The Cliff of the Two-Dimensional World by Babak Anasori, Michael Naguib, Yury Gogotsi, and Michel W. Barsoum Copiado de Smithsonian.com |
Olhe com atenção para a imagem acima e tente adivinhar o local de onde a imagem foi registrada. Trata-se de uma fotografia eletrônica, analógica que, porém não representa uma paisagem do Grand Canyon ou nenhuma outra formação rochosa passível de escaladas ou simples admiração turística. O autor da imagem anota que a imagem remete à lateral de uma montanha em Utah, nos Estados Unidos. Como meu imaginário de alpinismo nunca foi além de filmes e algumas jornadas em regiões mais vegetalmente densas no Brasil, não posso deixar de "comprar" a ideia.
A imagem, no entanto, foi obtida por microscopia eletrônica aplicada a finas camadas de componentes de base de titânio. Cada "fatia" de "rocha" representa uma camada de apenas cinco átomos de espessura. Seus autores a incluíram no concurso mundial de imagens científicas da Revista National Science Foundation e de engenharia e ganharam o prêmio "Escolha do Público".
O episódio, além de nos alertar quanto às, sempre, imprecisas identificações de conteúdo, quando feitas por pessoas sem familiaridade com as ações geradoras das imagens abre interessante flanco para a discussão dos limites da compreensão dos documentos com equivalentes ao conteúdo manifestado. A imagem em pauta é a mesma (talvez com significativas variações de resolução) em pelo menos 7 contextos distintos:
- como registro experimental no laboratório dos autores, nesse caso sem nenhum finalidade estética;
- como cópia de tal registro, inscrita como documento original no concurso de imagens, nesse caso sem nenhuma finalidade científica experimental;
- como possível candidata à premiação ao ser difundida pela revista científica aos seus leitores e demais votantes;
- como registro de imagem premiada nos arquivos da revista promotora do concurso
- como registro de premiação recebida pelos elaboradores da imagem
- como imagem a ser comercializada para agências de notícias mundiais ao longo do mundo
- como cópia de tudo isso na presente postagem
Longe de representar uma excepcionalidade o exemplo acima é bastante corriqueiro nos arquivos de administrações com serviço centralizado de registro, armazenamento e divulgação fotográficas, como é o caso de assessorias de imprensa e secretarias de comunicação. Em diversos posts de pesquisa da equipe GPAF em Brasília, sobretudo relacionados ao CEDOC/UnB e ao Arquivo Público do Distrito Federal, pode-se notar como a organização, supostamente arquivística, erroneamente mescla documentos e funções distintas como se fossem únicos, relacionando-os apenas ao fotógrafo (como se ele fora o titular arquivístico) e ao conteúdo imagético produzido.
Do mesmo modo que elencamos, em uma breve reflexão, 7 contextos arquivísticos distintos para uma mesma imagem, a correta identificação e contextualização de fotos nas instituições mencionadas deveria fazer exercício similar e buscar compreender melhor os reais trâmites administrativos da produção institucional de documentos fotográficos.
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