O clássico livro de Ray Bradbury, de 1951, depois transformado em filme por François Truffaut, em 1966, além de mostrar uma sociedade futurista, na qual os livros são proibidos, vai mais além ao eliminar por completo os registros textuais daquela sociedade. Algumas poucas passagens do filme, sutilmente, mostram documentos administrativos e revistas com total ausência de elementos textuais.
Arquivisticamente falando, será que é possível construir todo o registro administrativo das organizações, do Estado e da memória social sem textos? Para além da óbvia resposta negativa é importante refletir como as imagens, poderosas ferramentas da construção identitária, podem, em alguns casos serem a melhor opção possível para comunicar uma informação (como por exemplo nos cartões de segurança das aeronaves) ou mesmo para registrar um fato e produzir provas a partir dele (como por exemplo as multas de trânsito, "flagradas" por radares).
A reilitura do livro e o retorno ao filme podem ser atividades interessantes para a rediscussão das articulações entre texto e imagem, sob a ótica dos meios de comunicação e, principalmente, no caso dos arquivos, dos registros administrativos, como ilustram alguns fotogramas extraídos do filme de Truffaut.
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