significa, sí, entender las particularidades del documento archivístico como más importantes que las peculiaridades de cada modalidad de documento (documentos fotográficos, por ejemplo). Se trata de agregar documentos en una generalidad común y, dentro de ésta, comprender las especificidades.'' 
Natália Saraiva, 2016: "Organizando a direção". In: Imagine: organização da informação.

Elaine Torres Américo:
HEREDIA HERRERA, Antonia. La fotografía y los archivos. In: FORO IBEROAMERICANO DE LA RÁBIDA. Jornadas Archivísticas, 2, 1993, Palos de la Frontera. La fotografía como fuente de información. Huelva: Diputación Provincial, 1993. 
"La fotografia como el documento textual -que puede o no ser documento de archivo— puede pretender reproducer una realidad, en cuyo caso si cabe hablar de -certificado de presencia-, o bien crear, inventando, un mundo nuevo convirtiéndose en una forma de expresíon de creatividad humana"
"...De aqui su doble dimension informativa y artistica y de aqui tambien las actitudes ante la ac­ción de su depósito en instituciones tradicionales (archivos, bibliotecas) o en museos o instituciones culturales";
" Al decir 'archivos fotográfico' se nos plantea de nuevo el problema denominativo y conceptual apuntado al principio. 'Archi­vos fotográficos', 'fondos fotográficos' son denominaciones que entran en colisión con la terminología archivística"

4 comentários:

  1. Parece-me clara a relação entre as noções de conceito de Dahlberg e a abordagem ontológica utilizada na Ciência da Informação. Dahlberg entende um dado conceito, simplificadamente, como o conjunto dos seus atributos ou propriedades; a ontologia, por outro lado, é utilizada para a construção de conceitos a partir das relações entre Entes. As duas ideias parecem ser bastante próximas, diferindo talvez por questões metodológicas ou por suas origens. O conceito de Dahlberg surgiu como evolução natural da linguagem humana, enquanto a ontologia tem origem filosófica, partindo da necessidade de entender os o sentido das coisas. Na filosofia, o termo se aplica no nível mais alto do discurso, ou seja, na busca por conceitos universais, e se escreve com "O" (maiúsculo) -- "Ontos" tem o significado de Entes, ou seja, a Ontologia trata do Estudo dos Entes.

    Outro aspecto interessante é que, em ambas as abordagens, é condição necessária o estabelecimento do que é "verdade", ou seja, há que se haver um consenso entre os observadores de determinado fenômeno em relação ao que se pode chamar, sem nenhuma ambiguidade ou dúvida, de verdadeiro. Na Ontologia, isso é chamado "compromisso ontológico", sem o qual não é possível se chegar a um entendimento compartilhado sobre determinado Ente ou conceito.

    Qualquer que seja a abordagem, a relação com o ciclo da informação (e com o Imagine) parece ser bastante óbvia, especialmente na etapa de gênese da informação. Tudo começa com o conceito...

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  2. O texto de Gombrich discute um dos pontos mais fundamentais na percepção humana do mundo, que é a capacidade de perceber padrões. Na verdade, pode-se considerar até mesmo um vício. Enxergamos coisas onde elas não existem, completamos a informação fragmentada que o mundo nos oferta e imputamos sentido, conforme nossas experiências prévias, que serviram de base para a construção do nosso mundo mental.

    Essa habilidade foi fundamental no desenvolvimento da espécie, por questão de sobrevivência -- a identificação de padrões (em árvores, no campo, nas águas) permitiu ao ser humano perceber perigos a distâncias suficientes para fugir ou atacar. Atualmente, fazemos uso da identificação de padrões de forma absolutamente natural. Não nos damos conta do trabalho do cérebro em interpretar o que é captado pelos nossos sentidos. De fato, o que percebemos é uma ilusão de mundo, um construto mental feito pela expectativa do que "deveria estar, deveria ser" e não um registro cru do que simplesmente "é".

    Por outro lado, não consigo imaginar outra maneira de "enxergar" o mundo sem essa capacidade de interpretação do nosso cérebro, por mais enviesada que às vezes possa ser. Alguém já tentou explicar para um cego de nascença o que é a cor branca?

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  3. Ao conviver com crianças e com a educação infantil é possível perceber o pensamento sincrético, diferente do pensamento do adulto já ''moldado.'' No pensamento sincrético infantil o ''arsenal'' de representações é mais perceptível, crianças, no geral, não estão munidas de uma alta carga de representações de conceitos, a visão é um pouco mais simples e nos deixa ver claramente o caráter representativo, como nos ensina Sanders Pierce o modo como algo precisa remeter a outra coisa para que a imagem seja formada em nossa mente. Ao descrever igualmente imagens fotográficas a uma pessoa que não enxerga podemos aferir ainda explicação de Vygotski sobre a representação para crianças especiais: muda o modo de organizar o processo, mas ainda assim há uma carga representativa.
    Crianças são um ótimo público para estudos sobre a Ciência da Informação, seus arranjos lógicos e pragmáticos podem nos conduzir a soluções muito práticas e diferentes do mundo adulto repleto de conceitos necessários, porém por vezes dogmáticos e limitadores, o movimento do pensamento infantil é bastante interessante, o adulto tende a ''camuflar'' o modo como representa o mundo.
    Há méritos no modo de organização da informação no mundo adulto, eles não devem ser diminuídos, porém outras possibilidades podem ser muito ricas e construtivas.
    Este vídeo, demonstra de forma prática os modos como se dão a representação na mente infantil:
    https://www.youtube.com/watch?v=1GOPR3h2LQ8

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  4. Cabe ressaltar que para Platão, na Teoria das Formas ou das Ideias, o mundo não pode ser explorado de modo eficiente a partir dos sentidos, mas deve ser analisado pelos ''óculos'' da razão, percebemos apenas formas de representação limitada, conceito este explorado no texto de Gombrich, há também a fala de Barthes em o óbvio e o obtuso que lista maneiras de ''moldar'' a fotografia, demonstrando que ela não corresponde a alguma realidade, mas como tudo o que fazemos, representa nosso modo de ver as coisas.

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