terça-feira, 8 de outubro de 2019

A imagem - Eduardo Neiva Jr.


Beto Monteiro - 2/2019

Para fomentar o debate sobre o conceito da comunicação da informação, atividade desenvolvida pela disciplina Gestão de Documentos Fotográficos, do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Universidade de Brasília, destaco três momentos do livro intitulado “A imagem”, de Eduardo Neiva Júnior, lançado pela editora Ática, São Paulo, em 1986.

A forma da imagem    
1. (P.10) De que maneira o discurso e sua sequencia se compatibilizam com a imagem e sua configuração? Ainda é cedo para uma resposta definitiva. Mesmo correndo o risco de ser óbvio, prefiro dizer que imagem e discurso têm em comum a união indissolúvel de expressão e conteúdo.  
1.1 (P.11) A imagem, enquanto tal, dispensa a semelhança. O que se chama semelhança talvez seja mera familiaridade. As réplicas não surgem naturalmente, pois dependem de convenções de tal maneira interiorizadas que acreditamos na sua naturalidade inevitável. Graças às convenções, e apesar de sua inexistência enquanto coisas, podemos representar o que inexiste materialmente – por exemplo, dragões, unicórnios, fantasmas -, mas que se apresenta como imagem.  
A evidência, tipificada pela máxima “ver para crer”, caracteriza os signos visuais, enquanto os traços auditivos são menos discrimináveis; logo, exigem um grau maior de convencionalidade, o que não quer dizer que a imagem esteja livre de regras de constituição. É por exemplo dominante, na pintura ocidental, a regra de que os estímulos visuais devem ser entendidos através de sua relação com os objetos representados. Se não reconheço a referência, a frustração e a indiferença estragam a minha contemplação. Diante de um vácuo cultural, rejeito o que é percebido. 
2. (P.20) Uma senhora visita uma exposição de arte moderna e queixa-se de que nenhuma mulher real tem, como num quadro de Picasso, visto por ela, dois olhos oblíquos sobrepostos num mesmo perfil. Mesmo sem conhecer a distinção de Frege entre sentido e referência, o artista tem direito a responder que diante dos seus olhos não está uma mulher; trata-se de uma pintura. “A imagem não reproduz o visível; torna-se visível” (PAUL KLEE, 1973).  
Perspectiva 
3. (P.34) O ideal não é apenas enganar o olhar, mas colocar em ação uma cuidadosa estratégia de representação que, simultaneamente, iluda o olhar e a inteligência do espectador, lançando a visão contra o entendimento: um prazer perverso e vertiginoso.
Ilusão 
3.1 (P.48) Quando a relação entre imagem e coisa é imitativa, o suporte da representação funciona como um espelho, devolvendo, serenamente, a aparência do que é representado para o olhar. O espelho é uma metáfora idealizada do tipo de relacionamento que define a realidade. 
A imagem fotográfica 
3.2 (P.64) A fotografia transforma em cena o que vivemos. A eficácia social da foto é tanta que passamos a conduzir nossas vidas na lembrança da representação, como se fôssemos legitimados pelo registro do acontecimento. O ato de fotografar é obrigatório nos casamentos, batizados, comemorações e viagens; guardamos a foto da namorada na carteira; os estados civis são conservados em álbuns de família. Portanto, a fotografia sublinha a importância do momento: tudo que é importante deve ser fotografado. Deixamos de viver; posamos.

Referência:
NEIVA Jr., Eduardo. A imagem. São Paulo: Ática, 1986.

Um comentário:

  1. A partir das reflexões de Eduardo Neiva, é possível dialogar sobre vários temas. Chama atenção o que o autor alerta sobre a influência da fotografia nas relações sociais. Fica a pergunta: até onde a fotografia pode interferir positivamente e/ou negativamente nas relações sociais?

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